A ideia de nomear Nelson Jobim para o Ministério da Defesa foi do próprio Lula e ainda no Governo Lula. As tais concessões para a governabilidade, um nome palatável para os militares, que a julgar pelo parecer da AGU – ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO – que os isenta de punição por tortura, estupros, assassinatos durante a ditadura militar, continuam como avalistas do arremedo de democracia que temos.
Toda aquela história de aliar-se ao PMDB para neutralizar tucanos e permitir avanços aqui e ali começa a desmanchar-se na falta de rumos do governo Dilma Rousseff, uma presidente perdida em meio ao volume de carimbos e caixas de clips em sua mesa. Até Olívio Dutra que por ser honesto e digno, viver do seu trabalho depois de ter sido deputado, prefeito, governador e ministro, virou bocó e “está é querendo aparecer”.
PT e PMDB neste momento somam-se ao PSDB no que há de mais perigoso para o Brasil (o que não significa todos os petistas, existem aqueles que vivem o primeiro momento, o do desencanto, a perplexidade). Uma aliança espúria onde figuras como Nelson Jobim e Moreira Franco participam do governo e Michel Temer abre um largo sorriso ao ouvir os versos e loas do ministro da Defesa ao ex-presidente Fernando Henrique.
O fato aconteceu numa solenidade onde se comemorava os oitenta anos do principal agente norte-americano no Brasil, FHC, evento onde José Serra (que deu um chega para lá em Alckmin e assumiu de novo o governo de São Paulo) baixou a borduna no governo.
Se tivesse caráter, não tem, é um trêfego, Jobim sairia da festa e entregaria seu pedido de demissão. Vai ser duro afastar o homem. Primeiro porque Dilma não tem estatura política para isso, é menor que o cargo que ocupa, segundo porque o PT chafurda-se – por seu comando que, curiosamente é formado pelas mesmas pessoas que o fundaram – na festa de fantasias que é o atual governo. Baile de máscaras.
Nelson Jobim foi designado ministro da Justiça no governo de FHC para comandar o trágico processo de privatização do País. A reação de setores do Judiciário, concentrada na juíza (hoje desembargadora) Salete Macolóes, que ia desmanchando por medidas liminares as trapaças no caso da venda da VALE, os riscos de derrota no STF – SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – levaram o então presidente a nomeá-lo para a corte suprema.
Ao assumir a magistratura, em seu discurso de posse, Nelson Jobim mostrou o tamanho de sua dignidade – invisível, pois não existe. Declarou-se “líder do governo na Casa. Uma das primeiras providências tomadas foi ao arrepio da lei afastar a juíza Salete Macalóes do feito em torno da VALE e arranjar um juiz dócil e “compreensível”.
Na segunda metade do governo Lula, segundo mandato, o ex-presidente entendeu de buscar Jobim para o Ministério da Defesa. Documentos já públicos do WIKILEALEKS mostram que Jobim era um dos interlocutores preferidos do embaixador dos EUA no Brasil e foi ele quem advertiu o diplomata sobre o “antiamericanismo” do chanceler de Lula, Celso Amorim e do ministro chefe da Secretaria Nacional de Assuntos Estratégicos Samuel Pinheiro Guimarães.
Dilma tomou posse e Jobim continuou ministro da Defesa (Defesa dos EUA e seus interesses), colocou o corrupto Moreira Franco no lugar de Samuel Pinheiro Guimarães e nomeou Anthony Patriot (supostamente diplomata brasileiro) para o lugar de Celso Amorim (que no ano de 2010 foi escolhido um dos dez mais importantes formuladores de política externa em todo o mundo).
Vai fazer o que agora, falo da presidente, depois de Jobim ter dito na festa de FHC que neste momento tem que “aguentar alguns idiotas”?
A impressão que tenho é que Dilma quando leu Lênin, se é que leu, o fez na versão “traduzida” por operadores de Wall Street com notas e comentários de George Walker Bush, Barack Obama e Hillary Clinton. Leu de cabeça para baixo.
Começou a privatizar aeroportos, portos, ameaça privatizar a frota nacional de petroleiros (por enquanto suspendeu o consórcio BRADESCO/SANTANDER articulado por Palocci, isso devido à repercussão negativa), vai financiar a fusão CARREFOUR/PÃO DE AÇÚCAR via BNDES, escancara o País para o agronegócio, não percebe a perspectiva de uma grave crise que se delineia na América Latina com a doença do presidente da Venezuela Hugo Chávez.
O risco, só o risco de Chávez ter que se afastar do governo de seu país, coloca um outro risco maior, o de um avanço sem tamanho dos norte-americanos e suas tropas de banqueiros, empresários (falidos e devedores) para os costumeiros saques/pirataria que praticam historicamente nesta parte do mundo. Consideram quintal e Patriot está pronto para recebê-los, Jobim vai receber a cruz de prata (mais alta condecoração do império terrorista).
O Brasil some na poeira do “capitalismo a brasileira” que Lula inventou – a definição é de Ivan Pinheiro, secretário geral do PCB – dilui-se em figuras como Nelson Jobim e no sorriso cínico de Michel Temer – o presidente de fato.
Só nesses seis primeiros meses de governo a política econômica de Dilma transferiu recursos astronômicos a bancos, 45% da receita orçamentária do Brasil vai pagar juros da dívida interna pública, cada vez mais atraentes, graças aos constantes aumentos da taxa via COPOM – CONSELHO DE POLÍTICA MONETÁRIA – um consórcio formado por banqueiros. Raposas tomando conta do galinheiro.
A nau de Dilma está sem rumo e o PT por sua cúpula e o bando de robôs chapa branca naufraga na adoração de figuras execráveis que jogaram o passado no lixo e segundo Jobim são “idiotas” a serem aturados.
Entrega-se a banda larga – fundamental ao processo de democratização das comunicações – às chamadas teles (campeãs de vigarismo no mundo do capitalismo). Não foi por outra razão que José Serra saiu da Transilvânia, reassumiu o governo de São Paulo (Alckmin é fantoche) e FHC posa de estadista.
A faixa presidencial de Dilma Rousseff é visível, faz parte do processo de retratos da presidente nas repartições públicas, a de Michel Temer, Jobim, toda a corja tucana, está guardadinha, mas é a que manda e determina.
Ou conserta o leme da nau, ou continuamos rumo ao passado. Entreposto do capital internacional, produtor de matérias primas (sobretudo o agronegócio) e voltamos ao berço esplêndido.
Os militares, no parecer da AGU estão isentos de sanções por todas as barbaridades que cometeram.
Continuam sendo os grandes fantasmas da democracia. Por baixo do uniforme da imensa maioria, aquela bandeirinha norte-americana que marines carregam nas mangas de suas camisas.
Ou Jobim sai, ou então o velho slogan de 1964, que precedeu o golpe – “chega de intermediários, Lincoln Gordon presidente” – vira “para que norte-americanos que falam português fluentemente se temos FHC e agora Jobim?”
Quem cunhou a expressão “chega de intermediários, Lincoln Gordon presidente”, foi o jornalista Hélio Fernandes, fica o registro.
Não vale reunir os “consultores do PT” e nem colocar a culpa no caráter e na dignidade de Olívio Dutra, isso é coisa de quem sobreviveu com anencefalia e acha que tudo se resolve numa rodada de chope.
E muito menos culpar a “esquerda” não petista. Soa como sermão de Edir Macedo.
Estão é trocando ouro por bugigangas.