Logo a seguir, “Commodities representam 71% do valor das exportações” mancheteia uma matéria que, no corpo, revela a fragilidade da operação – a maior parte está baseada em produtos, cujo preço não controlamos. Ou seja, se a crise da dívida norte-americana radicalizar por disputas eleitorais entre democratas e republicanos, nos Estados Unidos, e a China mudar o eixo do comércio internacional, diminuindo importações, olha nós, aí, no brejo.
O grave é que o porcentual de commodities sobre manufaturados aumentou na balança de exportações. Em relação ao ano passado, aumentaram 39,1%, enquanto os manufaturados subiram apenas 15,1%.
Resta o plano inferior da página: “Na Olimpíada, uma antevisão da crise grega”. Por que? Simples. Gastos iniciais de US$ 1,5 bilhões, terminaram em US$ 11,9 bi, oficialmente, porque há indícios, diz o texto, de que possa ter chegado a 30 bilhões de Euros – mais que US$ 40 bilhões.
Mas vamos tratar especificamente da manchete principal, porque a lusitana ainda está girando, e a torcida é grande para que o sócio francês de Diniz, o Casino, consiga melar a baderna.
Para quem gerou um “sequestro” suspeitosíssimo na véspera do segundo turno em 1989, com Lula tendo grandes chances de vitória comprometidas pelas suspeitas de ligações políticas com os sequestradores, esse neopetista realmente progrediu. Virou, junto com Gerdau, os controladores do Bradesco e Itaú; junto com os predadores do agronegócio, um dos principais “aliados” do lulismo pragmático.
Esta mais recente ameaça de tenebrosa transação comprova como o polulismo, digo, o populismo lulista, foi competente na metamorfose em que transformou um projeto classista de transformação radical da realidade brasileira no mais eficaz agente do capital monopolista em nosso país.
Em oito anos, conseguiu gerar um modelo em que todos ganham – uns muito mais que outros, evidentemente –, mas suficientemente para colocar colchões amortecedores entre classes em conflito. Sintetizando, esses quase R$ 4 bi que o BNDES pode proporcionar à manobra de Diniz, correspondem à metade do que foi destinado a tornar “felizes” 11 milhões de famílias com a Bolsa, em 2007. E cito 2007, pois foi o último ano em que me preocupei em seguir a relação lucros bancários x combate à miséria por políticas assistencialistas. Naquele então, o destinado à Bolsa família, em 12 meses, correspondia ao lucro, em 9 meses, do segundo maior banco privado brasileiro, o Bradesco. Porque o primeiro, o Itaú, nesses mesmos 9 meses, tivera um lucro exatamente R$ 500 milhões maior que o despendido com o “social”.
Pois bem; sob a ótica do prestígio ao desenvolvimentismo, sobre o monetarismo – na essência, louvável –, estamos, mais uma vez e de fato, diante de uma proposta clara de privatização do lucro, com socialização previsível do prejuízo.
Os recursos que faltam para as políticas públicas em virtude de um criminoso superávit fiscal, voltado a garantir retorno aos bancos, e sem risco de tudo o que se especula com a dívida pública – crescente em progressão geométrica desde que o modelo macroeconômico se iniciou lá no mandarinato tucano-pefelista de FHC – são acrescidos agora pelos constantes “empréstimos” que o Tesouro vem fazendo ao BNDES. Empréstimos que se transformam em transferências subsidiadas para as operações – reitero, sem riscos – do grande capital, em suas operações de fusão. Operações de fusão que, é bom ser dito, em nada vêm impedindo a constante desindustrialização do nosso parque produtivo, em benefício de operações financeiras que ninguém sabem onde vão dar.
Barra pesada que, no dia seguinte ao desligamento de um quadro histórico e simbólico, como Vladimir Palmeira, deve servir de reflexão aos petistas que ainda acreditam que o PT seja “socialista”, como consta do programa.
Ou será que estariam de acordo em defender o que Noam Chomsky definiu como “socialismo dos ricos”?