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Luka Franca

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A segunda luta

Política estudantil e a necessidade do combate diuturno ao machismo

Luka Franca - Publicado: Quarta, 15 Junho 2011 02:00

Luka (@lukissima)

Eu deveria sentar e discutir sobre o que é o matriarcado tão propalado por aí de Dilma, ainda mais depois da posse de Gleisi e Ideli. Porém esta semana mais uma vez a realidade do machismo no Brasil estapeia a nossa cara, é preciso chegar às vias de fato para que nós mulheres, lutadoras e lutadores em geral sejamos realmente ouvidos.


O caso da PUC RS não é isolado, ou quem esquece a truculência com que foram tratados os estudantes da PUC SP em 2007 quando foram retirados da ocupação da reitoria pela tropa de choque? As estudantes que haviam esquecido seus pertences dentro da Reitoria da PUC SP eram obrigadas a passar por revista íntima. Nada muito diferente do que acontece na rotina do sistema prisional brasileiro, mas choca a sociedade ao sair dos porões da sociedade e ocupam a sala de visitas.

O machismo é mais uma dessas “tranqueiras” que tentamos esconder embaixo do tapete, tratando do tema quando é conveniente e sem encarar as fissuras que ele acaba deixando na construção política cotidiana, só damos conta que a bexiga pode estourar e espalhar a merda pra tudo quanto é lado quando ela estoura, quando uma camarada resolve não mais ficar calada e se fortalece o bastante para fazer um escracho contra um agressor, ou não mais aceitamos ser chamadas de histéricas por conta deste ou daquele comentário machista recebido no movimento social, mas que está tão enraizado na sociedade que parece algo banal.

Esta semana vimos pela internet duas estudantes da PUC RS serem açoitadas e uma delas foi agredida sexualmente enquanto estava dentro da sala do DCE da universidade por um membro do DCE, apenas um parenteses: Sim, meu caro. Passar a mão em uma garota e apertá-la é sim agressão sexual. Voltando a questão do machismo e da violência contra mulher, é comum encontrarmos nos movimentos sociais, organizações políticas e articulações em geral homens que se valem da força física e do seu lugar privilegiado na sociedade para coagir e oprimir as militantes mulheres, o fazem ainda com mais veemência quando estas levantam a cabeça e não se submetem a sua fictícia autoridade natural.

Os acontecimentos da PUC RS mostram o quanto o rei está nu em plena praça pública, desvela o quanto é necessário uma educação antimachista nos movimentos sociais e o combate diuturno do machismo em todas as esferas da sociedade, as pessoas arregalam os olhos por que quem sofreu violência esta semana foram duas militantes políticas de uma das mais importantes universidades do Rio Grande do Sul, mas quem se comove com a dona de casa da periferia de São Paulo que apanha todos os dias e é ameaçada de morte não recorrendo a polícia pois sabe que não irão resolver o problema e até a receberão com uma frase do tipo: Você tem certeza que depois não vai voltar aqui pedindo para retirar a denúncia por que voltou com ele? Quantas mulheres vítimas de violência são recebidas pelo poder público para poder encaminhar seus casos com celeridade?

Sim, é bárbaro o que ocorreu na saleta do DCE da PUCRS com as duas militantes, porém o mais bárbaro é o que este episódio revela, não é apenas um caso de falta de democracia em uma entidade estudantil, é o ápice do vale-tudo político e este vale-tudo no estado capitalista e patriarcal que vivemos se mostra assim desnudo quando para poder garantir sua hegemonia, mesmo que fraudulenta, é necessário subjugar as mulheres e agredir da forma mais devastadora que existe: a agressão sexual.

Mostra o quanto nós feministas precisamos enraizar nosso debate junto aos movimentos sociais, disputando-os de forma pedagógica e ao mesmo tempo combatendo o machismo tão recrudescido na nossa sociedade, o quanto é necessário debater violência sexual nas universidades para que não continuemos apenas a rodar o contador das inúmeras mulheres estudantes que são estupradas em campi universitário país a fora ou em festas promovidas por seus próprio veteranos. É preciso combater a culpabilização das vítimas em todos os espaços e por fim a luta pelo feminismo contra o machismo se faz todos os dias, sem medo de ser apontada como divisora de movimento ou o que seja, pois muitas vezes somos assim tratadas.

Não somos as histéricas, oportunistas ou o que for, somos mulheres e para nós vir a público falar de nossas agressões físicas ou psicológicas não é nada fácil, dá medo, insegurança, pois há sempre alguém pronto para te apontar o dedo e dizer o quão errada estamos, o quanto usamos a nossa pauta para disputa política. Porém aí mora a ignorância, por que sim o feminismo é pauta política e não conseguiremos avançar na construção do socialismo se não o incorporar estas pautas de maneira simbiótica as pautas econômicas e pretensamente maiores.

Agora é preciso assegurar a integridade física e psicológica das camaradas agredidas, não apenas as duas que aparecem no vídeo divulgado na segunda-feira, mas também aquelas que foram agredidas durante todo processo eleitoral do 52º Conune na PUC RS, é preciso que a Reitoria se responsabilize pelos acontecidos e garanta punição dos agressores para assegurar até mesmo a vida destas militantes, pois sabemos muito bem onde terminam milhares de casos de violência contra mulher neste país: na cova.

No mais o caso da PUC RS deve também servir de alerta para a necessidade do combate dia após dia do machismo seja onde for, pois não queremos mais mulheres apanhando por firmarem suas posições políticas, assim como não queremos mulheres ameaçadas por darem um fim em suas relações amorosas ou mortas por ex maridos, namorados e afins.

Só avançaremos na construção da revolução socialista se esta for também feminista e antirracista.


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