Como se o PS, PSD e CDS não tivessem escondido boa parte do acordo com a troika só hoje divulgado pelo Ministério das Finanças. Estas eleições foram, como todas as outras, marcadas pela predominância, na comunicação social, dos partidos que nos governam há três décadas e meia. Salvo raras excepções, a maioria da opinião produzida pela imprensa chantageou a população com o fantasma do que poderia acontecer se não se aprovassem as orientações do FMI, BCE e UE. No meio disto tudo, quase metade do povo português abdicou de participar no acto eleitoral. Mas alguém acredita mesmo que a maioria dos votantes portugueses apoiaria os partidos do sistema se estes revelassem as suas verdadeiras intenções? Alguém acredita que os resultados não seriam outros se as televisões, jornais e rádios não criassem constantemente um clima de medo sobre o futuro do país sem o PS, PSD e CDS e dessem igual voz às propostas de esquerda?
Foi um resultado terrível? Claro que foi. Mas alguém tinha dúvidas que neste sistema podre em que vivemos ia ganhar a direita? Afinal, não somos governados por ela há 35 anos? A única dúvida que havia antes do processo eleitoral era com que direita é que o CDS ia governar. O PSD foi o mais votado e será ele a liderar o governo. No essencial, estou de acordo com a opinião do Oscar Mascarenhas. Este será um governo colaboracionista. De Vichy para a Lapa*, há um intervalo de mais de meio século. Mas meio século depois, com ou sem maquis, temos a responsabilidade de nos organizarmos e de vencer.
Havia e há quem escarneça dos que falam na pátria. Quando o PCP afirmou a consigna "patriota e de esquerda", houve um coro de indignados. São os mesmos que conseguem defender as lutas dos povos contra a ocupação imperialista e as lutas contra a dominação do FMI mas que não conseguem formular o mesmo tipo de solidariedade com o seu próprio povo. É por isso que hoje, talvez mais do que nunca, tenhamos que defender a soberania nacional a partir de uma perspectiva de esquerda. Este país só terá futuro se estiver nas mãos dos que o constroem e estiver liberto das amarras da dominação económica e política de instituições como a UE, o BCE e o FMI. Sem independência não há socialismo e sem socialismo não há independência.
*Lapa é a Freguesia onde está situada a sede do PSD