Tudo tem um limite. É certo que nesta vida, e mais em política, há que ser realista, que os maximalismos nunca foram mais do que simples obstáculos para o desenvolvimento das transformações revolucionárias dos povos mas, daí a fazer uma negação dos valores que nos convertem em socialista e revolucionário, vai um abismo. Quem conhece quem escreve esta pequena reflexão, sabe bem que se de algo sou inimigo declarado é dos dogmatismos (e de algum dogmático também), que não contribuíram nada para o que foi o sonho dos marxistas de ontem e de hoje e que fizeram com que nos dedicássemos a absurdas brigas dialéticas, e outras não tão dialéticas, que nos mantiveram entretidos enquanto a burguesia afiava as facas para fazer-nos retroceder quase a princípios do século XX, no que condições de vida e trabalho se refere. Estão ganhando-nos de maneira suja e nós brigando sobre quem consegue ter maior pureza.
O socialismo em um só estado foi um crime histórico. A revolução permanente uma estupidez, que nos levava ao suicídio como revolucionari@s, pois dava o perfeito álibi para os fascistas realizarem uma agressão em toda regra e em larga escala. A questão é que não se soube encontrar esse meio-termo, que evitasse a degeneração burocrática, que acabou com a experiência de Outubro e mais de 70 anos de socialismo na Europa.
Todo foi uma tragédia e como ensinamento só podemos sacar conclusões para não repetir a história. No caminho há pedras e tropeçou-se de bruços bruces num chão bem duro, mas isso não nos fez acordar. Parece que foi ao contrário.
Mas de repente aparece Hugo Chávez, o socialismo do século XXI e a "real politik", esta ultima consistente em algo muito simples: uma vez que não podemos fazer a revolução, sejamos possibilistas e façamos transformações até onde pudermos. O problema parece ser que essas transformações não as fazemos até onde pudermos, mas até onde nos deixa o imperialismo.
Hugo Chávez não é um estúpido, nem muito menos, e sim uma pessoa muito inteligente, que abaixo dessa imagem excêntrica de dirigente iluminado que cultiva, esconde uma pessoa muito astuta que mede muito o que faz e o que diz, e sobretudo, mede muito as consequências de seus atos. O está colaborando com os assassinos da Colômbia, entregando revolucionari@s e gente nobre, homens e mulheres que dão tudo por seu povo, sabendo muito bem o que faz.
Faz em um ano e meio, a Colômbia ameaçou a Venezuela e o Equador com uma guerra na zona pelo assunto das FARC. Queria assustar e assustaram mesmo.
Tanto assustarou que conseguiu redefinir a revolução bolivariana da Venezuela, pois esta, a revolução bolivariana, se sustentava entre outras coisas em um internacionalismo, que plasmava o presidente Chávez, em numerosas intervenções, ao qual renunciaram de uma forma vergonhosa, e que nos faz ficar corados como revolucionari@s que nos consideramos internacionalistas, ante atuações mais próprias de governos de direitas. Entregar revolcuionari@s a um governo fascista e narcotraficante como é o de Santos não é precisamente de socialistas, senhor Chávez. Ficar calado ante o aluvião de críticas da totalidade de pessoas que na América Latina e o resto do mundo se movem em chaves revolucionárias e internacionalistas não é de valentes precisamente, senhor Chávez.
Talvez sejam estas questões, coisas que vão da mão da real politik, manter o conseguido na Venezuela embora seja à custa da segurança e liberdade do povo colombiano, mas se isto for assim, tal e como suspeito, cabe dizer que a revolução bolivariana na Venezuela tem graves carências que têm de ser reparadas de imediato e que esta revolução não navega para o socialismo precisamente, pois deve saber o senhor Chávez, que não há socialismo sem internacionalismo. E aqui ninguém pede (falando claro) que na Venezuela se estabeleçam campos de treino de guerrilheiros nem se financie nada, nem que tenha apoio politico e explicito para nenhuma guerrilha do mundo, mas daí a os entregar como passarinhos engaiolados para que um fascista como Santos possa os condenar perpetuamente ao cárcere ou os torture há uma grande diferença, senhor Chávez.
Pode parecer muito bonito que você faça menção de Cristo, que numerosos discursos, mas deveria ser consequente e saber que jamais Cristo entregou revolucionar@s a seus carrascos e você deve saber de sobra que inclusive em numerosas freguesias cristãs se deu abrigo a pessoas assediadas pelo fascismo.
Pode parecer muito bonito levar a Venezuela a Silvio Rodríguez ou homenagear a Víctor Jara, mas não fica senão como um ato de populismo e hipocrisia se minta tanto você envia ao tormento aos cantores do povo de hoje.
Ficasse você muito a gosto com poster e pixações do Che em Caracas, mas se me permite ser vulgar, o guerrilheiro heroico, exemplo de internacionalismo, nesta altura da fita teria lhe dado uns bons murros. Peço desculpas de novo pela vulgaridade.
Em definitivo, podem ser muito bonitos seus discursos a respeito do socialismo na Venezuela, mas deve saber que esse socialismo é incompleto e tolheito se não se vir acompanhado do inescusável internacionalismo. O internacionalismo é base e alma do socialismo, saiba-o senhor Chávez.
Em definitivo, Roma não paga a traidores e não por isto você e sua evolução deixa de estar na mira do imperialismo. Seguirão assediando-o e tentando destrui-lo, não fica livre das iras do fascismo por estes gestos, senhor Chávez.
Se em algum dia Venezuela for atacada, você passará a ser o terrorista e quererão enforcá-lo, como fizeram com Saddam Hussein. E deve saber que nesse dia, @s revolucionári@s do mundo inteiro adotaremos medidas internacionalistas e estaremos com a Venezuela, com a revolução bolivariana e com você, apesar de sua inqualificável atuação.
Enquanto o apoio absoluto e total à Venezuela e à revolução bolivariana.. mas a você? pois melhor vou ficar calado. Já penteio cabelos brancos para deixar-me enganar por embaucadores.
Tradução do Diário Liberdade
Fonte: Boltxe.