Mesmo assim, Bildu conseguiu o maior numero de eleitos em todo o país basco, chegando ao ponto de ficar em primeiro na eleição da região de Guipuzkoa e em sua capital, Donostia (San Sebastian).
Um feito e tanto para o grupo político que vinha sofrendo constantes processos de ilegalização desde 2003, com o banimento do Batasuna.
Resultados
Os partidos nacionalistas (de esquerda e direita, incluindo o PNV, Bildu, Aralar, H1 e pequenas listas locais) conseguiram algo em torno de 70% dos votos no País Basco, deixando os partidos espanholistas comendo poeira, com apenas 30% e com a tendência de perderem ainda mais votos.
O PP teve votação pífia em boa parte do País Basco e Navarra, tendo apenas aparecido com alguma força em Araba, onde conseguiu a maioria dos votos, mas perdendo feio nas demais regiões. O PSOE pagou o preço por suas políticas de direita e por sua aliança com o PP - daí o termo PPSOE para descrever os partidos, que agem como um só.
Se o País Basco não vivesse um regime de excepção, o caminho natural para o PSOE seria abandonar o governo autonómico basco e abrir caminho a eleições antecipadas. O lehendakari Patxi López sabe que só ocupa aquele cargo, com o apoio do PP, graças à anulação dos votos da esquerda independentista. Mas o governo que lançou a polícia contra o seu próprio povo não obedece a outros interesses senão os do Estado espanhol. É, pois, pouco provável que o faça.
Futuro
É o momento para comemorar a vitória, mas tendo em mente que foi dado apenas o primeiro passo.
Há ainda muito a se fazer, a começar pelas negociações para a formação de maiorias, tendo me mente que em muitos casos o Bildu tomará a frente e em outros será o fiel da balança para as alianças a serem formadas.
Trata-se, no entanto, de um momento histórico. A cidadania deu uma resposta não só à Espanha e à imposição de um governo títere do PPSOE sob o comando de Patxi López (PSE-EE), como também demonstrou à ETA que é possível o caminho democrático e que a violência já não encontra mais lugar no País Basco.
É o momento do governo espanhol aceitar esta realidade e aceitar negociar dentro dos termos impostos pelos bascos, tanto o fim do conflito quanto o fim da colonização.
E na Espanha...
Na Espanha como um todo, nenhuma surpresa. O PP arrasou nas eleições marcadas por protestos vazios e pseudo-revolucionários.
Com políticas cada vez mais próximas (senão iguais) às do PP, o PSOE foi duramente castigado em praticamente todas as regiões, perdendo bastiões históricos, como Barcelona, ao mesmo tempo em que o PP colheu frutos que não lhe são devidos, pois pouco ganhou em termos de votos, mas se beneficiou da imensa apatia popular e da pífia performance do PSOE.
A Esquerda Unida (IU) teve um forte crescimento, mas continua a ser prejudicada pelo sistema eleitoral espanhol que privilegia o bipartidarismo. E as opções nacionalistas galega e catalã (em especial as Candidaturas de Unidade Popular [CUP]) tiveram um bom incremento em suas votações, com a CUP mais que dobrando sua votação.
É difícil contabilizar agora qual o efeito, em termos eleitorais, dos revoltosos, indignados, que se mantém acampados nas praças por toda a Espanha, Galiza, Catalunha e País Basco, mas já consigo adiantar que sua indignação acabou por contribuir com a vitória do PP. Não que estes, se votassem em peso em alternativas como a Esquerda Unida, fossem fazer com que o PP não se saísse vencedor por larga vantagem, mas poderiam ter feito esta vitória ser mais difícil, mais suada.
Os Indignados
O sistema político-eleitora espanhol não privilegia os dois principais partidos apenas na contagem dos votos, mas também beneficia o PPSOE com a abstenção e o voto em branco. Os "indignados", ao não votar ou protestar desperdiçando o voto apenas contribuíram para a grande vitória "Popular", ou seja, Franquista.
Não digo que os indignados "fizeram o jogo da direita", isto seria um absurdo, mas a falta de uma plataforma coerente e da busca por opções contra a ascensão do PP contribuíram para a apatia geral em torno do pleito. De fato o PP pouco evoluiu em termos de votos, mas o PSOE teve uma retração gigantesca.
Não diria jamais que os protestos não tenham seu valor, mas unicamente acampar e reclamar da realidade, especialmente durante as eleições, não resolve ou resolverá absolutamente nada. Fingindo que política eleitoral não tem relação alguma com suas vidas apenas contribui para a vitória da pior opção. Como sempre digo, o mais triste para quem diz não gostar de política é que este é governado por quem gosta, ou ao menos por quem entende dela e se vale da apatia para crescer.
Por mais politizados que sejam os protestos, é uma politização que beira o inócuo, a festa, sem grandes efeitos imediatos. Vale lembrar que a abolição da monarquia sequer é bandeira deste movimento, que pretende reformar sem, porém, tocar nas principais estruturas do poder e em sua herança franquista.
O lema de "#Nolesvotes" acabou servindo para que não se votasse em nada. Diferentemente dos protestos no Oriente Médio, onde se luta contra o partido no poder, mas não contra a política partidária em si (pelo contrário, o que muitos querem é exatamente votar!), os espanhóis se insurgiram contra a democracia representativa em si, mas pouco surgiu em termos de propostas viáveis à curto prazo e mesmo a longo prazo.
Agora a Espanha terá um governo do PP que, pese notáveis semelhanças com o PSOE, é pior, mais intransigente e muito mais eficaz na aplicação de uma agenda neoliberal. As exigências da #DemocraciaRealYa, dos indignados, são justas, mas até que ponto exequíveis frente a um governo de direita e à apatia nas urnas?