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Luka Franca

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A segunda luta

Lições de como virar refém de ruralistas, dogmatismo religioso e Capital em menos de 6 meses

Luka Franca - Publicado: Quinta, 26 Mai 2011 02:00

Luka (@lukissima)

O primeiro semestre do governo Dilma não deverá ser esquecido, mas para isso acontecer vai depender da organização e capilarização da esquerda anticapitalista brasileira. Óbvio que os malabarismos teóricos e políticos para explicar as políticas dos governos petistas não é prática atual, sabe-se muito bem disso.


O rebu por conta das incoerências do governo Dilma não são de agora e estão pautados sistematicamente pela esquerda anticapitalista. Ou ninguém aí lembra ainda no governo Lula do Acordo Brasil-Vaticano, Lei Geral das Religiões, CPI do Aborto criada durante a gestão do ex-deputado Arlindo Chinaglia na Câmara dos Deputados ou dos vetos ao PNDH-3? Vai me dizer que o PT não sabia qual era o preço cobrado pelo apoio dos evangélicos e afins?

Sim, o Brasil elegeu finalmente a primeira mulher presidente da república e é bom lembrar que por aqui 10 mulheres são vítimas de violência machista por dia. Porém elegeu uma mulher que estava refém da direita, do conservadorismo, do capital e de tantas outras facetas assumidas pela política.

Infelizmente nossa primeira mulher presidente inaugurou seu mandato ignorando as denuncias de estupro no Haiti feitas pela Anistia Internacional em acampamentos protegidos pelas tropas brasileiras, articulou pelo seu staff político o arrocho salarial tratorando até mesmo as centrais governistas e em nenhum momento se posicionando contra o aumento nojento concedido ao congresso nacional e até mesmo a ela, fora o corte no roçamento que quando vamos analisar as áreas não estratégicas tão propaladas muitas delas atingem diretamente os direitos das mulheres.

O governo Dilma arrochou salário, cortou orçamento de programa de combate á violência doméstica, criou programa de saúde sem levar em conta a parte da mortalidade materna que cabe ao aborto inseguro e clandestino. Tudo em menos de 6 meses de governo, mostrando o quanto realmente honrará as mulheres nestes próximos anos.

Nesta semana estourou de vez a questão do Código Florestal e do Kit Anti-Homofobia, os ruralistas ganharam a votação depois de tensas negociações entre Aldo Rebelo e o restante da base governista, foram adiamentos e mais adiamentos da votação da matéria na câmara que foi resolvida pelo famoso toma lá, dá cá. Assim também foi feito com o Kit Anti-Homofobia, a bancada religiosa – que também faz parte da base governista – já havia pressionado o MEC sobre a questão, tanto que Haddad havia recuado e colocado o Kit para ser revisado ou então a bancada não votaria mais matéria alguma no congresso e agora a Dilma se coloca contrária ao Kit e o veta após meses dos vídeos circularem pela internet.

Tudo isso tendo como pano de fundo o escândalo envolvendo o ministro da Casa Civil – esta Casa Civil dá cada rolo para os governos petistas, vou te falar – Antônio Palocci por enriquecimento ilícito. Obviamente que o setor mais conservador da base governista foi cobrar a conta eleitoral, ou será que as pessoas ainda acreditam em histórias da carochinha? O que vemos agora é a necessidade do governo federal para reorganizar sua base no congresso nacional para não criar instabilidades no próprio governo, mas e enfrentar temas espinhosos para avançar no debate ideológico e político do país? Ah isso não vai ser feito, perde-se votos assim e o necessário é a governabilidade alinhado com o marketing.

Lembro de alguns anos ter assistido um vídeo do Plínio de Arruda Sampaio e nele ele dizia: “Você ocupar a presidência é levar? Não, levar é você fazer o seu programa e não o do outro”. Não podemos nos ater apenas aos detalhes, mas compreender a política nacional observando a transversalidade dos debates, é para não cairmos de refém do conservadorismo que é necessário o fim das coligações proporcionais por exemplo. Pois novamente voltamos a esta encalacrada, qual é o programa que vem sendo colocado em prática no Brasil? Qual a visão de mundo que tem sido construída? Sinceramente não é uma que seja antimachista e antirracista.

Agora fica a pergunta vamos ficar novamente apenas nos fiando no institucionalismo? Nos limites do regime? Cada vez mais a sociedade e a política é moralmente recrudescida e nós apenas ficamos a lamentar, a pensar nos limites da democracia burguesa... Estes episódios só nos mostram o quanto para ganhos reais para a sociedade só faremos se formos ousados, se não tivermos medo de denunciar o regime quando este deve ser denunciado e sobretudo fazer uma disputa ideológica transversal dos debates, sem fragmentá-los como fomos condicionados a fazer.

No mais, fica gravada com ferro em brasa na nossa pele de que não basta apenas ser mulher para modificar profundamente o Brasil, precisa ter lastro político suficiente para peitar os ruralistas, o dogmatismo religioso e o capital financeiro, pois é este confronto que terá resultados concretos para a sociedade em geral e em particular para as mulheres.


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