Foram mais de 50 mil trabalhadores que protestaram contra a intervenção do FMI. O Público online dá-se ao luxo de noticiar o que se passa em Madrid e apagar o que aconteceu hoje entre o Largo do Calvário e a residência oficial do Presidente da República. Essa é, aliás, a tónica geral: destacar o que se passa no estrangeiro, apagar o que acontece aqui.
Muitos tentam desvalorizar a importância e o papel do movimento sindical português esquecendo-se que, no Estado espanhol, as Comisiones Obreras e a UGT pactuaram com o governo espanhol e os patrões. É bem distinta a realidade portuguesa daquela que vivem os trabalhadores espanhóis, sem uma ferramenta de classe ao serviço dos explorados. A CGTP esteve e está contra a presença do FMI e as medidas de austeridade.
Não há que esquecer a instrumentalização dos chamados movimentos espontâneos - nada é espontâneo - por parte da comunicação social. Enquanto que a CGTP vive apartada das mordomias mediáticas, a explosão de protesto que se deu no dia 12 de Março nunca teria sido possível sem o apoio das televisões, rádios e jornais. É a conclusão que se pode tirar da, infelizmente, fraca participação na acção de 15 de Maio.
Mais do que nunca é preciso apelar à luta organizada e consequente. Seja com acampamentos, manifestações ou greves gerais, nenhuma acção deve ser alicerçada desprezando as organizações dos trabalhadores, sejam sindicatos ou partidos. Faze-lo, como tenho lido em certas convocatórias, é promover o discurso anti-democrático de que os partidos são inimigos e o discurso de direita de que todos são iguais, para que lá fiquem os mesmos de sempre.
Em certos círculos, reina a arrogância sobre os que sempre lutaram, mesmo quando ninguém parecia querer faze-lo. Esse é um património que ninguém pode apagar. Os tempos que vivemos são conturbados e, apesar de todos os perigos, cheios de potencialidades. Talvez, agora, as pessoas estejam mais abertas a escutar o que antes não queriam ouvir. É trabalho de todos levantarmos os alicerces da vitória. Mas para que não haja derrota há que pensarmos noutras derrotas. O Maio de 68 foi uma delas.