Nom apenas um podia ser objecto de repressom, repúdio público e discriminaçom por ser judeu ou nom deixar de o ser de maneirasuficientemente manifesta... um podia ser achado "culpado" de nom ser limpo de sangue, e entom havia também que estar preparado para as conseqüências.
Ao longo da história, o anti-semitismo foi um fenómeno recorrente, avivado de maneira oportunista umhas vezes polas diferentes confissons cristás, outras polas oligarquias europeias... bem conhecida é a paranoia ánti-judia alimentada polo nazismo.
Nom é o "povo judeu" a única comunidade humana que sofreu perseguiçons ao longo da história, ainda que também nom se poda negar o dramatismo e crueldade desses episódios de perseguiçom. No nosso tempo, a perseguiçom religiosa e ideológica está à ordem do dia, também a perseguiçom por motivos étnico-raciais ou lingüísticos, mesmo sexuais. Temos abundantes exemplos em todo o planeta.
Para mim seria fácil referir-me às execuçons de homossexuais no Irám, ou à perseguiçom a que som submetidas as pessoas que praticam o hinduímo ou o cristianismo no Paquistám; poderia falar da prohibiçom de línguas e religions na China, da perseguiçom dos ciganos na Kosova, ou dos campos de concentraçom na ex-Jugoslávia. Seria fácil, porque disso se fala e muito na imprensa do sistema. Som as misérias dos maus, e interessa explorá-las.
Mas na Espanha bourbónica, também há perseguiçom ideológica. Por enquanto nom há campos de extermínio com toda a parafernália de fornos crematórios, cámaras de gás e trabalhos forçados... ainda que sim haja vontade de encher os cárceres de elementos "terroristas". Por algumha cousa se começa sempre.
A Constituiçom espanhola di que ninguém pode ser obrigado a declarar sobre a sua ideologia política ou as suas crenças religiosas. Isto nom é certo. Se fores independentista basco, sim. E nem isso é necessário. Quando existe umha Lei de Partidos que reserva aos tribunais a prerrogativa de ilegalizar umha organizaçom política se esta nom condenar a violência, evidentemente está-se a entrar em contradiçom manifesta com esse artigo da constituiçom bourbónica que proclama que ninguém poderá ser obrigado a declarar sobre a sua maneira de pensar.
Porque quando se fala de violência, nom se fala de qualquer violência, neste caso. Fala-se da violência que o "inimigo público número um" exerce sobre os interesses da oligarquia espanhola e basca e sobre as estruturas do Estado espanhol, naturalmente nom da violência que os corpos repressivos desse Estado exercem sobre o povo basco, nom sobre a violência que exercem as leis do Estado burguês contra a classe trabalhadora, nom da violência que sofremos todos os trabalhadores e trabalhadoras do mundo a maos do patronato e a banca, que especulam com a nossa força de trabalho e com as nossas necessidades mais básicas...
Se houvesse que condenar a violência assim, de maneira categórica, os mesmos que tanto exigem da esquerda abertzale que tal faga teriam que ser os primeiros a darem o passo. Porque estamos a falar de partidos políticos que apoiam (e praticam) o terrorismo de Estado, que defendem que o Estado espanhol participe em guerras genocidas, que apoiam governos golpistas e ditatoriais noutras latitudes... mas a violência que há que condenar, é umha violência em concreto... aquela que se dirige às estruturas do Estado e aos seus poderes fácticos em resposta da violência que estes exercem contra o povo basco e contra outros povos.
Outras violências, nom fai falta condená-las expressamente. O Partido Popular nunca condenou o levantamento militar de 36, nem os crimes do franquismo. Grupos neo-nazis, neo-fascistas e mesmo abertamente franquistas, operam sem problema nengum no território do Estado espanhol, fam propaganda das suas ideias, manifestam-se, tenhem voz nos mass-media e tenhem umha vida legal que ninguém ameaça. Nom apenas nom condenam a violência, como a exercem e nom se importam com matar. Acodem armados e uniformados aos seus atos e, nalgum caso, a sua estrutura interna imita à de umha organizaçom militar. De facto, amparam-se na garantia de nom poderem ser obrigados a declarar sobre as suas ideias, para realizarem atividades que noutros lugares do mundo nom se lhes permitiriam; por exemplo, a publicaçom de literatura "revisionista", isto é, literatura que nega a veracidade do Holocausto.
Há um par de semanas, eu tivem umha discusom em plena rua em Madrid, a raíz de umha conversa informal com umha compatriota que trabalha para uma rotativa espanhola. Falávamos da manifestaçom que o mesmo dia da minha chegada a Madrid (para apresentar um livro de poesia, nada a ver em princípio com o tema) protagonizara a Asociación de Víctimas del Terrorismo, contra a legalizaçom de Bildu, umha coligaçom de várias forças políticas bascas que pretendem apresentar-se às eleiçons autárquicas sob esse guarda-chuva. Num momento dado, eu dixem que, evidentemente, a AVT estava a exercer como o que é, um instrumento de pressom política, e que o que pretendem é forçar um golpe institucional no Estado espanhol. A minha compatriota negava a possibilidade de que qualquer tentativa de golpe triunfasse. Eu falava-lhe das conseqüências do 11-M, e aí é que surgírom as discrepáncias mais profundas. Porque ela abalizava o mito do povo espanhol que se revelara contra a tentativa do governo Aznar de mentir à populaçom sobre a autoria do crime da estaçom de Atocha. E eu afirmava que, independentemente das manifestaçons horas antes das eleiçons gerais de há oito anos, e independentemente do resultado daquelas eleiçons, o golpe já estava dado e já triunfara.
Apenas umhas horas antes de que se produzissem as concentraçons diante das sedes do PP, o daquelas ministro do interior, Miguel Ángel Acebes figera umha comparecência pública em termos verdadeiramente golpistas. O enunciado era, dito de maneira esquemática: ponto primeiro, o atentado de Atocha é autoria da ETA; ponto segundo, todos devem condenar o atentado; ponto terceiro, todos devem admitir que o autor do atentado é a ETA, sob pena de serem ilegalizados. Naquele momento, todas as forças políticas com presença institucional no Estado espanhol, incluídas BNG e ERC, aceitárom as instruçons dadas polo Acebes, o que do meu ponto de vista as converte em tam golpistas como os que ideárom o golpe.
A partir daí pouco importa que o PP perdesse as eleiçons gerais e que se demonstrasse que fora um grupo islamista que colocara aquelas bombas em Madrid. Foi naquele episódio que se sentou o precedente para a culpabilidade preventiva por sistema do grande demo separatista basco e da negaçom da sua credibilidade já nom como interlocutor, mas inclusso como transmissor dos seus próprios posicionamentos, avaliaçons ou manifestaçons, o que já é o cúmulo da paranoia. Nom importa que Arnaldo Otegi diga numha conferência de imprensa que nom foi a ETA, já se reservam os manipuladores da opiniom pública a potestade para interpretar essas palavras se toca interpretá-las, prevalecendo por cima o dogma de que foi a ETA; nom importa que Iñaki de Juana Chaos diga que nom é da ETA, nem sequer importa que a própria ETA manifeste que de Juana já nom pertence a tal organizaçom. Como membro da ETA será tratado, porque assim convém à justificaçom de todo o processo repressivo do que foi objeto.
Assim é que Sortu nom vai poder concorrer às eleiçons autárquicas. Nom passárom o exame. Nom seguírom o guiom pré-estabelecido de condenar a violência nos termos que se lhes marcou. Talmente como nos processos inquisitoriais, nos quais se colocava no instrumento de tortura o processado para que dixesse exatamente aquilo que se lhe ordenara que dixesse. Nom chega rejeitar, nom chega criticar... há que condenar. Há que condenar umha violência determinada. Nom a violência em geral ou em abstracto... umha violência.
Ignoramos como Bildu vai apresentar a sua "nom relaçom" com a ETA e com Batasuna, ainda que já alguém tenha marcado a pauta hoje mesmo. "Batasuna polui todo o que tocar, se EA estabeleceu acordos com Batasuna, Batasuna poluiu EA". Umha formulaçom inequivocamente na linha daquela Santa Inquisiçom de terrível lembrança.