O povo português elegerá os 230 deputados de uma nova Assembleia da República a 5 de Junho.
O presidente Cavaco Silva dissolveu o Parlamento após a demissão do governo de José Sócrates, tornada inevitável pela rejeição do seu IV Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC). O nome é enganador porque as medidas previstas pelo PEC, reforçando cortes salariais e ferindo conquistas históricas dos trabalhadores, tinham suscitado indignação popular.
Na sua crítica aos partidos da direita, Sócrates acusa-os de pretenderem destruir o Estado social. Na realidade, durante os seus dois governos desencadeou uma ofensiva brutal contra o que resta da herança da Revolução de Abril. O Serviço Nacional de Saúde, considerado o l0º do mundo pela OMS, foi duramente golpeado. Os professores foram também permanentemente hostilizados com grave prejuízo do ensino público. A legislação do trabalho foi praticamente desmantelada através de uma revisão imposta pelo patronato. A política exterior refletiu uma submissão total ao imperialismo estadunidense e a exigências dos grandes da União Europeia, sobretudo da Alemanha e da França.
O Partido Socialista aplicou durante os últimos seis anos uma política de neoliberalismo ortodoxo.
As agências de rathing americanas colocam Portugal à beira da situação que definem como "lixo".
Sócrates alega que a sua "política de austeridade" visava a evitar o pedido de "ajuda" à União Europeia e ao FMI.
Mente. As medidas selvagens do PEC IV foram-lhe ditadas em Berlim pela chanceler Merkel. Na prática o FMI já está em Portugal.
A dívida pública ultrapassa 92% do Produto Nacional Bruto. Este atingirá em 2008 aproximadamente 232 bilhões de dólares segundo a Comissão Europeia (um pouco mais do que 20.000 dólares per capita).
O governo Sócrates enganou ao país ao informar que cumprira no ano transato o compromisso de reduzir o deficit do Orçamento para 7,3%. Acaba de ser desmentido pela União Europeia. O deficit real foi de 8,6% O governo não incluíra nas suas contas a verba de 1 bilhão e 800 milhões de euros relativos à estatização do Banco Português de Negócios no contexto de gigantescas fraudes desse banco. Omitiu também os deficits de três importantes empresas de serviços públicos.
No endividamento galopante, os juros nos empréstimos pedidos atingiram o patamar dos 9%.
A campanha eleitoral será de baixo nível, marcada por troca de acusações entre o PS e o PSD, responsabilizando-se mutuamente pelo agravamento da crise.
O mais provável é que no futuro Parlamento o Partido Social Democrata (PSD) e o CDS - Partido Popular – ambos de direita –obtenham em conjunto maioria e se coliguem para formar governo.
A avaliar pelo discurso dos seus líderes, propõem-se a impor uma política ainda mais reacionária do que a de Sócrates.
O Partido Comunista defende uma mudança radical que rompa com a política de direita imposta há décadas ao país. Mas, no âmbito do sistema, o seu justo projeto de mudança esbarra com o funcionamento da engrenagem institucional. Cabe sublinhar que a comunicação social, totalmente controlada por poderosos grupos financeiros, promove a alienação das camadas médias.
O Bloco de Esquerda é um partido de pequenos burgueses enraivecidos cujo radicalismo verbal esconde mal a ambição de obter migalhas de poder.
Neste panorama sombrio, a vaga de protestos da classe trabalhadora expressa a condenação firme da política que levou o país à beira da bancarrota e a sua disponibilidade para lutar por uma ruptura orientada para a satisfação de aspirações profundas do povo.
Ao longo dos últimos meses sucederam-se greves e gigantescos protestos populares.
Em 12 de março, em Lisboa e no Porto manifestaram-se 300 mil pessoas em desfiles promovidos por jovens desempregados. No dia 19, em Lisboa uma manifestação da grande central sindical CGTP reuniu 200 mil trabalhadores.
Somente a mobilização das massas pode abalar as bases da ditadura da burguesia de fachada democrática que oprime o povo português.
Fonte: Brasil de Fato.