2. A parte mais consciente do povo desaprova a submissão dos poderes da República ao império mundial, mas predomina a passividade no grosso da população, anestesiada pelas redes de televisão e demais fontes da alienação. Pior: muitos percebem a submissão e a aceitam como natural.
3. A Nação acaba de assistir, com grande cobertura dos meios de comunicação de massa, ao espetáculo deprimente da visita de Obama ao Brasil.
4. Com medo de incidentes e demonstrações contrárias, ele desistiu de falar na Cinelândia diante do povo, não obstante os serviços de segurança norte-americana terem tido carta branca, em todos os lugares do Brasil por onde passou o relações-públicas do império, para ocupar e controlar esses lugares durante o tempo que quisessem.
5. Entre os copiosos vexames e pisoteios à dignidade nacional, ministros e outras autoridades “brasileiras” foram revistados por policiais dos EUA.
6. Passando para os assuntos substantivos, o “governo brasileiro” firmou uma dezena de acordos com o governo norte-americano, como se o Brasil já não estivesse amarrado a acordos bilaterais e multilaterais grandemente lesivos aos seus interesses.
7. Apressou-se, ainda, com a colaboração não menos subserviente do Congresso, em fazer com que este ratificasse acordos assinados há mais tempo, como o de transporte marítimo entre o Brasil e os Estados Unidos, assinado em Washington em setembro de 2005.
8. Esse tratado permite que navios norte-americanos transportem cargas reservadas brasileiras, ao excluir da reserva as cargas a granel e as transportadas entre portos ou pontos do território de um dos dois países. Ele fora aprovado na Câmara dos Deputados e estava pendente na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado.
9. Ali a relatora, Gleisi Hoffmann (PT-PR), recomendou a aprovação, louvando-se na contraditória opinião da Agência Nacional de Transportes Aquaviários – ANTAQ - (mais uma agência criada sob o modelo Washington-FHC), segundo a qual o pacto não acarretará perdas de fretes para as empresas brasileiras de navegação.
10. Em suma, uma visita oficial em que o Estado-cliente, saqueado em seus recursos naturais, humanos e financeiros, presta vassalagens ao Estado imperial. Por toda parte, tapetes vermelhos em homenagem ao estafeta dos banqueiros de Wall Street e do complexo industrial-militar.
11. No caso, pode-se dizer que os tapetes vermelhos simbolizam o sangue de milhões de seres humanos massacrados, mundo afora, pelo império e seus coadjuvantes.
12. No mesmo instante vítimas de mais um latrogenocídio estavam sendo atingidas na Líbia pelos mísseis das FFAA do império formado pelos EUA e Reino Unido, com a ajuda de um satélite, a França, como foram antes as vítimas imoladas com as bombas de urânio e outras armas de destruição em massa na Sérvia, no Iraque, no Afeganistão e em n outros países.
13. Por aqui, por enquanto, trata-se do sangue de martirizados sem agressão militar, mas por meio da política econômica do governo e do Banco Central, que outra coisa não faz senão desnacionalizar, desindustrializar a economia e favorecer os bancos e empresas oligopolistas e monopolistas.
14. Essa política, entre os danos que causa ao País no interesse das transnacionais financeiras e industriais estrangeiras, não controla nem preços nem quantidades dos minérios e outros recursos naturais estratégicos e preciosos que saem do País.
15. Através desse esquema, o Brasil acumula saldos negativos nas transações correntes com o exterior e paga conta anual de juros cada vez mais pesada na dívida externa, bem como a dos juros mais altos do Mundo na dívida interna.
16. É insensatez justificar os rapapés aos agentes imperiais em nome de acenos destes, ao dizer que veem com bons olhos a pretensão de o Brasil tornar-se membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.
17. Primeiro, são meros acenos. Segundo, de nada vale o suposto prêmio à maior subserviência. Seria só pretenso prestígio para um governo que tributa seu povo em favor do estrangeiro. Seria honra vazia, enquanto o País se desindustrializa e está destituído de poder militar num mundo em que só a força assegura direitos.
Adriano Benayon, doutor em economia, autor de Globalização versus Desenvolvimento
Publicado em A Nova Democracia, nº 76, abril de 2011