A cada dia tenho mais certeza de que para a Esquerda Nacionalista (Abertzale) se tornar uma opção legal (e não real, pois isto já é) será preciso descaracterizá-la ao ponto de torná-la inócua.
Nada melhor para neutralizar um grupo do que apagar seu passado, do que obrigar ao repúdio deste passado. Cabem muitas verdades na história, mas mesmo as interpretações me parecem ter limites. Coisas como a decisão recente do Papa de retirar a culpa pela morte de Jesus dos judeus se encaixa como um clássico caso de falseamento da história.[...]
Não seria crível e muito menos aceitável a condenação de Txiki, de Argala, de Txabi Etxebarrieta e de tantos outros verdadeiros gudaris que combateram Franco com o mesmo afinco que os modelos de soldados da resistência ligados ao PCE ou ao PSOE.
A justiça (sic) espanhola não vê problema no culto à personalidades franquistas, a Primo de Rivera, a Fraga Iribarne e mesmo a Franco, assassinos de povos, mas não aceita que os bascos cultuem seus heróis.
[...]
Um povo sem história é um povo sem identidade.
Enfim, a Espanha tenta, insistentemente, apagar a história do povo Basco. E esta história está ligada à resistência contra Franco, desde os gudaris dos anos 30 até os gudaris da ETA, durante a Ditadura.
Não se apaga a história. Não se falseia a história.
Mas a Espanha tenta.
Chega até mim a notícia:
El Colectivo de Víctimas del Terrorismo del País Vasco (Covite) ha solicitado este miércoles a los grupos del Parlamento vasco que apoyen su exigencia de que el "entramado político de ETA-Batasuna" condene la historia de la banda para poder regresar a las instituciones. Además, ha subrayado la necesidad de deslegitimar el "nacionalismo independentista y excluyente" de ETA.
O Covite se junta a demais grupelhos e partidos fascistas na exigência de que os bascos repudiem sua história, é o jogo da Espanha. Sua posição clara é a de condenar o nacionalismo e exigir que os Abertzales se conformem com a dominação imperial do Estado Espanhol.
La representante de Covite ha denunciado que "tratar de sostener en estos momentos el programa político de ETA y a su vez invocar al Estado de Derecho resulta una contradicción difícilmente asumible por parte de las víctimas del terrorismo, que han visto durante años cómo el nacionalismo se inclinaba más hacia los victimarios que hacia las propias víctimas".
Para o Covite, ser nacionalista é o mesmo que ser da ETA - porque a ETA é nacionalista. O raciocínio não podia ser mais tosco. O grupo - assim como a Espanha- consideram o nacionalismo basco um crime, só o espanhol é permitido e defendido. Criminosos espanhóis não são condenados ou sequer processados quando trabalhando para o Estado.
José Amedo, ex-policial e membro dos GAL, grupo fascista que assassinou um número de bascos nacionalistas durante os anos 80, denunciou a conivência do ex-Premier Felipe González com os GAL, ou melhor, o acusou de ser o criador e principal
mandante.
El ex policía, que ha declarado como testigo en la vista oral, ha señalado a Felipe González, al ex ministro de Interior José Barrionuevo y al ex secretario de Estado de Seguridad Julián Sancristóbal como creadores de los GAL, y ha afirmado que contaron con el consentimiento del ex secretario general del PSE en Bizkaia Ricardo García Damborenea y otros cargos del PSOE como Txiki Benegas y Ramón Jáuregui, actual
ministro de Presidencia.
Os nomes dos membros do GAL, ao menos dos da cúpula, são de conhecimento público. A justiça espanhola também os conhece, mas nada faz, pois se não dá mais para apenas matar bascos - ainda que a Espanha tente, vide o caso de Jon Anza -, não irão condenar os que tentam e tentaram. A idéia central hoje, porém, é a de apagar, matar a história.
O descaramento da justiça espanhola e de seus lacaios é simplesmente assustador. Todos sabem que são os líderes dos GAL e nada nunca foi feito contra o PSOE. Todos sabem de onde vem o PP, e nunca nada foi feito contra. São espanhóis. Isto resumo tudo.