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Joycemar Tejo

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Elogio da dialética

Guantánamo no Rio de Janeiro

Joycemar Tejo - Publicado: Sábado, 02 Abril 2011 15:03

Joycemar Tejo

Saímos das faculdades pensando estar em um (que nome pomposo) Estado Democrático de Direito. Esqueçamos as torturas, esqueçamos a perseguição política e o arremesso de presos de consciência mar adentro, amarrados em correntes de ferro.


A ditadura militar caiu há mais de 20 anos, isso é coisa do passado, não foi o que aprendemos na cátedra? Mas da teoria para a prática há uma larga distância e percebemos: eles mentiram para nós.

Rio de Janeiro, 18 de março de 2011. César em pessoa estará entre nós, a encarnação do imperialismo e do capitalismo mundial, mesmo que sob uma tênue capa de avanço e de progressismo- afinal, é o primeiro presidente negro dos EUA. Mas Barack Obama apenas gerencia a máquina. E a cor do maquinista não a torna menos letal, assim como Lula ser operário nada interferiu no espantoso incremento do neoliberalismo que observamos ao longo de seu governo (1). Como ia dizendo, é evidente que, estando Barack César na cidade, todas as forças progressistas iriam, em uníssono, expressar seu repúdio. E isso é legítimo e permitido pelo ordenamento jurídico vigente.

Ei, Senhor Autoridade. Não estou falando em revolução (quem me dera estivesse): estou falando em "liberdade de opinião", em "liberdade de expressão" etc. etc, e todas aquelas belas palavras que adornam o art. 5º da Constituição, o dos "direitos e garantias fundamentais". O básico do básico. Mas a máquina policial repressiva do aparato do governador Sérgio Cabral não quer saber de nada disso: o saldo dessa legítima manifestação de opinião foram treze presos, sendo um deles um menor (2).

Alguém, infiltrado entre os manifestantes, teria jogado um coquetel molotov no consulado ianque. Mas, Senhor Autoridade, quem foi esse "alguém"? Na dúvida, espanca-se, prende-se e atropela-se, à base de cassetete e gás lacrimogêneo, a quem quer que passe pela frente? Talvez, para a polícia de Sua Excelência Sérgio Cabral, manifestantes sejam sinônimo de terroristas. E a mais perigosa deles, com certeza, é Maria de Lourdes Pereira da Silva, a "Vovó Tricolor", de 69 anos (3). O aspecto caricato da situação mostra o quão absurdo é o modus operandi da polícia de Cabral, que, naturalmente, precisava levar os perigosos terroristas (a Vovó Tricolor inclusive) para o presídio de Bangu (as mulheres, Água Santa), onde tiveram as cabeças raspadas, como marginais, sob a alegação cínica das autoridades de que aquilo é de praxe.

Como lembra Lênin, "para Marx, o Estado é um órgão de dominação de classe, um órgão de submissão de uma classe por outra" (4). Não é só o Executivo o reacionário, aqui. Outro braço do Estado, o Judiciário, mostrou bem a quem serve e negou a liberdade aos "terroristas", durante o período em que Barack César permaneceu no Brasil. Mas, Senhor Autoridade, e Daniel Dantas, como foi mesmo a história? Dois habeas corpus concedidos em menos de 48 horas? Ah, claro, o banqueiro Daniel Dantas é um cidadão respeitável, e não um terrorista perigoso como a Vovó Tricolor e seus terríveis sequazes.

Não poderíamos esperar conduta diferente de Cabral e do Judiciário fluminense, como se vê. Seguem à risca a função que lhes compete, a do Estado burguês, qual seja, nas palavras de Trotsky, a da "defesa dos privilégios de propriedade da minoria contra a grande maioria" (5). É o marxismo mais elementar, como dito.

Prender pessoas por expressar opiniões é apenas mostra, por parte do Estado brasileiro, de subserviência aos ditames do alto, de Barack César. Em todas as esferas de governo: é por isso que deixei para falar do governo federal por último. É para lembrar as excelentes palavras de Ivan Pinheiro, secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro, no grande ato das forças populares e socialistas no bairro da Glória, no dia 21 no Rio de Janeiro, antes da marcha -obstada pela cavalaria de Cabral- até as cercanias do Theatro Municipal, onde Barack César discursou para os súditos. Pinheiro denunciou algo que muitos deliberadamente fingiam não perceber: antes de serem prisioneiros de Sérgio Cabral, os presos políticos do dia 18 eram, na verdade, prisioneiros de Dilma. E foi aplaudido.

Notas

(1) Neoliberalismo este que segue inexorável sob Dilma, como falado aqui: http://bit.ly/fnyXrG

(2) Correio do Brasil: "Manifestantes presos na frente do Consulado dos EUA foram transferidos para presídio" - http://bit.ly/hWU236

(3) Do sítio do Luís Nassif: "Após partida de Obama, soltaram a Vovó Tricolor" - http://bit.ly/h7fiML

(4) V. Lênin, "O Estado e a revolução".

(5) Leon Trotsky, "A revolução traída".


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