Obama dá nó em pingo d'água, mas não garante o que seria dessa oposição não fosse o imenso poderio militar externo que acorreu em sua ajuda. Dá nó em pingo d'água para tentar convencer o mundo de que só interveio no processo por apego dos EUA "a valores" humanitários. Mas não consegue se livrar da marca histórica das intervenções americanas contra governos progressistas e democráticos, quando feriam "valores" patrimoniais do complexo industrial-militar-petroleiro ianques, ou os conceitos ideológicos fundamentalistas contra revoluções com perspectivas anticapitalistas, ao mesmo tempo em que se faz de desentendido quanto às crueldades executadas por seus sabujos regionais.
Não consegue se livrar dos fantasmas de Arbenz, Salvador Allende, Mossadegh, Patrice Lumumba, apenas para citar os que direta, ou indiretamente – através de cúmplices interpostos –, os ianques assassinaram ao longo do século XX. Não consegue se livrar, principalmente, da diferença de tratamento entre a atenção a uma indefinida oposição líbica, e ao povo palestino de Gaza e Cisjordânia, constantemente massacrado pelo exército dos governos sionistas de Israel.
Não consegue se livrar, enfim, da imagem de seus próprios soldados – no Iraque e no Afeganistão – transformando a tortura e a caça assassina a civis num esporte macabro.
Kadafi, repito, é um rato que se vendeu aos que hoje o massacram. Paga pela traição a um belo passado. Mas o que será posto no seu lugar - prometendo colocar na principal avenida de Benghazi o nome de Boulevard Sarkozy – não será, certamente, nada melhor do que ele.
Talvez só seja semelhante à parte podre de Kadafi, sem nunca ter tido tintura do seu período progressista.