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Juliano Medeiros

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Com os povos árabes, contra o imperialismo e o retrocesso

Juliano Medeiros - Publicado: Sábado, 12 Março 2011 00:49

Juliano Medeiros

Há várias semanas, desde que tiveram início os protestos que levaram à queda do ex-presidente da Tunísia, Ben Ali, os olhares do mundo todo estão voltados para o mundo árabe.


A queda de regimes autoritários, o surgimento de novas organizações populares e o constrangimento a que têm sido submetidas diariamente as potências imperialistas ao defenderem envergonhadamente a renúncia de seus ex-aliados, anima lutadores sociais de todo mundo com o que pode ser o início de uma nova etapa na história dos povos de origem árabe.

Ao contrário do que afirmava a retórica das potências ocidentais, em especial dos EUA, o que levou à queda de dois de seus mais fiéis regimes não foi o islamismo fundamentalista, mas a combinação do fracasso da política de submissão ao imperialismo e o desejo de liberdade dos povos daquela região. Essa mistura explosiva foi o que alimentou as quase quinhentas greves promovidas pelo sindicalismo classista no Egito em 2009, mesmo sob a perseguição do governo de Hosni Mubarak (o que contraria a versão das agências ocidentais, segundo a qual a rebelião teve início a partir da nova geração de jovens que domina as redes sociais e admira o american way of life). Essa mesma combinação já havia sido responsável, em 1981, pelo atentado que vitimou o então presidente Anwar Al Sadat, já em franca aproximação com o imperialismo estadunidense, além de uma série de outras crises políticas desde então.

O caso da Tunísia é ainda mais emblemático. Vitrine das políticas privatistas do Fundo Monetário Internacional (FMI) nas últimas duas décadas, com a privatização de mais de 200 empresas públicas, o país ostenta uma taxa de 36% de jovens desempregados e um dos dez piores sistemas educacionais do planeta, segundo dados da OCDE.

Mesmo na Líbia, onde as estatísticas comprovam de forma inequívoca os avanços trazidos pela revolução que levou Khadafi ao poder em 1969, a vontade de mudanças parece irrefreável. A Líbia tem o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da África, uma expectativa de vida de 75 anos, um forte sistema de saúde e educação estatais e a oitava maior reserva de petróleo do planeta. Porém, os quase 30% de desempregados, a falta de liberdade política, a corrupção e as violentas medidas anti-migratórias, além das disputas tribais características do país, tem alimentado um descontentamento que agora explode em forma de revolta.

Porém, como bem lembra James Petras, é cedo para comemorar. A queda de dois regimes aliados do imperialismo por si só não traz consigo conquistas objetivas para a luta dos trabalhadores.

Se por um lado, os regimes que ora tem sido contestados haviam se convertido em aliados dos interesses estrangeiros na região, por outro, não há garantias de que o que virá será melhor. A tese que afirma que "nada pode ser pior" conduz ao erro. Na Líbia, como bem alertou o comandante Fidel Castro, há indícios claros de que o imperialismo prepara uma intervenção militar para preservar seus interesses na região. Isso seria, sem dúvida, um retrocesso tremendo. No Egito, a Junta Militar, financiada por décadas pelo Departamento de Estados dos EUA, trabalha para assegurar uma transição que mantenha o establishment anterior o mais intocado possível; enquanto na Tunísia, mesmo com a formação de um governo provisório sem a presença de elementos do antigo regime, ainda é cedo para apostar numa transição para algo efetivamente mais avançado. Por isso, saudar a "revolução" árabe como tal, não é só um erro conceitual (desde uma apropriação marxiana do conceito), como também um equívoco tático, que pode levar os trabalhadores a acreditarem que a luta travada até aqui se satisfaz apenas com a conquista de algumas reformas democratizantes.

Há ainda muito o que refletir, sobretudo sobre o papel dos militantes do socialismo e da democracia diante dos acontecimentos em curso. Temas para reflexões posteriores que consumirão a atenção da esquerda socialista por muito tempo. Unamérica será um espaço à serviço deste exercício.


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