Era o processo de "industrialização por substituição de importações". Forte desde a Grande Depressão, de 1930, ele intensificou-se com a militarização da indústria das grandes potências, com a guerra. Foi assim que deixamos de ser exportadores de produtos primários e importadores de manufaturados. Tudo nos tempos do velho Getúlio.
Na segunda-feira passada, comprei, em um grande supermercado, esferográfica fabricada na Índia, tão ruim e cara como as nacionais. Setenta anos passados, presenciamos espécie processo de "desindustrialização por importação do que já é produzido no país". Segundo os paladinos da globalização, um salto em avante, atrasado em relação às grandes nações que, hoje, correm desesperadas atrás do prejuízo!
Depois de gritar por décadas o fim do modelo industrial, o capitalismo USA tenta sair do buraco com a depreciação incessante de sua moeda, para desvalorizar sua imensa dívida [em dólares] e relançar a produção fabril. Mas, para que a exportação da crise funcione, é necessário que as demais nações se valorizem, para que passem de vendedoras a compradoras.
A China, a grande fábrica do mundo, não querendo financiar a restauração industrial yankee, ligou a sorte de sua moeda ao dólar, mantendo a competitividade. A zona do euro, sem a versatilidade nacional, paga a valorização relativa da sua moeda em relação ao dólar, com retomada pífia da produção, que periga despencar na retração.
O Brasil, não! – segue obediente à instrução estadunidense do "faça o que eu digo e não o que faço". Hoje o real é talvez a moeda mais inflada do mundo. O que satisfaz aos interesses a ela atrelados e, certamente, às classes médias que viajam pelo mundo rindo dos preços, como os argentinos nos bons tempos do Menen. E ninguém saca que há algo errado, quando até a Suíça deixou de ser cara pro turista tupiniquim!
A grande imprensa grita elogiando o monetarismo radical. Para controlar a inflação, que se mantenham taxas de juro superando de longe as praticadas no mundo. O que motiva enorme entrada de capital especulativo, na procura de remuneração financiada com o sangue e seiva da sociedade brasileira. Uma entrada desenfreada de dólares que valoriza ainda mais o real, favorecendo as importações de manufaturados e penalizando sua exportação.
Para limitar a degringolada do dólar, que vai liquidando setores da indústria no Brasil, os luminares do Banco Central compram carrilhões daquela moeda, com recursos captados no mercado. Os dólares, incorporados às reservas, são aplicados em títulos do governo USA – sem retribuições e em desvalorização! O enorme prejuízo da operação é juntado à dívida pública – quem quiser perder o sono, consulte seu estágio atual!
Essa ciranda macabra se sustenta com a expansão das exportações de commodities, supervalorizadas pela aceleração das grandes locomotivas mundiais, China e Índia, sobretudo. E o país vai se metamorfoseando em país exportador de grão, minérios e derivados. Com nos bons tempos da República Velha!