Sim, porque para além da repressão violenta e do massacre de civis inocentes em manifestações populares, esses três exemplos se caracterizam por ter institucionalizado a tortura contra presos políticos, tanto em seus territórios, como é o caso de Egito e Tunísia, como em territórios ocupados, como é o caso de Israel; E alguém tem notícia de alguma repressão “civilizatória e humanista” mundial contra eles? Não tem, nem terá, porque aí se trata daquilo que Kissinger inventou para justificar o apoio ao golpe de Pinochet contra o governo socialista e democrático de Salvador Allende: “são uns efedepê, mas são só NOSSOS efedepê”. Ou seja, a lei é para os inimigos. Para os amigos, ou cúmplices, melhor definindo, proteção total.
O pecado principal de Kadafi é ter demorado mais para se vender à governabilidade pragmática que assolou corações e mentes de vários governos ditos de esquerda, a partir do que parecia ser a ascensão irreversível da contrarreforma neoliberal na década de 90.
Ou seja, depois de apoiar movimentos revolucionários que, por todo o mundo, receberam sua ajuda – após ter, numa verdadeira revolução progressista contra a monarquia sabuja que entregava a Libia ao imperialismo, desalojado as bases americanas ali instaladas, para além de nacionalizar as companhias de petróleo estrangeiras --, Kadafi terminou por se render. A partir do começo desse século, fez acordos políticos e comerciais com o que havia de pior no Ocidente “civilizado”. Terminou cupincha do fascista espanhol Aznar e do patético Berlusconi. Acertou-se com os Estados Unidos.
Mas o fez muito tarde. Diferentemente de Mubarak e Ben Ali que sempre foram parceiros, que sempre foram sabujos. E que, por isso, precisam ser poupados para que muito podre comum não venha à tona.