Foi no dia 7, às sete da manhã, da nosso apartamento no Bairro de Santa Teresa eu vi uma nuvem monstruosa, escurecendo o céu. No primeiro momento eu pensei que iria acontecer uma grande tempestade. Mas o meu raciocínio foi errado. A nuvem não foi criada pelas águas do mar e da floresta evaporada pelo calor do verão. A nuvem foi criada com elementos altamente tóxicos: dioxinas, óxidos de metais pesados, ácido clorídico, fuligem e outras substâncias cancerígenas, além de monóxido de carbono e dióxido de carbono.
Este nuvem foi visível de quase todos os bairros do Grande Rio de Janeiro com os seus mais de 11 milhões de habitantes e teve a sua causa nas chamas da Cidade do Samba. Por horas a enorme coluna de fumaça ameaçou a cidade maravilhosa e mudou a rota dos aviões. Os bombeiros chegaram tarde demais e mal preparados na Cidade do Samba em chamas, um complexo perto do porto do Rio que foi inaugurado exatamente há 5 anos antes, em 4 de fevereiro de 2006.
Naquele ano, as 14 escolas de samba do Grupo Especial foram transferidas para este lugar que foi construída com o dinheiro público de R$ 102.632.241, o que significa mais ou menos 40 milhões de Euros! De acordo com a Prefeitura: "A transferência das escolas foi muito comemorada pela comunidade do samba e definida pelos dirigentes das agremiações como uma passagem do 'inferno´ para o 'paraíso´. De fato, a Cidade do Samba marca o início de uma nova fase do Carnaval do Rio de Janeiro, onde as escolas começam a produzir seus desfiles de forma mais organizada, graças à moderna infraestrutura oferecida dentro e fora dos barracões."
A realidade, que nós sabemos hoje, é uma outra, uma realidade escandalosa. Não funcionaram ou não existiam "chuveirinhos" e extintores de incêndio no lugar. Já em novembro de 2010, as escolas reclamaram a falta de água nos sprinklers. Mas todo mundo sabe que as fantasias de carnaval são feitas com materiais altamente inflamáveis, como sintéticos à base de petróleo. O jornal Extra, do Grupo Globo, intitulou no dia seguinte do incêndio: "Portas corta-fogo: nota zero; Detector de fumaça: nota zero; Brigada de incêndio: nota zero; Chuveirinho antichama: nota zero"
As chamas do carnaval mostram a realidade do Rio de Janeiro hoje, mostram como os responsáveis, os políticos e os técnicos ainda colocam a saúde do povo e do ambiente em risco. 19 anos depois do grande evento internacional sobre meio ambiente, a UNCED 1992, reconhecido também como Rio 92, nada mudou no Brasil. Ao contrário! Tudo piorou. O desmatamento do Cerrado, da Caatinga, da Restinga, da Mata Atlântica e da Floresta Amazônica continuam e paralelo a isso, a produção e o uso de plásticos e de outros produtos não-sustentáveis e tóxicos aumentaram.
O lixo plástico, os descartáveis, se acumulam em todas as esquinas da cidade. E o Governo Lula junto com o Governo do Rio de Janeiro inauguraram no último ano, com grande orgulho, as obras do novo complexo petroquímico, nas portas da cidade maravilhosa, em Itaboraí. Este lugar é até agora um dos lugares mais férteis da região, onde são produzidos uma grande quantidade dos alimentos, frutas e legumes para as cidades Rio de Janeiro e Niteroi.
Podemos chamar de responsável ou sustentável colocar no meio desta região fértil fábricas petroquímicas?
As chamas de Carnaval revelou também uma outra realidade: Um sistema de segurança civil mau financiada e mal preparada, num momento sensível, quando o Governo do Brasil anunciou mais usinas nucleares, mais minas de Urânio no Norte do Brasil e em frente do Rio de Janeiro a construção do primeiro Submarino Nuclear da America Latina.
Podemos acreditar que os políticos e técnicos que não conseguiram fazer um prédio seguro para a produção de fantasias de carnaval tem a capacidade de construir complexos nucleares altamente seguros? Podemos acreditar que a Defesa Civil que não conseguiu controlar algumas toneladas de sintéticos e outros plásticos tem a capacidade de controlar um acidente nuclear?
Um forte abraço da cidade do carnaval maravilhosa
Norbert Suchanek
Postscriptum: Eu não sou contra o carnaval do Rio de Janeiro. Mas realmente: as fantasias de um Carnaval do Século 21 precisam ser feitas com materiais naturais, fibras naturais, materiais não tóxicos e materiais que não precisam de um complexo petroquímico e que são em sua maioria difícil de inflamar, como o algodão orgânico. Isso é uma utopia? Espero que as chamas do Carnaval 2011 sirva de lição aos carnavalescos do Brasil.