Isto, traduzido para cifras brutas, dá mais de 51.000 galegas e galegos que nom tenhem emprego nestes momentos. Mais de 51.000 indivíduos de entre 16 e 30 anos que nem tenhem sítio no mercado laboral nem tenhem hipótese de o encontrar a curto ou meio prazo. Um panorama desolador, que dá para refletir muito e dificilmente se daria essa reflexom sem um resultado final de clara crítica radical do sistema. Porque já nom se pode sustentar isso de que há desemprego a causa de que as pessoas jovens nom tenhem umha preparaçom acorde com as exigências do mercado, ou explicaçons tecnocráticas desse tipo. A questom é que a mao de obra potencial jovem, de todos os perfís, qualificada em maior ou menor medida ou sem qualificar, nom encontra trabalho na sua terra.
Som vozes nada críticas com o sistema as que dim que mesmo a maioria das pessoas jovens com formaçom universitária nos próximos anos vam permanecer no desemprego longas temporadas e vam trabalhar no que forem encontrando, com contratos de pouca duraçom.
A alternativa, a que sempre surgiu quando vinhérom tempos duros: a emigraçom. A diferença é que desta vez som as instituiçons do regime as que lhes assinalam a porta de saída. Mais que ser umha diferença, digamos que nesta ocasiom fai-se de umha maneira especialmente menifesta, utilizando o aparelho de propaganda com toda a sua força: webs institucionais, meios de comunicaçom de massas, todas as canles de formaçom e orientaçom laboral... todas as vozes falam de formar-se para emigrar e poder vender em condiçons a força de trabalho jovem fora do nosso país. Especialmente fala-se da Alemanha, a maior potência europeia.
Isto provoca-nos um dejá-vú um bocado tragicómico: se houvesse que chamá-lo de algumha maneira teria nome de filme do Alfredo Landa ("Vente a Alemania, Pepe"). Com efeito, a retro-tracçom aos anos sessenta e setenta, com aquelas diásporas pactuadas entre governos europeus e o regime franquista (à França, à Alemanha, à Bélgica...) é inevitável e isto a fim de contas é o mesmo ainda que os tempos sejam outros e as maneiras de operar sejam até certo ponto diferentes.
No filme do Landa, Pepe era aragonês, mas qualquer galego da época conhecia um Pepe, ou fora nalgum momento Pepe, ou pensara em ser Pepe, ou sabia que em qualquer momento lhe havia tocar ser Pepe. Aquele Pepe de Chantada, da Ribeira, de Lalím, do Barco, provavelmente era semi-analfabeto, nom saíra nunca da sua paróquia (se nom fosse para fazer a tropa) levava boina e umha mala enorme com cobertores, um par de mudas de roupa interior e uns chouriços da aldeia. Ia cara outros pagos da Europa fazer trabalhos de força bruta, no campo, na construçom, na mina.
Hoje Pepe é Adriám, Óscar, Samuel, Aróm, Antia, Sílvia, Zaira... tenhem titulaçons superiores, em muitos casos, ou licenciaturas... vam trabalhar no campo das novas tecnologias, na investigaçom, na área sócio-sanitária, na banca... mas por inclusive menos de metade de salário do que os seus colegas naturais do país de acolhimento ou do que outros trabalhadores e trabalhadoras procedentes doutros países europeus. É, segundo alguns, umha "vantagem" com que jogam @s noss@s jovens em campo alheio. A falta de consciência nacional e a dissoluçom da consciência de classe jogam a favor desta diáspora organizada. Adriám, Antia, Zaira, Samuel... venhem de famílias trabalhadoras, mas eles e elas estudárom precisamente para deixar de ser trabalhadores e trabalhadoras, para ascender socialmente... nom se imaginam filiad@s a um sindicato, nom se imaginam numha assembleia e menos numha manifestaçom, num piquete, ou simplesmente fazendo greve. Sair da Galiza, para alguns seria um prémio, mais um chanço para deixar atrás aquilo que sempre quigérom superar. Para outr@s se calhar nom, mas o tema os colheria a contrapé... viajar à Alemanha ou a outros países era imaginável noutro contexto; com intuitos turísticos em qualquer caso.
A questom é que toda umha geraçom tem agora que apresentar a si própria a disjuntiva de aceitar esta realidade tal como lhe vem, ou rebelar-se contra ela. Evidentemente a esquerda independentista nom pode permitir a ressignaçom nem a passividade desta sociedade perante o facto de que ao nosso país lhe chuchem o sangue novo. Frente ao "Vente a Alemania, Pepe" ressuscitado polo regime bourbónico temos que de novo brandir a velha palavra de ordem "Postos de trabalho na nossa terra!". É inadmissível que centrais sindicais que ainda se autodenominam "de classe" se somem ao coro daqueles que reproduzem as ideias força que o sistema utiliza para recrutar novos Pepes para a Alemanha. Concretamente refiro-me a CCOO, umha das assinantes dos novos pactos multilaterais sobre emprego, pensons, energia e... um et caetera indeterminado de questons estratégicas de estado, cujo conteúdo seguramente nunca conheceremos. O seu secretário geral na Galiza dizia recentemente que a situaçom do mercado laboral galego, crítica e sem perspectivas de melhorar, determinaria a decisom de muitos e muitas jovens para tomar o caminho da emigraçom. Como pode afirmar isto e, com a mesma, opor-se a que se convoque umha greve geral na Galiza? Realmente penso que inclusive a greve geral como instrumento de luita neste caso até fica curta...
Temos que começar a destruir o tópico de que este povo nom protesta, e que em lugar disso emigra. Que Adriám, Antia, Óscar e companhia comecem a ver que os estám a enganar, que os estám a instrumentalizar, e sobre todo que lhes estám a roubar, porque lhes estám a privar do direito a viver e trabalhar no seu próprio país. Sementemos a rebeldia, para deixar de exportar mao de obra barata.
Fonte: Primeira Linha.