Mubarak e Suleiman, óbvio, não renunciaram. A perspectiva de uma crise econômica sem tamanho e de rumos políticos indesejados levou os militares de alta patente, alto comando como se costuma dizer, a exigir a saída do ditador e seus vice. Oficiais da patentes intermediárias e mesmo alguns de patentes superiores já estavam emitindo sinais de desaprovação à “neutralidade” dos seus comandantes. Não foram poucos os que despiram as fardas e se juntaram ao povo na Praça da Libertação, a Praça Tahrir.
Sargentos e praças recusavam-se a praticar qualquer ato de repressão, e essa cumplicidade que a mídia privada fala entre os militares e o povo reflete exatamente essa divisão nas forças armadas egípcias.
E, antes que o processo tomasse rumos inesperados, os chefes militares decidiram que o ditador e seu vice deveriam deixar o poder. O processo foi todo ele conduzido por estreitos entendimentos entre esse alto comando e o governo dos EUA. A pressão popular e o temor de virem a perder o controle levou-os – os chefes militares – a salvar, neste momento, os dedos, dando os anéis.
As principais redes de tevê no Brasil, Globo à frente, insistem em dizer que o governo do Irã cortou comunicações para evitar que as imagens da revolta no Egito chegassem aos iranianos.
Mentira. O processo no Irã é completamente diferente do que se vê no Egito.
O medo real é que as revoltas populares se estendam a países árabes governados por ditadores. Jordânia, Arábia Saudita, Iêmen, Argélia e outros e os principais aliados dos EUA – caso de Mubarak – sejam afastados do poder.
Toda essa teia de ditaduras foi pacientemente construída pelos norte-americanos desde a morte de Nasser, a deposição de Ben Bella na busca de uma rede de proteção para o terrorismo sionista.
E, entre outras consequências da revolta no Egito, está a necessidade de Israel repensar suas posições, e isso pace começar a acontecer entre organizações populares. Não será surpresa se, num futuro próximo, os governos terroristas que se sucedem desde o assassinato de Rabin, vierem a enfrentar protestos populares em repúdio às ações genocidas contra palestinos, os saques em territórios palestinos.
O Egito transcende ao Egito, mas o destino do Egito pertence aos egípcios e tão somente a eles, mas a todos os egípcios. As mudanças passam por mudanças também no estamento militar.
O que se bebe dos acontecimentos no Egito é a lição do que pode um povo. E deve continuar querendo e podendo.
Não há nenhum receio no Irã com o que acontece no Egito. O receio real é nos países aliados dos EUA e governados por ditadores.
Ao término da primeira guerra do Iraque o então presidente dos EUA, George Bush, o pai, num reconhecimento implícito dessa natureza ditatorial dos seus aliados, disse ao mundo que haveria reformas no Kwait para a democratização do país. Não houve nenhuma.
A visão de democracia como a temos não é necessariamente a que tem os árabes e nem pode ser. Somos culturas diversas, mas somos todos povos explorados pelo poder imperial dos norte-americanos e no caso específico dos árabes, pelo terrorismo nazisionista.
Nada impede que os povos explorados caminhemos juntos nas nossas diversidades, em torno de ideais e aspirações comuns, ao contrário do que pensa o líder nazista britânico David Cameron.
Um dos apresentadores de telejornais chegou a dizer em meio às transmissões que não só os iranianos, mas os chineses estavam com medo dos acontecimentos no Egito, da repercussão e de eventuais revoltas populares.
Elas estão acontecendo sim, mas nos países aliados dos EUA.
Cuidado, mídia privada e podre distorcendo os fatos.
E nem o Egito é o Irã. Mas os egípcios têm consciência clara que são árabes, que a maioria esmagadora da população é muçulmana e não há lugar para solidariedade e acordos com governos terroristas como o de Israel. É hora de retomar a bandeira da luta palestina.
Isso não implica em guerras necessariamente, mas os israelenses terão que repensar e redesenhar seus governos do contrário sofrerão graves consequências da inconsequência nazisionista.
Por mais estranho que possa parecer, as portas da paz estão se abrindo, mas é preciso percebê-las. E nelas não há lugar para que o terrorismo norte-americano possa entrar, pelo contrário, o que deles lá existir deve ser expulso.
Vivemos um processo semelhante, guardadas as devidas proporções de tempo, espaço e diferenças culturais, na década de 70.
Collor de Mello era o presidente da República e o povo foi às ruas para exigir sua saída. Aqui como lá, o vice, o patético Itamar Franco (até hoje pensa que foi presidente da República) só foi aceito e o impedimento votado depois de dadas garantias às elites políticas e econômicas que tudo ficaria como estava, apenas pareceria estar mudando.
A consequência foi FHC e nessas duas últimas semanas líderes dos movimentos contra Collor, o próprio Collor, Itamar e Lindenberg Faria, se abraçaram e trocaram juras democráticas no Senado.
A velha farsa do clube de amigos e inimigos cordiais.
A revolução no Egito e no Oriente Médio apenas começou, ou segue o seu curso, o primeiro momento foi a revolução islâmica no Irã. Mas o destino do Egito pertence aos egípcios.
E só a eles. A nós, povos explorados, nos cabe embriagarmos com a lição da coragem, da determinação, do destemor e caminharmos quando os passos dados à frente no governo Lula começam a dar sinais que se perderão na visão “patriota” de Dilma Rousseff.
Os egípcios dão uma lição ao mundo. E há quem diga que são bárbaros ou atrasados.