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Laerte Braga

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A 'reconstrução' do Haiti – O mundo sob o terror dos EUA

Laerte Braga - Publicado: Terça, 25 Janeiro 2011 12:09

Laerte Braga

Igor Kipman é o embaixador do Brasil no Haiti. Domingo, dia 23, disse a jornalistas que o retorno do ex-ditador Jean Claude Duvalier – Baby Doc – ao país tem um significado importante. A participação de todas as lideranças políticas haitianas no processo de "reconstrução da democracia" naquele país. Isso porque o ex-presidente Jean-Bertrand Aristide, exilado na África do Sul, deve chegar a Porto Príncipe nos próximos dias.


A declaração do embaixador brasileiro se contrapõe ao que ele mesmo disse na quinta-feira, dia 20. Que Jean Claude Duvalier não era bem vindo e que o Brasil não apoiaria qualquer projeto político que envolvesse o ex-ditador.

Já Jean-Bertrand Aristide era o presidente constitucional do Haiti e foi deposto por ação militar norte-americana, que abriu caminho – governo Bush – para a intervenção das Nações Unidas e todos esses anos de ocupação e barbárie num país devastado pela fome, pela miséria e agora pelas consequências trágicas de um terremoto em janeiro do ano passado.

O Haiti vive uma epidemia de cólera e a ação das "forças de paz", nem estabelece a paz, nem controla a doença (os haitianos preferem os médicos cubanos que lá estão por conta do governo de Havana) e muito menos reconstrói a democracia com figuras sinistras como Duvalier e Aristide.

Duvalier foi presidente do país após a morte de seu pai, o Papa Doc, François Duvalier. Assumiu o poder com 19 anos de idade e governou até os 29. Entre 1957 e 1971 o pai, François, montou um dos mais brutais regimes de terror e medo da história, e até 1986, por quinze anos, o filho Baby Doc manteve a barbárie.

Uma ação judicial na Suíça impediu que perto – continua impedindo – de 500 milhões de dólares desviados por Baby Doc sejam restituídos ao ex-ditador.

O terror instalado por François Duvalier incluía o Vudú, prática que permanece ainda no país e consiste em algo como culto assassino, culto voltado para o mau.

O acordo que teria sido feito entre o ex-ditador, o governo e forças de ocupação, pode implicar na devolução do dinheiro depositado em bancos suíços ao país, ao governo e em troca Duvalier não seria processado. Por extensão, recupera seus direitos políticos.

Já com Jean-Bertrand Aristide não se tem detalhes de que tipo de acordo pode ter sido feito, mesmo porque o ex-presidente ainda não pisou em solo haitiano, continua na África do Sul.

Com a disputa eleitoral mergulhada em fraude reconhecida pela ONU, tudo indica que um "consenso democrático" vai ser obtido.

Na prática isso representa entre outras coisas a entrega das reservas de petróleo do Haiti – inexploradas – a companhias norte-americanas. Estratégicas e fundamentais, ainda mais agora que a Venezuela anunciou novas jazidas que a transformam no país com as maiores reservas de petróleo em todo o mundo.

A mudança do ponto de vista do embaixador brasileiro tem outro significado. Em tese, só em tese, o Brasil comanda as forças de paz. Mas o "comandante" é sempre o último a saber do que está acontecendo, já que, na verdade, as forças brasileiras detêm um comando nominal e pronto. Não conseguem ir além do serviço de polícia em determinadas regiões do país e algumas operações cosméticas chamadas de Cívico Sociais.

Em momento algum o Brasil foi informado das negociações entre o governo haitiano (controlado de dentro do palácio por funcionários norte-americanos) e os dois ex-governantes.

Outra "atividade" das forças brasileiras no Haiti contou com a presença do embaixador do Brasil e do representante da ONU. A "Jornada Haitiana do Esporte Pela Paz", uma corrida de seis quilômetros pelas ruas de Porto Príncipe, patrocinada e organizada pelas tropas brasileiras. No domingo, dia 23. Ambos se mostravam visivelmente abatidos por não terem sido informados da decisão dos norte-americanos, verdadeiros controladores do país.

Noutra ponta, no Paquistão, ditadura militar sustentada pelos EUA e base de operações para "libertar" o Afeganistão, a jovem Saima Bibi, de 17 anos, foi eletrocutada por seus familiares, por ter se apaixonado por um homem que a família não aprovava. O corpo de Saima revelava sinais de tortura, queimaduras no pescoço e nas mãos.

Segundo o primeiro-ministro Yusuf Raza Gilani, "um triste incidente". Ao invés de atitudes, pediu apenas um relatório sobre o fato. A frágil construção do governo paquistanês (uma das empresas mais rentáveis no ramo das ditaduras militares e terroristas – dólares dos EUA e tráfico de drogas) impede que o governo rompa com costumes medievais que prevalecem em tribos ao longo do país.

Centenas de mulheres são mortas todo ano (no Paquistão) nessa barbárie que se chama "morte por honra".

Os EUA não se envolvem no assunto, alegando que se trata de "assunto interno do governo paquistanês".

Imagine se fosse no Irã. Os esforços do presidente Mahmoud Ahmadinejad para evitar o apedrejamento da iraniana Sakineh (foi suspenso), atendendo a um apelo do presidente brasileiro Luís Inácio Lula da Silva, a revisão de seu processo, acusada de cúmplice no assassinato de seu marido?

Ou um palestino numa reação contra o terrorismo sionista do governo de Israel?

Nem os EUA formam uma nação, tampouco a Suíça. São conglomerados que operam associados entre si o terror real que domina e mantém o mundo sob a maior de todas as barbáries, o que chamam de Nova Ordem Mundial, o capitalismo.

Apedrejar no Irã é "violência inominável". Eletrocutar no Paquistão "é assunto interno".

E assim vão "reconstruindo" o Haiti. E espalhando "democracia" pelo mundo.


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