Um contexto de crise profunda, com quase um quarto da populaçom do estado em situaçom de desemprego, num momento no que o governo espanhol está a anunciar importantes recurtamentos sociais, com muitas famílias e indivíduos sofrendo diferentes graos de pobreza e tendo que pedir assistência alimentar, com um número astronómico de pessoas a morar na rua...e, no meio de todo este panorama quase apocalíptico, e sem que tenha umha aparente relaçom, aparece um colectivo de trabalhadores e trabalhadoras com umhas condiçons de trabalho um bocado peculiares e que aliás tenhem fama de privilegiados polos astronómicos salários que tenhem, porque é o próprio colectivo quem controla o accesso à profissom, etc. Que precisamente se declare em greve um colectivo que arrasta umha reputaçom assim, cai como umha bomba no ánimo d@sdesempregad@s, d@s trabalhadores e trabalhadoras em precário, ou naqueles e aquelas que vem ameaçado o seu posto de trabalho, ou que sabem que se vam ter que aposentar mais tarde para que cadrem certas contas do estado que começam a nom cadrar. Ou simplesmente pode ser umha espécie de provocaçom para a legiom de assalariad@s que, por jornadas laborais que duplicam o estipulado por convénio, tenhem que conformar-se com ordenados de nom mais de 2.000 euros, às vezes menos de mil. Por nom falar do enorme número de afectad@s directamente pola greve; desde pessoas que perderom quantias astronómicas de dinheiro e as suas férias pola apariçom do conflito, até trabalhadores inmigrantes que iam embora de visita aos seus países de origem e nom puiderom viajar.
Um panorama de indignaçom quase geral, onde nom se sabe muito bem o quê é que procuram estas pessoas, que segundo muit@s nom tenhem motivo qualquer para se queixar. Argumentos para armar dialecticamente a quem quixer cargar contra os grevistas forom profusamente difundidos, repetidos com umha insistência quase de trance...das reivindicaçons reais dos controladores pouco se falou. Pouca gente se dá conta ainda agora de que o que há sobre o tapete é nada menos que a privatizaçom dos aeroportos. Isto, naturalmente, afecta aos controladores, que já tinham problemas de jornadas laborais dilatadas e sem direito a baixas e permissons como as que disfruta qualquer outro colectivo, já que umha vez que passem a trabalhar em empresas privadas as suas condiçons laborais irám a pior, pressumivelmente. Mais ainda afecta a outros colectivos que também trabalham nos aeroportos e que tenhem níveis adquisitivos muito mais baixos. Trabalhará-se mais, em piores condiçons e cobrando menos (conseqüências típicas das privatizaçons) e investirá-se menos em formaçom.
Isto, aos e às utentes dos aeroportos tem-lhes que preocupar também. Se o pessoal de um aeroporto está pior formado, pior pagado, menos motivado e trabalhando em joornadas de verdadeira fatiga a qualidade dos serviços e a segurança verám-se resentidas. Procurando informaçom sobre o tema da privatizaçom dos aeroportos lembro ter encontrado um artigo de L.C. Gómez – Pintado no web luchainternacionalista.org (do ano 2007 já) que fazia mençom à privatizaçom do serviço de handling em El Prat, cousa que deu lugar a um incremento de extravíos e roubos de bagagem espectacular. Relatava aliás algum episódio de motim entre os passageiros.
A questom é que também nom é que o polémico grémio dos controladores aéreos andivera excessivamente hábil à hora de manejar o conflito. A greve nom seguiu uns cauzes convencionais, foi umha vaga de baixas laborais, que ao governo espanhol nom lhe custou apresentar como um boicote desleal e anti-patriótico. Nesse contexto, decreta-se o estado de alarme.
Umha imensa maioria da populaçom do estado espanhol a dia de hoje apoia tanto a declaraçom do estado de alarme como a sua prorrogaçom. Nesta altura, essa tortilha é impossível de virar. O colectivo de controladores caiu na armadilha de um governo que alardeia de saber desde há messes que se urdia um boicote, mas que astutamente nom chamou ao diálogo.
Nestes momentos, outros colectivos profissionais vinculados aos aeroportos se estám a manifestar, como anteriormente dizia. Colectivos cujos salários nom som tam astronómicos como os dos controladores. E que sofrirám as conseqüências do processo de privatizaçom. Também o sofrirá a populaçom do estado espanhol. Se o sector público deixa de controlar esse serviço, precarizará-se para quem menos poder adquisitivo tenha e elitizará-se para quem tenha maior nível económico. Vai-se vender o 49% da gestom de AENA e porá-se à venda também a totalidade da gestom de vários aeroportos, mas disso nom se fala, nom se debate. É umha questom absolutamente eclipsada polo pretenso acto de anti-patriotismo dos controladores aéreos. Provavelmente, noutros processos de privatizaçom assistamos a episódios parecidos.
Mas o mais grave de tudo, está no precedente que se cria, como já se tem comentado e demostrado, com o decreto do estado de alarme, ponhendo a um colectivo de trabalhadores sob disciplina militar. Quê poderá acontecer à partir de agora em qualquer situaçom de greve num sector considerado estratégico, ou de necessidade prioritária, ou quê pode acontecer numha greve geral?
Está sentado o precedente para que o estado neutralice os conflitos laborais manu militari. E sabemos que as medidas que virám "para combater a crise" continuarám a bater naqueles e naquelas que temos menos. E que nom é umha questom de quem governar no estado espanhol ou na CAG; a Uniom Europeia e o Banco Mundial ditarom umhas pautas, e aos estados toca-lhes obedecer. Será inevitável que se acrescente a conflituosidade social.
Ponhamos atençom, nom nos fagam perder a perspectiva e um dia amanheçamos com a nossa liberdade pendurando de um fuzil...
Fonte: Primeira Linha.