Não só serão abertas novas oportunidades para o seu próprio país, como se romperá o atrofiado e decadente Estado britânico, debilitando-se a sua eficácia como vassalo dos Estados Unidos.
Daí os apelos de Obama e Hillary Clinton a votar 'Não', um sentimento que Blair compartilha plenamente, mas que não se atreve a admitir por medo de que a sua intervenção possa inclinar a balança na direção oposta. Não há nenhuma questão de princípio aqui, só interesses imperiais.
Os EUA aceleraram a desintegração do velho Estado soviético, primeiro as repúblicas bálticas, depois a Ucrânia e a Ásia Central. Seguiu-se a destruição da Jugoslávia. Se aconteceu com a Letónia e a Eslovénia, por que não a Escócia? Afinal, o SNP decidiu (infelizmente) permanecer na NATO.
Foram intelectualmente muito estimulantes as duas viagens que fiz à Escócia neste verão para assistir e participar nos debates sérios que têm lugar em salões, igrejas, ruas, bares e casas. Que contraste com a lúgubre velha Inglaterra, onde os três grandes partidos e todos os meios de comunicação estão contra a independência da Escócia!
A campanha do "Não" carece de sentido e subtileza, e baseia-se exclusivamente no medo. Mas são as forças do conservadorismo pessimista na Escócia que se mostram superficiais e paroquianas. O SNP, e ainda mais a Campanha da Independência Radical, olham para uma Escócia independente através de uma visão internacional. A sua perspetiva fixa-se no modelo norueguês e para além dele. Há uns meses, numa carta aberta ao povo da Escócia publicada pelo Herald, alguns dos principais escritores e intelectuais da Escandinávia apoiaram o nascimento de um Estado independente, recordando aos escoceses que a rotura da Noruega com a Suécia em 1905 também foi precedida de alarmismo, mas melhorou a qualidade de vida e a política em ambos os países.
O notável crescimento do movimento pró-independência é o resultado do desmantelamento do Estado Social feito por Thatcher, com os aplausos e a continuação da sua obra destruidora feita por Blair-Brown. Até então os escoceses tinham decidido apoiar os trabalhistas, fazendo vista grossa à corrupção e a chicana que caracterizaram a máquina do partido na Escócia.
Acabou-se.
Quando um grande número de pessoas deixa de acreditar que possa exercer a autodeterminação política dentro da ordem social existente, começa a olhar para além dos partidos de governo tradicionais. No continente (e em Inglaterra) isto levou ao crescimento da direita. Na Escócia o que se pede é a autodeterminação nacional, social e política: em termos concretos, isto significa uma social democracia humanista.
Mesmo que o medo desemboque numa maioria unionista, todos estão de acordo que as coisas nunca mais voltarão a ser iguais.
E se a Escócia ganhar, talvez a calma sonolenta da política inglesa seja abalada.
Tradução Carlos Santos.