Abaixo, transcrevemos extratos da entrevista que revelam o atual estágio da luta do palestino pela sua libertação e a necessidade de fortalecer a solidariedade antiimperialista para derrotar o sionismo.
Balanço da guerra com Israel
Israel sofreu uma dura derrota na guerra que empreendeu contra os palestinos no ano passado. Ainda que pesem os massacres e os criminosos bombardeios que destruíram muitos prédios em Gaza, os tanques israelenses não puderam avançar mais de vinte metros sobre o território palestino em virtude da resistência popular e da guerrilha organizada. Essa é uma verdade que os próprios sionistas reconhecem.
Apesar da enorme diferença de recursos entre o exército de Israel e o povo palestino de Gaza, mais de 32 soldados israelenses foram mortos em combate, demonstrando toda a vitalidade da resistência.
Essa situação demonstra que por mais que Israel tenha superioridade técnica para vencer guerras contra formas clássicas de Estado, quando se encontra em luta contra movimentos sociais com forte apoio popular Israel fica em grande dificuldade. Este fato também ocorreu quando da guerra com o Hezbollah na fronteira com o Líbano em 2006.
Condições para a vitória
A unidade dos grupos palestinos em resposta à agressão foi um fator fundamental para conquistar essa vitória. No mesmo sentido, a divisão sectária dos palestinos em regiões (Fatah na Cisjordânia e o Hamas em Gaza) enfraquece e joga contra os objetivos palestinos. A FPLP defende que a unidade lograda no campo de batalha se transforme também em unidade política na frente única de luta.
No momento atual, a FPLP trabalha pela construção de Frente Nacional que reúna os diferentes movimentos de mulheres, de trabalhadores, de camponeses e de estudantes para lograr avanços na batalha política pela libertação palestina.
A luta na frente internacional
A agressão sionista gerou um enorme movimento de solidariedade aos palestinos em todo o mundo, em uma proporção nunca antes vista. Marchas foram organizadas em todas as grandes cidades e mais gente ficou ciente da situação dos palestinos e da sua luta por liberdade.
A FPLP considera que é necessário fortalecer esta unidade na frente internacional impulsionando ações de boicote ao Estado sionista de Israel. Esse boicote deve acontecer em várias frentes: comercial, cultural, em convênios de cooperação científica e militar.
É preciso que os povos do mundo se reúnam para exigir que seus países não colaborem com um Estado que promove um verdadeiro genocídio contra o povo palestino.
A situação no mundo árabe
A principal estratégia dos imperialistas para com os árabes é a de promover divisões sectárias no meio da nacionalidade, impedindo a luta conjunta pela autodeterminação do nosso povo. Dividir o povo entre Xiitas, Sunitas, Alauitas, Maronitas e etc é a principal estratégia de EUA e Israel para a região.
O imperialismo percebe que a questão Palestina unifica todos os árabes na defesa de nossa autodeterminação. Dessa maneira pretende implantar no seio dos palestinos as diferenças sectárias.
Dessa maneira, é fundamental para o imperialismo que as guerras sejam sempre implementadas em nossa região, não apenas para vender armas mas, também, para manter Israel forte em relação aos outros países. O sonho do imperialismo é o de implantar o modelo de divisão e degeneração estatal do Afeganistão e do Iraque em todos os países árabes.
É também dentro desse contexto que a FPLP enxerga as atuais lutas políticas no interior de países como a Síria, por exemplo.
Ao entender o contexto político dentro da Síria é preciso separar o povo da Síria de seu governo.
A FPLP foi uma das primeiras organizações palestinas a defender o direito das manifestações populares na Síria, contra a corrupção, por direitos sociais e por verdadeira democracia. Ao mesmo tempo, condenamos as intervenções estrangeiras de financiamento a grupos de oposição. Obviamente, nossa posição não agradou nem ao governo nem a oposição, em uma situação muito parecida ao que já havia ocorrido no Iraque antes da invasão dos EUA.
Trata-se de uma região complexa, onde o imperialismo tem sido capaz de promover as divisões nacionais em seu interesse, como no caso do Irã contra o Iraque, ou da Síria em apoio ao Kuwait. Em nossa opinião, as forças políticas de matriz religiosa e conservadora não podem oferecer uma resposta para situação árabe. Essa tarefa cabe à esquerda revolucionária.
Campanha de libertação de Ahmed Sa’adat
Ahmed Sa’adat é o secretário-geral da FPLP desde 2001. Deputado do parlamento palestino, Ahmed foi preso injustamente pela Autoridade Palestina em virtude de suas opiniões contrárias a invasão israelense e pelo direito de autodeterminação do povo palestino.
No dia 14 de março de 2006, as forças israelenses atacaram e invadiram a prisão da cidade de Jericó, onde Ahmed encontrava-se preso. Nessa ocasião, o exército israelense sequestrou Ahmed e o mantem preso até hoje, sem julgamento.
Chalotte Kates nos contou que o desenvolvimento da campanha pela libertação do secretário-geral da FPLP é muito importante para denunciar os crimes de Israel na região, mas também para denunciar a apatia e cumplicidade de alguns setores da Autoridade Palestina para com os invasores sionistas. Ahmed foi mantido preso em uma prisão palestina contra o julgamento do Supremo Tribunal do país e observadores dos EUA e do Reino Unido se retiraram da prisão para facilitar seu sequestro por Israel.
Mas a campanha pela libertação de Ahmed, também é uma campanha de divulgação de suas ideias, da necessidade de se construir uma Palestina democrática e laica em todo o território invadido. A luta antiimperialista internacional e todos os amantes da democracia e da liberdade devem fortalecer a campanha pela libertação de Ahmed, realizando e divulgando os atos em suas cidades e locais de autuação.
Outra ação importante é a de escrever cartas para prisão onde se encontra Ahmed, demonstrando apoio à sua luta. Mais formas de se envolver na campanha podem ser encontradas no sítio oficial: http://freeahmadsaadat.org/.
*Frente de Luta pela Libertação da Palestina – FPLP: Fundada em 1967, a FPLP tem origem nos movimentos nacionalistas árabes, mas suas raízes são anteriores a 1948. É considerada um partido político da esquerda revolucionária, palestino, árabe e internacionalista. Enquanto frente, participou das lutas de libertação nacional em Omã, Síria, Jordânia e Arábia Saudita. Em seu 7º Congresso, realizado em 2013, a FPLP se definiu com uma organização marxista-leninista da classe trabalhadora que adota o centralismo-democrático como método de organização. Para a frente, os povos árabes vivem ainda na faze de libertação nacional e a esquerda revolucionária tem a responsabilidade de apontar o caminho e dirigir essa luta. A FPLP também se posiciona contra o nacionalismo árabe de corte fascista e de extrema-direita. Na luta comum contra o imperialismo e o sionismo, a FPLP colabora no âmbito militar com organizações islâmicas como o Hamas e o Hezbolah. No âmbito político, a frente desenvolve ações comuns com o Partido Comunista Palestino e o Partido do Povo Palestino, organizações que não contam com braços armados. Sítio oficial em inglês: http://pflp.ps/english/.