Após a suspensão dos diálogos entre o governo e a resistência do leste, em 30 de janeiro, a contínua ofensiva militar ordenada por um governo surgido do golpe continua colocando milhares de civis na mira de uma fantasia anacrônica, do imperialismo, para travar uma "Guerra Fria" com a Rússia.
A instabilidade e as agressões são instrumentos do imperialismo estadunidense e de seus aliados, ou títeres, na ameaça aos povos que não se rendem à sua agenda de dominação. O leste ucraniano, por isso, continua sendo um campo de batalhas entre os opositores – deliberadamente taxados de "separatistas apoiados pelos russos" – e o Exército, apresentado como uma força legítima lutando contra a alegada invasão do território pela Rússia. O contexto desta história é constantemente omitido pela narrativa midiática: os EUA e a liderança europeia buscam de todas as formas assegurar seus interesses na região. No caso da Otan, a ambição é a sua contínua expansão muito além dos já ultrapassados objetivos declarados em outras épocas.
O cessar-fogo do fim de janeiro não se sustenta. Por outro lado, o avanço das tropas a mando do governo contra os civis, assim como a retórica fascista, é alarmantemente tergiversado pelo discurso do império. Com a suspensão das negociações, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, pretende visitar a região para garantir ao presidente Petro Poroshenko e outros oficiais seu apoio ao curso da agressão.
Embora acusem a Rússia de armar e treinar os "rebeldes" no leste ucraniano, o envolvimento dos governos ocidentais enraizou-se antes do golpe que, sobretudo através da União Europeia, legitimaram em fevereiro de 2014. A ofensiva militar lançada pela liderança fascista só tem escalado, ceifando milhares de vidas no leste e instigando a perseguição contra a população local. Mesmo com o rechaço da Rússia às alegações e sua insistência na diplomacia, os EUA e a Otan avaliam o envio de armas e equipamentos sofisticados ao Exército como "resposta ao envolvimento russo" na "intensificação dos combates", sem dar espaço às denúncias dos civis sobre a ofensiva militar.
A Otan e os EUA seguem rufando os tambores da guerra e agredindo os povos em sua contínua política de ingerência e ameaça imperialista. Sua associação às forças fascistas instaladas no poder revela a brutalidade e a truculência da sua agenda de dominação e de retorno às tensões da Guerra Fria.
Denunciamos retiradamente o papel do imperialismo estadunidense e sua máquina de guerra, a Otan, no intensificar das tensões pelo mundo e na desestabilização de regiões inteiras, sobretudo através do ataque e da ameaça contra os povos. Voltamos a exigir a dissolução da aliança belicosa e o fim da política de intimidação e acosso conduzida pelo império, que mais uma vez prenuncia a guerra, instigando a crise instalada no leste europeu.
Socorro Gomes é presidente da Cebrapaz. O Cebrapaz é o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz.