Na região se aplicou com toda a sua intensidade a caçada de escravos com destino às nascentes colônias da América e, posteriormente, implantou-se o sistema colonial baseado na opressão da população autóctone e na exploração dos abundantes recursos naturais em benefício das metrópoles.
Quando se pesquisa de onde e quando chegaram os grupos Mbochi da bacia congolesa, os especialistas referem que só há uma resposta válida e é que esta etnia jamais esteve completamente isolada de outros povos da África Central e do Congo em particular.
Os movimentos humanos são mais complexos do que habitualmente se pensa, afirma Theophile Obenga, diretor do Centro de Investigações da Civilização Bantú, com sede no Gabão, e acrescenta que também se manifestaram influências culturais provenientes de várias direções do continente.
Os pigmeus, caçadores e recolectores, são quiçá as testemunhas de populações pré-históricas e no continente africano há exemplos de sobrevivência pré-histórica.
No século I, essas populações primitivas começaram a ser empurradas para os bosques tropicais pelas migrações dos bantos. No seu início esses movimentos migratórios bantos provinham com toda probabilidade da região dos Grandes Lagos e do Vale do Nilo.
Alguns movimentos migratórios secundários partiram do norte do Camarões atual. Vários reinos conformaram a organização política do povo Mbochi. A criação desses conjuntos político culturais situa-se entre os anos seiscentos e mil 300 da nossa era.
O termo "N si" serve para descrever o espaço nacional ocupado pela etnia completa, isto implica uma homogeneidade tribal bem como uma integridade territorial.
A terra era considerada um legado ancestral pertencente a todos os membros da etnia concentrada nos clãs, que ocupavam determinados lugares do povo e todo o espaço que este abarcava.
A organização em linhagens paternas e maternas, em famílias, em clãs, conduzia ao reconhecimento de uma autoridade política interclânica na pessoa de um mais velho, quem posteriormente virou rei.
Este soberano era uma espécie de ser sacrossanto que recebia sua legitimidade dos ancestros mortos, fundadores e procriadores da vida coletiva, social e étnica. Essas chefias tradicionais se mantiveram inalteradas até a chegada dos conquistadores europeus a partir do século XV.
A forma de parentesco e a estrutura familiar dos Mbochi eram no fundamental as mesmas de outros grupos étnicos da região e no geral da África Subsaariana, apesar de algumas diferenças nos costumes do casal.
DEFINIÇAO DE POVO
Entre os Mbochi um povo era um espaço nomeado. Cada conglomerado tinha seu nome cuja história sempre era rica em informações: desse nome provinha o sentimento de pertencimento a um povo. Os habitantes de um mesmo povoado eram todos irmãos.
O conjunto de povos agrupados sob a autoridade política reconhecida de um chefe constituía a terra, o domínio geográfico compreendia solos de cultivo, rios, lagoas, bosques, caminhos.
Cada membro adulto e apto da família explorava as riquezas florestais (fauna, vegetais comestíveis, pesca em lagoas), cultivava livremente uma porção de terra herdada dos ancestrais mortos, mas só a título de usufruto, pois os direitos pertenciam à família completa.
O chefe, quem também pertencia a uma linhagem, não possuía a terra da comunidade local de maneira privada: seu papel estava em velar pelo conjunto do patrimônio das famílias independentes, consumar os rituais necessários para a fertilidade do solo, pela abundância da caça.
Em compensação a esses serviços realizados a título de irmão mais velho e de representante dos ancestrais mortos, recebia alguns presentes provenientes da colheita, da caça ou da pesca. Recebia-o porque exercia uma função social, aceitada coletivamente.
A classe dirigente recebia produtos porque detinha uma função de poder. No nível da produção não existia propriedade privada da terra, apropriação privada do solo. Isto era importante em uma sociedade na qual a agricultura constituía o essencial da produção social.
APARECE O FERRO
A descoberta e o trabalho do ferro no país Mbochi se remonta as épocas relativamente longínquas.
Segundo especialistas, o trabalho do ferro de uma maneira geral começou há mais de mil anos.
Os Mbochi fundiam ferro em cada povo. A laterita ferruginosa era extraída das rochas quase a flor da terra. A fundição acontecia em um galpão improvisado,em um buraco mais ou menos grande,
cavado no solo a uma profundidade variável. O fogo era alimentado com carvão de madeira.
A aplicação do ferro facilitou a construção de ferramentas para a agricultura e para fazê-la mais produtiva: cultivava-se mandioca, ñame, amendoim, milho e outras plantas para a alimentação. A plantação era deixada em pousio quando se esgotava.
Os intercâmbios comerciais aconteciam na prática todos os dias da semana, mas os lugares onde se faziam eram fixados anteriormente e variavam de um grupo para outro no seio da grande etnia Mbochi. Mas às vezes os produtos circulavam bem longe do interior ou exterior desse povo.
A escultura e o baile foram dois aspectos essenciais da cultura Mbochi. A primeira representava o universo que rodeava as comunidades, muitas concebidas com um realismo excepcional sobre situações de coisas passadas e futuras.
De acordo com estudiosos, no mais banal dos bailes, tudo estava perfeitamente unido: o ritmo do Tam-Tum, o poema-canto, os movimentos do corpo, o entusiasmo dos espectadores, os sexos, a vida, a natureza.
Esse mundo criado pelo povo Mbochi através de séculos foi dramaticamente violentado com a presença dos europeus. No entanto, houve resistência. Sua cultura não desapareceu com os excessos da escravidão, nem da brutal exploração da colonização.