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030115 helicopterosRússia - Avante! - Embora mantenha vincado o seu carácter defensivo, a nova doutrina militar adotada por Moscou aponta como ameaças maiores a Aliança Atlântica e os EUA, respondendo, assim, à agressividade imperialista, que atingiu um patamar superior com a crise ucraniana que se prolonga.


O documento aprovado dia 26 de dezembro pelo presidente Vladimir Putin considera a mudança de regime na Ucrânia, promovida pelos EUA e Otan (mas também pela União Europeia (UE), que se afirma como braço europeu da Aliança Atlântica), uma alteração geopolítica substantiva que coloca em causa a segurança da Rússia. Isto a par de outras iniciativas belicosas do imperialismo que, para Moscou, exigem uma resposta demonstrativa de capacidade e disposição para travar as "pretensões hegemónicas militares de certas potências".

Exemplo disso é o aumento do potencial militar da Otan, da sua aproximação e cerco às fronteiras da Federação Russa, ou da concretização da orientação que atribui à Otan o papel de interveniente global, ao arrepio do Direito Internacional, precisa-se na nova doutrina militar russa.

A isso acresce, ainda, a militarização da corrida ao espaço, a possibilidade de um ataque preventivo admitida pelos EUA, o aumento da presença militar norte-americana na Europa (Polónia, países bálticos), o crescente fornecimento de armas e a instalação, no "velho continente", do chamado escudo antimíssil norte-americano. A este último, a Rússia contrapõe com o desdobramento de elementos estratégicos de defesa e com a manutenção das suas forças armadas em alerta, embora preserve e saliente no seu texto doutrinário o conceito de "contenção não-nuclear" e a perspectiva dissuasora.

O Kremlin também não esquece a ingerência imperialista no que considera serem os seus assuntos internos (Inguchétia, desestabilização política e social, terrorismo) e dos seus aliados estratégicos. Nesse sentido, destaca a cooperação com o o Brasil, Índia, China e África do Sul (Brics), com as nações das organizações de Cooperação de Xangai e para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), bem como a prevalência da sua aliança com a Abecásia e Ossétia do Sul, no Cáucaso.

O documento dá ainda cobertura aos planos de rearmamento da Rússia, no âmbito do qual as forças armadas da Federação vão receber, a partir de 2015, cerca de meia centena de novos mísseis capazes de superarem o escudo de mísseis que Washington projecta para a Europa. Trata-se de mísseis de fabrico nacional, intercontinentais, capazes de transportar três ou mais ogivas nucleares, como os testados com sucesso por estes dias, anunciou o Ministério da Defesa da Rússia.

Ucrânia desalinhada

A ratificação por Putin da doutrina militar que substitui a que estava em vigor desde 2010 ocorre três dias depois de o parlamento ucraniano ter aprovado a renúncia ao estatuto de não-alinhado. O argumento da junta fascista de Kiev é a desadequação do estatuto, subscrito em 2010 pelo então presidente Viktor Yanucovitch, à manutenção da integridade territorial do país e à situação de "agressão externa" sofrida.

A alteração foi qualificada pelo embaixador russo na OSCE como um "passo hosti". O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, frisou, por seu lado, que a abolição do estatuto de não-alinhado por parte da Ucrânia é "contraproducente, fomenta a confrontação e cria a ilusão de que através de leis deste tipo se pode superar a crise na Ucrânia", quando, pelo contrário, "o caminho produtivo é o do diálogo com uma parte da população que foi menosprezada aquando do golpe de Estado".

O vice-ministro da Defesa russo foi mais longe e afirmou que se a Ucrânia aderir à Otan, como a renuncia ao estatuto de não-alinhado parece evidenciar, tal representará uma iniciativa militar e terá como consequência a ruptura nas relações entre Kiev e Moscovo.

Crise prossegue

Já no dia 26, representantes do executivo de Kiev e das regiões de Donetsk e Lugansk concretizaram uma troca de prisioneiros: 222 membros das chamadas autodefesas das repúblicas populares do Leste da Ucrânia por 146 militares ucranianos, um dos quais recusou, no entanto, regressar ao Ocidente por desaprovar a conduta dos golpistas no Oriente do território.

Apesar da troca de prisioneiros, a reunião entre Kiev e os antigolpistas que se previa igualmente para dia 26, em Minsk, capital da Bielorrússia, foi cancelada. Novo encontro de paz promovido pelo Grupo de Contato, mediado pela Rússia e OSCE, não foi agendado, permanecendo o impasse na eventual retirada do armamento pesado da frente de guerra e na abertura de corredores humanitários.

Na primeira quinzena de dezembro, as Nações Unidas estimaram em 4634 o número de vítimas mortais do conflito no Leste da Ucrânia, sublinhando, no entanto, tratar-se de um cálculo conservador. De acordo com a mesma fonte, mais de cinco milhões de pessoas vivem em condições de extrema carência em áreas afetadas pela guerra, 1,1 milhão encontram-se deslocadas e mais de dez mil foram feridas nos combates.

O relatório da ONU acusa ambas as partes de assassinatos e violações dos direitos humanos e qualifica as repúblicas de Donetsk e Lugansk como estados criminosos onde impera a arbitrariedade, mas a conduta da junta fascista merece mais reparos, com a ONU a acusar as forças golpistas de "detenções arbitrárias, torturas e desaparecimentos forçados de pessoas suspeitas de ‘separatismo e terrorismo’". Violações concretizadas, "na sua maioria, por alguns batalhões de voluntários ou pelo Serviço de Segurança da Ucrânia», dizem as Nações Unidas, que denunciam 300 bombardeamentos indiscriminados contra zonas residências em Donetsk e Lugansk, aliás descritos por observadores internacionais.

Guerra quente

O clima de tensão entre blocos imperialistas e Rússia conheceu, durante o mês de dezembro, desenvolvimentos importantes para além da sucessão de sanções comerciais e financeiras impostas mutuamente. No dia 12, os congressistas norte-americanos aprovaram, por unanimidade, a "ata de apoio à liberdade da Ucrânia", que entre outras medidas autoriza a venda de "armas letais" ao país.

Governo e parlamento golpistas da Ucrânia saudaram a decisão apelidando-a de histórica, e, fazendo já as contas ao reequipamento das suas forças armadas, anunciaram a mobilização, em 2015, de 40 mil soldados, o dobro dos recrutados em 2014. Acresce a incorporação de 10.500 contratados e a formação de novas unidades, incluindo de operações especiais.

Tudo sinais de que o imperialismo aquece o clima de guerra fria que alastra.


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