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010115 sSíria - Rede Voltaire - [Thierry Meyssan] O povo sírio ganhou duas guerras sucessivas em quatro anos. No entanto, ele não chegou a conhecer a paz. Não apenas em Washington, os «falcões liberais» fazem tudo ao seu alcance para prolongar a crise, como, além disso, imaginaram um plano para preparar uma terceira guerra.


Foto: O mapa da remodelagem segundo Robin Wright.

Quando, em 2001, o presidente George W. Bush decidiu colocar a Síria na sua lista de alvos a destruir, ele visava três objectivos:

- quebrar o «Eixo da Resistência» e estimular a expansão israelita ;

- apoderar-se das gigantescas reservas de gás ;

- remodelar o «Médio-Oriente Alargado».

Os projectos de guerra falharam, em 2005 e em 2006, para finalmente tomarem a forma de «Primavera Árabe», em 2011: uma guerra de 4a geração deveria levar os Irmãos Muçulmanos ao poder. No entanto, após um ano de manipulações mediáticas, o povo sírio saiu do seu torpor e apoiou o seu exército. A França retirou-se do jogo após a libertação de Baba Amr, enquanto os Estados Unidos e a Rússia partilhavam a região na Conferência de Genebra 1 (Junho de 2012). Mas, para surpresa geral, Israel conseguiu virar a mesa de negociações apoiando-se para isso no novo presidente francês, François Hollande, na secretária de Estado Hillary Clinton e no diretor da CIA, David Petraeus. Uma segunda guerra, de tipo nicaraguense desta vez (quer dizer alimentada pela chegada contínua de novos mercenários), ensanguenta novamente a região. Seja como for, esta segunda guerra também falhou sem, por isso, desembocar numa paz duradoura. Pelo contrário, John Kerry, dois dias antes, mudou o formato da conferência Genebra 2 e tentou transformá-la numa tribuna pró-saudita. Nesta confusão, sobrevêm a terceira guerra, a do Daesh : de repente, um grupúsculo de algumas centenas de jihadistas transformou-se num vasto exército de mais de 200.000 homens, bem equipados, e, lançou-se ao assalto da parte sunita do Iraque e do deserto sírio.

Há vários meses, eu explicava que o projecto do Daesh corresponde ao novo mapa Americano de partilha do Médio-Oriente, publicado por Robin Wright no The New York Times, em 2013 [1]. Na continuação dos acordos Sykes-Picot, o estado-maior norte-americano pensava reduzir ainda mais drasticamente a Síria. Também, logo que os E.U. —após terem esperado que o Daesh terminasse no Iraque a limpeza étnica, para a qual eles o haviam criado— começaram a bombardear os jihadistas, colocava- se a questão de saber se as regiões libertadas do Daesh iriam ou não ser restituídas a Bagdade e a Damasco.

Enquanto os Estados Unidos se recusaram a coordenar a sua ação militar, contra o Daesh, com a Síria, e que a Rússia prepara uma conferência de paz, os «falcões liberais» de Washington estabeleceram novos objectivos. Uma vez que o povo sírio não acreditou na «revolução» encenada pela al-Jazeera e confrades, uma vez que ele se recusou a apoiar os "Contras" contra a República, não é possível «mudar o regime» a curto prazo. Constatamos que a nova Constituição, muito embora imperfeita, é ao mesmo tempo republicana e democrática; e que o presidente Bachar el-Assad foi eleito por 63% do eleitorado (com 88% dos votos expressos!). Assim, os Estados Unidos têm que adaptar a sua retórica à realidade.

O plano de «paz» dos «falcões liberais» consiste, pois, em alcançar os objetivos originais dividindo Síria em duas: uma zona governada por Damasco e uma outra pelos «rebeldes moderados» (entenda-se: pelo Pentágono). Para a República : a capital e a costa mediterrânica ; para o Pentágono: o deserto sírio e as suas reservas de gás ( ou seja, a zona libertada, do Daesh, pelos bombardeiros do general John Allen). De acordo com seus próprios documentos, os «falcões liberais» só deixariam 30% do seu território para o Povo Sírio!

O princípio é simples: actualmente a República controla todas as grandes cidades, salvo Rakka e uma pequena parte de Alepo, mas ninguém pode pretender controlar um vasto deserto, nem o governo nem os jihadistas. Ora, o Pentágono pretende que aquilo que não é claramente controlado por Damasco reverta de direito para os seus mercenários!

Contudo, isso não é tudo. Uma vez que os sírios elegeram Bachar el-Assad, ele terá permissão para ficar no poder, mas não os seus conselheiros privados. Com efeito, todos sabem que o Estado sírio conseguiu resistir à agressão estrangeira porque inclui uma parte secreta, difícil de identificar e, portanto, de eliminar. Esta opacidade foi desejada pelo fundador da Síria moderna, o Presidente Hafez el-Assad, para resistir face a Israel. A reforma constitucional de 2012 não a fez desaparecer, mas tornou o presidente eleito responsável, por isto, perante a nação. Mesmo que se possa deplorar que, no passado, algumas pessoas tenham abusado, em proveito próprio, da opacidade deste sistema, separarem-se dele agora seria renunciar, a termo, à independência.

Evidentemente, dirão alguns, os «falcões liberais» não podem pensar conseguir realizar o conjunto deste plano. No entanto, basta montar um centésimo disto para tornar inevitável uma nova guerra.

É por isso que a Síria deve colocar como condição, prévia a qualquer nova conferência de paz, que não haverá discussão sobre a integridade territorial do país.

Nota: 

[1] "Imagining a Remapped Middle East" (Ing- «Visualizando um Médio-Oriente Remodelado» -ndT), Robin Wright, The New York Times Sunday Review, 28 de setembro de 2013.

Thierry Meyssan é intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace.


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