Relatórios vitoriosos do Pentágono sobre a luta contra o EI não podem mudar o humor cético de peritos. Na sua opinião, os EUA estão se atolando cada vez mais no problema, sem possuir recursos materiais para soluções frontais, nem vontade política para manobras não triviais. Aparentemente, Obama está sentindo a proximidade de um impasse.
O principal problema é a contradição entre as duas estratégias: de luta contra o governo de Bashar al-Assad e de luta contra os radicais do EI. Analistas acreditam que entre esses objetivos faz sentido escolher um só, já que Damasco e o Estado Islâmico se opõem um ao outro.
Numa recente audiência no Congresso dos EUA, o ministro da Defesa, Chuck Hagel, reconheceu que o EI é atualmente na Síria um problema mais premente do que Al-Assad. No entanto, por enquanto tudo isso não passa de palavras.
O pedido de mudança de prioridades pode ficar sem resposta, o que inevitavelmente levará a um fracasso total. Eis o que diz a orientalista Elena Suponina: "Eu não consigo me lembrar nem de um único exemplo de sucesso da política dos EUA no Oriente Médio. Simplesmente porque não há sucesso nenhum. O mesmo pode se dizer da luta ao terrorismo. Na verdade, o EI foi criado e reforçou a sua influência principalmente no Iraque, desestabilizado na sequência da invasão norte-americana. Os militantes do EI se tornaram ativos na Síria só há relativamente pouco tempo. Os norte-americanos estão agora inflando a força deste grupo. Muitas outras organizações são também consideradas parte do EI. Tudo é feito a fim de encontrar uma desculpa".
Uma desculpa para concretizar uma antiga ideia, e, finalmente, pôr fim ao governo de Al-Assad. No entanto, o já mencionado ministro da Defesa Chuck Hagel vê isso apenas num futuro distante. Na opinião de Hagel, a estratégia norte-americana consiste em reforçar as forças da oposição síria moderada até tal ponto em que elas consigam defender e controlar o território de suas regiões.
O próximo passo seria uma ofensiva contra o EI, e só depois o chamado "problema de Assad". Elena Suponina considera errônea essa lógica: "Os norte-americanos se estão contradizendo a si próprios. Por um lado, eles relatam progressos. Mas por outro, eles criam a imagem de um inimigo poderoso para substituir o governo da Síria. Foi decidido fornecer à oposição síria comida e equipamentos. Os norte-americanos vão treinar militantes sírios. Quem pode garantir que esses militantes depois não passarão para o lado dos radicais? Aqui o problema não pode ser resolvido por ataques de mísseis".
É evidente que tal abordagem acabara por se revelar ineficaz. Os planos de Washington contradizem o senso comum e a situação geopolítica real. E já não se trata apenas do Iraque e da Síria. Eis o que diz o especialista em Oriente Médio Viatcheslav Matuzov: "No Oriente Médio, os norte-americanos estão perdendo todo o mundo árabe. Mudou dramaticamente a situação no Egito, um dos líderes árabes que determina o clima político em toda a região. E hoje estão no poder lá círculos patrióticos. Os árabes veem que os Estados Unidos estão jogando um jogo duplo. Os EUA contavam com os árabes, falavam de coalizão, mas na verdade ela não existe".
Evidentemente, os Estados Unidos, na sua luta contra islamistas radicais devem cooperar com a parte anticlerical do mundo árabe. E nela Assad está quase em primeiro lugar. Um passo decisivo rumo a uma parceria com Damasco iria ajudar os Estados Unidos a superar o fosso entre os sucessos declarados e a situação real do Estado Islâmico.