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111114 isisRedecastorphoto - As únicas entidades competentes e capazes que há hoje na região, para fazer frente ao Estado Islâmico são a Guarda Revolucionária do Irã e o Hezbollah libanês. E serão vãos quaisquer esforços para "treinar" qualquer nova força contra o Estado Islâmico que não inclua esses dois exércitos. (...) Se os EUA quiserem derrotar o Estado Islâmico, terão de "pegar muito leve" com seus outros "inimigos" e terão de deixar que Irã e Hezbollah conduzam e comandem o treinamento e a luta.


"Treinar" tropas estrangeiras parece ser alguma espécie de fórmula mágica para vários problemas de política exterior. "Treinar" um novo exército iraquiano contra o Estado Islâmico é o mais recente sintoma dessa ânsia por milagres. Mas todo o "treinamento" que o ocidente oferece tem gerado mais problemas que soluções.

As diferentes tropas estrangeiras treinadas na infame Escola das Américas do Exército dos EUA revelaram-se muito capazes, mas só como torturadores e esquadrões da morte:

Observadores destacam que os alunos da Escola das Américas incluem 48 de 69 militares salvadorenhos citados no Relatório da Comissão da Verdade da ONU sobre El Salvador e envolvidos em violações de direitos humanos (incluindo 19 de 27 militares implicados no assassinato, em 1989, de seis sacerdotes jesuítas), e mais de 100 militares colombianos acusados de serem responsáveis por violações de direitos humanos em relatório publicado em 1992 e assinado por várias organizações de direitos humanos.

Relatórios de imprensa também informam que, entre os alunos que frequentaram aquela escola, há militares peruanos ligados ao assassinato, em julho de 1992, de nove estudantes e de um professor da Universidade Cantuta; além de vários oficiais militares hondurenhos ligados a uma força militar clandestina conhecida como Batalhão 316, responsável por desaparecimentos no início dos anos 1980s.

Críticos da Escola das Américas insistem que os soldados escolhidos para frequentar a escola não são adequadamente selecionados; resultado é que alguns alunos e instrutores são admitidos na escola depois de implicados em violações de direitos humanos.

Militares estrangeiros treinados ao longo da década passada em vários programas ditos "de antiterrorismo" frequentemente aparecem associados a golpes de estado em seus países de origem:

O oficial de exército que chefiou o golpe em Burkina Faso e contra o qual houve protestos populares na nação localizada no oeste da África foi duas vezes selecionado para frequentar cursos de treinamento antiterrorismo patrocinados pelo governo dos EUA, como informaram militares norte-americanos.

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Apesar de terem recebido treinamento relativamente curto, a experiência de [tenente-coronel Isaac] Zida de Burkina Faso tem eco na história de outros oficiais militares africanos, que, na sequência, reapareceram chefiando golpes de Estado contra os respectivos governos, depois de selecionados pelo governo dos EUA para receber cursos de educação militar profissional.

Em março de 2012, um capitão do exército no Mali, que frequentara meia dúzia de cursos de treinamento nos EUA também liderou o golpe que depôs o governo democraticamente eleito naquele país.

O Reino Unido ofereceu-se para treinar 2 mil "soldados" líbios para "limpar" a anarquia que o ataque do próprio Reino Único criou na Líbia. O primeiro grupo de 325 foram recentemente selecionados, "analisados & aprovados" e embarcados para o Reino Unido, para algum tipo de treinamento básico de infantaria. Cerca de 90 deles decidiram que não querem ser soldados e pediram para ser devolvidos à Líbia. E cerca de outros 20 pediram asilo. Os restantes tentaram divertir-se como podiam. Dois roubaram bicicletas, pedalaram até Cambridge e atacaram sexualmente várias mulheres. Alguns outros estupraram um homem. O programa de "treinamento" foi abandonado e os demais, dessa mesma gangue de bandidos "analisados & aprovados", além de "treinados", foram mandados de volta para a Líbia, presumivelmente para aprofundar a anarquia que ali continua.

Os EUA treinaram o exército iraquiano ao longo de muitos anos, e ao custo de bilhões de dólares. Tão logo foi atacado, aquele exército ruiu aos pedaços. Quatro divisões fugiram quando foram atacadas por forças do Estado Islâmico significativamente mais fracas.

Mas... nada de desesperar. Os EUA encontraram o jeito perfeito para resolver o problema do Estado Islâmico no Iraque. Agora, simplesmente, os EUA treinarão algumas novas poucas novas divisões, e esses debutantes, com certeza, derrotarão e darão cabo do Estado Islâmico.

Forças de segurança do Iraque, apoiadas por poder de fogo e centenas de conselheiros dos EUA, estão planejando uma grande ofensiva de primavera contra combatentes do Estado Islâmico que chegam em grandes números ao país vindos da Síria, campanha que, contudo, enfrentará muitos desafios logísticos e políticos.

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Oficiais norte-americanos dizem que a força inicial à qual planejar dar treinamento e aconselhamento não ultrapassará nove brigadas iraquianas e três unidades similares de [guerrilheiros] curdos peshmerga – cerca de 24 mil soldados.

O plano de contra-ataque exige pelo menos o dobro dessa força, com acréscimo de três divisões, cada uma das quais deve contar com de 8 mil a 12 mil soldados.

Os EUA estão confiando nos seus aliados, para ampliar o número de instrutores norte-americanos. Austrália, Canadá e Noruega já prometeram várias centenas de soldados de forças especiais para uma ou mais de uma das missões de treinamento ou de aconselhamento – disse um alto oficial militar dos EUA.

Sobre o que esperar da qualidade dessas forças e treinamento, basta reler os parágrafos acima.

O Estado Islâmico governa, atualmente, alguma coisa como de 4 a 6 milhões de pessoas. Está recrutando e alistando gente, para aumentar o efetivo de seu próprio exército. Quantos homens jovens e em idade de combater podem ser recrutados entre milhões de pessoas de uma população tradicionalmente muito prolífica? 100 mil? 300 mil? O Estado Islâmico tem instrutores capazes, formados no Exército Iraquiano Baathista e usa um estilo de combate que combina táticas de guerrilha e de guerra convencional. Já capturou armas e munição suficientes para armar dezenas de milhares de soldados.

Mesmo com apoio aéreo, as forças limitadas que os EUA planejam treinar sempre serão insuficientes, tão logo aquelas forças tentem entrar em áreas que o Estado Islâmico não deseje ceder.

O modelo "ocidental" simplesmente não está funcionando, no tipo de conflito que há em outras partes do mundo. As mentalidades, tradições, incentivos ideológicos e níveis de educação são muito diferentes.

"O ocidente" ainda se sente superior ao "resto", porque, no passado, venceu incontáveis guerras coloniais. Mas como Samuel Huntington escreveu certa vez:

O Ocidente conquistou o mundo não pela superioridade de suas ideias ou valores, mas pela superioridade que manifestou na aplicação da violência organizada. Os ocidentais frequentemente esquecem esse fato; os não ocidentais jamais esquecem.

Foi uma vantagem no campo da tecnologia que permitiu que forças "ocidentais" vencessem guerras coloniais. Mas hoje, pelo menos em guerras de solo, os dois lados usam basicamente a mesma tecnologia e armas similares. Já não há qualquer vantagem técnica, e nenhum "treinamento" básico tem grande serventia para ajudar a escapar de uma rajada de balas quentíssimas de metralhadora. A guerra de independência dos EUA é bom exemplo disso. O exército britânico ainda conseguia vencer outras guerras coloniais, mas foi derrotado na única guerra colonial que foi obrigado a guerrear contra inimigo que estava em nível técnico similar ao seu, mas muitíssimo mais motivado.

Qualquer exército que inventem de mandar lutar contra o Estado Islâmico e seus exércitos terá de ter alguma motivação ideológica e vontade de lutar que sejam, no mínimo, equivalentes às dos combatentes do Estado Islâmico. Como força atacante, também terá de contar com número maior de soldados. Os EUA e outros exércitos "ocidentais" são incapazes de criar esse tipo de força no Iraque.

As únicas entidades competentes e capazes para fazer tal coisa e rapidamente, hoje, são a Guarda Revolucionária do Irã e o Hezbollah libanês. E serão vãos quaisquer esforços para "treinar" qualquer nova força contra o Estado Islâmico que não inclua esses dois exércitos.

A história recente do "treinamento ocidental" de forças estrangeiras é história de fracassos e derrotas. É estupidez pretender que, dessa vez, seria diferente.

Se os EUA querem derrotar o Estado Islâmico terão de "pegar muito leve" com seus outros "inimigos" e terão de deixar que Irã e Hezbollah conduzam e comandem o treinamento e a luta. Qualquer outra coisa fracassará e acabará em algumas décadas, muito provavelmente, na situação embaraçosa de os EUA terem de aceitar o surgimento de um novo estado onde um dia existiu Iraque, Síria e o que mais o Estado Islâmico decida fatiar para seu próprio uso.


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