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caveLaboratório Filosófico - [Rafael Silva] Curtir não basta! O Facebook, ao lançar cinco novos botões para expressar emoções além do “curtir”, está dizendo que mais importante do que curtirmos o que vemos nos nossos “feeds” de notícia é deixarmos claro que há emoções por trás dessas curtidas.


E, de acordo com a miséria emocional que os novos botões nos oferecem, se alegria, graça, surpresa, tristeza ou indignação apenas. Agora, caso nos emocionemos para além destes parcos rótulos, a solução é nos jogarmos no abismo dos comentários que, por algum capricho de Zuckerberg, ainda resiste abaixo dos novos botões.

A opção “comentar” sempre foi o espaço facebookiano adequado para, discursivamente, expressarmos não só as nossas “emoções”, mas principalmente as nossas opiniões a respeito das postagem que vemos. Só que comentar parece desafiador demais para a geração twitter que só se sente segura dentro de 140 caracteres. Então, eis os novos emoticons do Facebook para dar mais espaço à pobreza discursiva já bastante tácita nos comentários da rede social mais famosa do mundo.

Não que a nossa geração já não estivesse se valendo massivamente da paralinguística dos emoticons, inclusive e paradoxalmente no espaço linguístico reservado aos comentários. Isso, porém, desde sempre se mostrou insuficiente, visto que um “smiley” sozinho, como se diz, nunca fez verão. E para driblar os limites da miséria expressiva de um singelo emoticon, a estratégia vinha sendo enfileirar vários deles, por exemplo, um “smiley sorrindo”, três “aplausos”, dois “sois”, dois “smiley piscando” e quatro “corações” para, quem sabe, ser dito algo do tipo: "gostei muitio disso".

O problema é que essas aventurosas sequências de ícones emotivos deixam os seus “leitores” como que diante de hieróglifos que, certamente, nunca traduzirão adequadamente o que seus autores pensaram ou sentiram. Aqui, todavia, é preciso perguntar se a dificuldade em desvendar o que uma “frase” composta de emoticons quer comunicar não é a mesma dificuldade de comunicação de quem se expressa através dela. Em outras palavras: “eu realmente não sei como dizer o que penso e sinto, então, vou me expressar de modo que ninguém tenha como saber exatamente disso”.

Questão complicada, a aventura emoticon para alguns linguistas mais otimistas e conectados significa espécie de expansão dos limites de nossa linguagem. Para outros, ao contrário, quer dizer apenas que, “emoticonicamente”, estamos regredido à primitiva linguagem que outrora garatujávamos no “mural” das nossas cavernas. Para estes pessimistas e apocalípticos, a sequência composta por ícones de cinco “homens”, três “smiley sorrindo”, duas “letras”, uma “caverna” e cinco “neandertais” será a forma com que futuramente escreveremos –na parede cavernosa Facebook?- a seguinte história: “a humanidade, depois que começou a usar emoticons no lugar das palavras, regrediu aos seus primórdios”.

O Facebook, ao instrumentalizar a conversão da miríade afetiva humana em ícones e rótulos, impõe-nos uma nova etiqueta rede-social que não deve ser desconsiderada. Etiqueta, oriunda do francês “étiquette”, era o rótulo que se colocava em envelopes em que se guardavam processos judiciais para indicar, do lado de fora, algo que estava do lado de dentro. Filosoficamente falando: uma aparência que apenas indica uma essência. Entretanto, não nos enganemos, o rótulo aparente não é nem tem como ser o conteúdo essente.

O preço do ícone emocional, ou o que é o mesmo, do emoticon, portanto, é a impossibilidade de traduzirmos a essência das nossas emoções, ou seja, nós mesmos. Aqui, não só as palavras protestam, mas, sumamente, a poesia, que melhor do que qualquer outra expressão humana é capaz de, sublimemente, "botar para fora" o mundo de sentimentos e emoções que temos no "lado de dentro".

Somos bastante evoluídos para usarmos os emoticons do Facebook sem com isso deixarmos as nossas palavras nem a nós mesmos para trás? Talvez sim, mas somente se não nos esquecermos de que a superficialidade icônica dos emoticons, através dos quais cada vez mais somos estimulados a nos expressar, outra coisa não faz senão nos alienar da profundidade e da complexidade emotiva que pretendemos expressar através deles.


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