Segundo alguns vendedores em Madri, capital da Espanha, o preço de alguns produtos, como o pêssego, pode cair até 20%.
Os itens mais afetados estão em plena temporada e não há possibilidade de armazenamento para a maioria deles, nem tempo suficiente para encontrar mercados alternativos ao russo. Esta situação levou a Comissão Europeia a lançar um plano de emergência.
"Levando em conta a situação do mercado depois das restrições russas às importações agrícolas da União Europeia, ativo com efeito imediato medidas de emergência previstas na Política Agrária Comum", afirmou na última segunda-feira o comissário europeu Dacian Ciolos.
As medidas de emergência citadas por Ciolos incluem a soma de 125 milhões de euros para a retirada e a distribuição gratuita de uma série de frutas e verduras perecíveis. A medida será aplicada até novembro e o objetivo desta ajuda é equilibrar a oferta e a demanda dos produtos e a manutenção dos seus preços.
A UE é o principal provedor de produtos agrícolas da Rússia com uma cota de mercado de 42% em 2013. O Brasil, por exemplo, era a origem de apenas 8% das importações russas neste setor no mesmo ano. A Rússia é também o segundo maior mercado para os agricultores europeus. Aproximadamente 10% das exportações agrícolas da UE têm como destino o país eslavo.
Prejuízos
No dia seguinte ao anúncio do embargo, o Ministério de Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente espanhol informou que as restrições russas causariam um impacto de 337 milhões de euros nas exportações da Espanha, o que supõe 1,8% do total das exportações do país. Entretanto, a Associação Valenciana de Agricultores advertiu que o embargo provocaria 140 milhões de euros de prejuízo apenas para os agricultores da Comunidade Valenciana.
Devido a essas previsões, a ministra de Agricultora espanhola, Isabel García Tejerina, afirmou nesta semana que ainda é "muito cedo" para saber se o valor destinado pela Comissão Europeia é "suficiente, sobra ou falta". Enquanto o ministério faz as contas, alguns agricultores resolveram agir por conta própria. Em Aragão, sindicatos agrícolas se manifestaram contra o que consideram a insuficiente ajuda de Bruxelas queimando uma bandeira da União Europeia e jogando fora centenas de quilos de frutas.
Entretanto, os produtores dos países da Europa central, geograficamente mais perto do mercado russo, serão os principais prejudicados pelo embargo. O país mais afetado deve ser a Hungria, que estima que as restrições podem causar a diminuição de seu PIB (Produto Interno Bruto) em 0,2%. A Rússia compra 7% das verduras e frutas exportadas pela Hungria e as vendas deste setor somaram em 2013 aproximadamente 220 milhões de euros.
Espanha x França
A saturação dos mercados europeus também afeta a relação entre os agricultores de diferentes países. Federações agrícolas francesas protestam contra o preço de alguns produtos de origem espanhola que, segundo eles, são mais baratos que os da França devido à prática de dumping por parte de seus homólogos espanhóis.
Entre os alimentos que são alvo de críticas, o principal é o pêssego, que se encontra em plena temporada de colheita e foi uma das principais frutas afetadas pelo embargo russo. "As produções que não vão mais para a Rússia serão, sem dúvida, redirecionadas para o mercado europeu e criam esta situação de crise", afirmou Xavier Beulin, presidente da FNSEA (Federação Nacional dos Sindicatos de Operadores Agrícolas).
Incapazes de competir com a grande produção espanhola, agricultores da FNSEA e de outras federações e sindicatos bloquearam na semana passada a principal rodovia que liga o sul da França à região espanhola da Catalunha e por onde passa grande parte da carga de frutas de um país ao outro.
Os manifestantes pararam caminhões com cargas alimentícias à força para, segundo eles, inspecionar os produtos. A escalada de intensidade na briga dos produtores dos dois países obrigou ambos os governos a negociarem uma saída, mas nem Madri nem Paris colocaram uma data limite para encontrar uma solução.