Ramom Muntxaraz foi um galego nom por nascença, mas por convicçom. Desde que chegou, por vicissitudes da vida, a trabalhar à nossa terra, envolveu-se logo nas luitas sociais e políticas do nosso povo, num compromisso vital que já nom abandonou no resto da sua vida.
Médico psiquiatra, comunista, independentista, sempre solidário com os que mais dam na luita social e política, sempre apoiante da causa da independência e do comunismo para a Galiza.
Muntxaraz merecerá um lugar de destaque na História da Galiza que ainda está por ser escrita, essa história em que os e as protagonistas serám as pessoas simples, trabalhadoras, o povo galego como coletivo em luita permanente pola emancipaçom nacional, social e de género.
O Diário Liberdade recebeu de um camarada de luita de Ramom Muntxaraz umha carta pessoal de despedida escrita nos últimos tempos da vida do Muntxa. Com o passar destes 4 anos, a carta pessoal constitui já um valioso documento que o povo galego deve conhecer. Sem dúvida, a sua leitura ajudará a que os militantes e as militantes mais novas, incoporadas nos últimos anos à luita, conheçam os valores da militáncia e a vigência do pensamento de todos e todas as que, antes de nós, luitárom por idênticas causas: a independência e o socialismo numha Galiza livre do dominínio patriarcal.
Somamo-nos, portanto, à homenagem ao companheiro Ramom Muntxaraz e à difusom do seu exemplo como exemplar patriota, com a reproduçom da sua derradeira mensagem ao povo galego que agora torna pública.
Carta testamento de Ramom Muntxaraz
O dia da minha morte, quero que estas palavras cheguem aos vossos coraçons. Levo comigo infinitamente muitas mais cousas vossas das que vos deixo. Vou-me desta vida com mágoa de nom poder sentir nunca a Saudade da Terra. Vou-me da Terra em que nom nascim, mas na qual decidim morrer. Porque a Pátria nom é o lugar em que nascemos, mas a que elegemos para dar o melhor de nós mesmos até a morte. E eu elegim a Galiza. Nom pola incomparável beleza da sua paisagem, nem por nengumha cousa material. Fiquei na Galiza e tomei a Galiza como a minha Pátria polas suas gentes, polo Povo. Polo que agora é também já de forma definitiva "o meu Povo". Vou-me de entre vós com a mágoa de nom ver a Galiza como um Povo Independente. Mas vou-me desta vida esperançoso porque estou convencido de que essa Utopia de Liberdade há de chegar e que esse dia todas as nossas luitas e inclusive as nossas contradiçons, acumuladas durante séculos de geraçons, recuperarám o seu autêntico sentido histórico.
Como bem sabedes, dediquei grande parte da minha vida a tratar de compreender a loucura dos loucos. Mas poucos sabem que o que sempre foi para mim mais difícil de entender é a cordura dos cordos. A cordura da obediência, da disciplina, da ordem, da auto-opressom, da assimilaçom à civilizaçom colonizadora e alienante. Esse é o problema que levo à sepultura sem resolver, mas que vos animo a continuardes a estudar. Quando soubermos por que obedecemos e tememos a autoridade que nos oprime e por que desprezamos os irmaos que nos falam de liberdades; quando soubermos por que os oprimidos nos odiamos entre nós; quando soubermos por que renegamos da nossa identidade como Povo e por que nos alienamos na falsa identidade dos impérios que nos oprimem. Quando soubermos polo menos isto, ninguém poderá já nunca jamais oprimir-nos, explorar-nos nem colonizar-nos.
Pilara e Maruxa: fostes a minha Família Galega. E formastes a parte mais íntima e entranhável da minha Grande Família Irmandinha Galega. Vós sodes o melhor que tivem na minha vida íntima. Tu, Pilara, e tu, Maruxa, fostes as musas galegas da minha vida, que me alentárom a seguir adiante com os meus Ideais Revolucioniários. Lograstes que eu me sentisse como um Galego Comunista e Revolucionário e nom como um colonialista espanhol arrependido em que tantas vezes temim converter-me. A ti, Pilara, nunca poderei agradecer-che o que aturaste, as esperas desesperadas, a paciência com as minhas elucubraçons e pedantismos. Quero que saibas que os teus longos silêncios fôrom para mim umha contínua referência do impressionante berro de insubmissom da Alma Galega. E tu, Maruxinha, a minha Maruxinha, sempre foste e serás para mim a esperança das novas Geraçons de Homens e Mulheres Galegos e Galegas, que algum dia erguerám a Bandeira da Liberdade do nosso Povo, no triunfo final de todos os Povos Oprimidos do Planeta.
Quero que o dia da minha morte nom seja um dia de mágoa nem de luto para ninguém. Mas nom quero que seja este um dia como outro qualquer, e que no meu sepélio nom haja mais símbolos que os que representem a nossa Pátria Galega e os da Unidade na Luita da Classe Trabalhadora Galega e do Mundo. Quero que os meus restos mortais fiquem na Terra ou nos Mares da Galiza, por ser esta a única Terra que amei e na qual desejo estar para Sempre com todos Vós, com o Povo Galego.
Deixo-vos a todos e todas quanto tenho: os meus mais profundos sentimentos e utopias, a minha solidariedade e internacionalismo comunista, a minha esperança de liberdade e a convicçom na vitória na Luita Final contra a opressom. Agurinha Povo Galego. Agurinha meus Irmaos Revolucionários Galegos e Galegas. Agurinha à minha Maruxa e à minha Pilara. Recebei todos/as a minha mão e infinitas Apertas Irmandinhas e Revolucionárias do vosso Irmao Moncho.
Viva Galiza Ceive e Comunista!
Viva a Luita de Libertaçom Nacional Galega e a de todos os Povos Oprimidos do Planeta!
Viva o Internacionalismo Proletário!
Viva a Unidade da Classe Trabalhadora Galega e de todas as Classes Oprimidas do Mundo!
Pátria e Terra!