Que fácil seria calar a boca e não molestar ninguém! Ser invisível. Desaparecer. Ou aparecer apenas para a cordialidade e as palavras vazias da etiqueta social. Esta é a mochila que carregamos às costas num mundo revolto como é a sociedade galega atual, onde tantas vezes, por questões de matiz estamos prestes a devorar o irmão, a meter o dedo no olho ao militante que não luz tão bonitinho como dantes. Após as passadas eleições, cada vez que pego num jornal ou escuto a rádio, aborreço. A política resume-se a valorar os resultados –como corresponde com pouca objetividade por todas as partes– e, nos últimos dias, a receber informações caóticas e entre-cortadas sobre patos, vetos, acordos ou listagens mais votadas. Mas Política nem só é participar das instituições. Política é, sobretudo, entender um povo, medir os tempos para imprimir as mudanças necessárias e transformar a realidade. E isso significa, a meu ver, neste momento histórico, sermos conscientes de que, perante um panorama abafado de corrupção e interesses alheios, para além da perene servidão ao capital, só fica a possibilidade de unir as forças dissidentes, de escutar-mo-nos e de entender-mo-nos nas nossas diferenças.
Na Galiza são muitas as tribos políticas que nos constituem; muitas as lutas necessárias nestes tempos convulsos. E a história demonstra que @s galeg@s somos gente delicada com os matizes. Mas às vezes há que enterrar o machado. Para exibir a nossa força. Coletivamente. Se o dia 25 de julho fossemos unidas todas as pessoas que (ainda) acreditamos na Galiza como sujeito político próprio, se todas as pessoas que levam com orgulho uma bandeira da pátria fossem convocadas a estar juntas, poderíamos fazer-nos ouvir. E berrar mais forte do que a outra parte da sociedade, a que celebrará as festas do apostolo, aquele Santiago mata-mouros, e provavelmente mata-roxos e mata-independentistas. Juntas todas as famílias e fações –e também tanta gente solta que vai sendo e as que preferem as mátrias e outras indecisas que se achegariam sem dúvida movidas por essa unidade– poderíamos defender a dignidade d@s que estamos e a d@s que (ainda) não estão. Porque, com a sopa de letras em que mergulhamos, com a quantidade de diferenças que nos separam, é inevitável que as pessoas mais novas ou as ainda não convencidas, se afastem. Sentem que fazemos parte do passado. Outras mensagens, desenhadas pelo marketing, conseguem pintar como grisalha uma reivindicação nacional que no nosso caso nunca esteve ao margem das outras grandes reivindicações: a de classe e a de género. Porém, a mensagem do independentismo –ou do nacionalismo, ou do soberanismo, não é problema de etiquetas– nem está ultrapassada, nem é folklórica. Porque a Galiza existe. Por isso neste tempo de preparativos, abandono o cómodo silêncio, para simplesmente fixar por escrito o que escuto cada dia a tantas amizades, próximas e entranháveis, e a outras gentes com quem nunca simpatizarei: as pessoas que (ainda) acreditamos na Galiza deveríamos ir juntas, embora as nossas diferenças, para deixar testemunha da nossa força e da nossa coragem. Temos os demais dias do ano para cantar os matizes. E talvez assim poderíamos evitar que à hora de escrever isso de acreditar na Galiza, haja que incluir esse (ainda), sinal do nosso medo a que nos eliminem do mapa.