(As fotos de Xosé Ramón Doldám incluídas nesta informaçom som trabalho próprio dos repórteres do Diário Liberdade, de reproduçom livre, de preferência citando a fonte)
Em pleno conflito derivado da aplicaçom do chamado Decreto do Carvom e a sua incidência no emprego em torno das centrais térmicas das Pontes e Meirama, falamos com um especialista em Economia Aplicada e em Economia Ecológica pola Universidade de Compostela, com longa trajectória militante no movimento ambientalista galego: Xoán Ramón Doldán.
Xoán Doldán - A motivaçom do Decreto tem que ver com algo que nom se di explicitamente, mas que se conclui da sua leitura. Refiro-me à tentativa de reduzir o défice da balança energética espanhola, reduzindo as importaçons de carvom em favor do autóctone numha situaçom de crise em que se quer ter controlada a saída de divisas.
Por outra parte, há outra motivaçom mais explícita, relacionada com o emprego, sobretodo relacionado com a mineraçom e com outras repercussons dele derivadas. Devemos lembrar que o plano de reserva do carvom 2006-2012 já previa que em 7-8 anos haveria umha perda muito considerável no emprego no sector e essa é umha das razons que motivam o Decreto.
Esse Decreto nom tem planificaçom para um futuro em que inclusive o carvom do Estado espanhol se esgote e para o qual deveria prever o abastecimento com energias renováveis. Isso ficou ausente do Decreto do Carvom, o que é umha eiva muito importante. Unicamente serve para tapar buracos muito concretos localizados no tempo, deixando aberto e incerto o futuro da mineraçom do carvom e energético em geral.
Nós estamos hoje numha encruzilhada muito importante no plano energético a nível mundial, já que vivemos umha crise energética relacionada com o pico do petróleo e dos restantes combustíveis fósseis e nom se está a trabalhar com essa perspectiva. Esse devia ter sido o fio condutor de qualquer decreto e neste ficou fora, por isso eu sou totalmente contra.
Mesmo sem pensar no longo prazo, seria melhor deixar de fomentar o carvom autóctone e deixar isso como reserva para quando houver necessidade de o queimar porque os preços irám disparar no futuro. Ora, numha perspectiva menos curtoprazista sim devíamos pensar numha outra saída, que passa polas renováveis e nom polas centrais térmicas.
Há já bastante tempo que deveríamos estar a pensar na alternativa renovável, na qualidade do ar, na alteraçom do clima e mesmo, numha perspectiva mais de esquerda, no facto de que nós estamos a apropriar-nos de uns recursos energéticos a partir doutros países, sem que exista umha contrapartida para eles. Isso está a ficar fora do debate e nom deveria ser assim.
Diário Liberdade - Que responderias a quem defende que se mantenham as térmicas apelando à perda de centenas ou milhares de postos de trabalho que geram essas centrais e as actividades associadas nas comarcas onde existem?
X. Doldán - Se se tratar de defender o direito ao trabalho, o acordo é evidente, sobretodo na actual crise económica. Outra cousa é que se queira perpetuar algo que, por definiçom, nom pode ser perpétuo, como é o caso da actividade das centrais térmicas.
Por um lado, estamos a trabalhar com carvom já importado e, por outro, umha alternativa energética sustentável obriga a procurar outras fontes.
Além disso, lembremos que o fim das centrais estava previsto praticamente desde o primeiro momento. Nos anos 70 e 80 já se calculava que as minas iriam durar uns 30 anos e, de facto, assim foi. A partir já dos anos 90, na Galiza produziu-se o pico do carvom, começando o declínio das reservas.
Já desde o início, quando se pensou na construçom das centrais, as empresas sabiam que em 15 anos teriam que introduzir mudanças técnicas para se adaptarem a esse facto, incorporando carvom importado progressivamente até substituir completamente o carvom galego, como de facto aconteceu.
Portanto, a realidade de hoje era conhecida polas empresas, por mais que a sua propaganda e a atitude das administraçons públicas pareçam indicar outra cousa.
Para além da gravíssima poluiçom, houvo outras perdas dela derivadas, como as produzidas pola chuva ácida ou pola destruiçom do território onde fôrom instaladas. Nom esqueçamos as luitas vicinais nas Encrovas, contra a expropriaçom de terras que fôrom directamente desaparecidas com a exploraçom do mineral, convertendo-se num enorme buraco e obrigando muitas pessoas a se deslocarem dos lugares onde viveram sempre, num acto violento e nom consentido pola vizinhança.
Desde o início houvo efeitos negativos, junto aos benéficos, como no emprego, mas este já se vem perdendo directamente desde o momento do declínio da actividade mineira. Na Galiza, venhem perdendo-se empregos aceleradamente no sector desde os anos 90. Na actualidade, os dados oficiais falam de 2.000 pessoas trabalhando em toda a Galiza de maneira directa no sector eléctrico, e continua a reduzir-se.
Estamos em 40% do que havia em meados dos anos 90 no sector eléctrico, já que é cada vez menos intensiva em mao de obra, com uns processos de mecanizaçom que incidírom na intensificaçom do factor capital em detrimento do factor trabalho. Apesar mesmo dos parques eólicos, quase nem se conseguiu frear a destruiçom do emprego no sector eléctrico.
Existem, claro, empregos associados nas Pontes e Cerzeda, mas a actividade está hipotecada desde o princípio e há muito que devia estar a pensar-se numha alternativa para o esgotamento inevitável do carvom, no mínimo desde o início do declínio da produçom, nos anos 90. Nem as empresas nem o poder político figérom isso. Nom se pensou em alternativas económicas, com actividades que absorvessem esses trabalhadores, o que se viu incrementado pola destruiçom física do território, que nom ajuda a tornar agradáveis aqueles espaços a nível turístico, por exemplo.
De certa forma, as centrais hipotecárom as alternativas, mas as próprias empresas deveriam ter recuperado essas zonas em certa medida, o que tampouco aconteceu.
Agora assistimos a umha fugida para diante, como se detendo o Decreto do Carvom fosse possível manter a actividade sem construir alternativas para incorporar todos esses trabalhadores e trabalhadoras. Os efeitos vam ser mais dramáticos quanto mais demorarmos a construir essas alternativas e nom digo com isto que as centrais térmicas devam fechar-se hoje, porque nom seria viável e provocaria um colapso energético, mas já deveríamos estar a dar passos para ver como pomos fim a essas centrais e construímos as alternativas. Embora isto nom seja fácil, nom podemos continuar sem fazer absolutamente nada, como nos últimos 15 anos.
Tampouco podemos olhar o interesse das empresas, pois elas tenhem outras centrais e podem jogar com os medos das diferentes localidades, como fam frente às exigências do Protocolo de Kyoto para que lhes permitam manter a actividade.
Diário Liberdade - Que opinas da campanha desenvolvida por algumhas centrais sindicais e organizaçons políticas, contra o Decreto do Carvom e contra o desvio de parte da actividade das centrais das Pontes e Meirama?
X. Doldán - Se se tratar de pedir a manutençom dos postos de trabalho, isso parece-me legítimo, mas se o que se tenciona é que as cousas fiquem como estám, aí nom concordo, pois isso é nom ver a necessidade de construir umha alternativa, e isso seria imperdoável a nível político.
Diário Liberdade - Mas a denúncia da marginalizaçom da Galiza em favor doutras zonas parece ter algum sustento...
X. Doldán - Sim, mas essa falta de soberania já existia. As centrais das Pontes e Meirama nom se construírom em funçom da soberania existente no País, que nom havia. A decisom véu imposta.
O que agora sucede é mais um episódio da mesma dinámica decorrente da ausência de soberania. As centrais fôrom construídas para resolver problemas concretos que nom tinham ou tinham muito pouco que ver com os interesses galegos.
Naquela altura ia disparar a procura energética na Galiza pola instalaçom da factoria de Alúmina-Alumínio, projecto que vinha dos anos 60 e que acabou instalando-se na Marinha. Isso duplicou a procura eléctrica, consumindo tanta energia eléctrica como o resto de actividades existentes na Galiza juntas.
Foi por isso que também se pensou na construçom da central nuclear em Jove, ao pé de Alúmina-Alumínio, que é, nom esqueçamos, umha indústria de enclave, que parte de um mineral de importaçom, a bausita, para, depois de o transformar sucessivamente em alúmina e em aluminío, ser enviado para o exterior do País, onde será transformado. Todo isso, da mao do capital estrangeiro.
Portanto, se se instalou foi porque se necessitavam lugares de fácil acesso, neste caso acesso marítimo, e lugares onde nom houvesse muita resistência social e que permitisse dispor de ingentes recursos. Aí surgiu o projecto nuclear, que nom foi avante apesar de chegar a contar com autorizaçom, e o projecto das centrais térmicas para aproveitar os recursos carboníferos existentes em Meirama e nas Pontes.
Naquela altura, a Galiza estava a exportar 60% da electricidade que produzia. Para manter esse ritmo de exportaçom a outros lugares do Estado, é preciso recorrer ao carvom, como finalmente aconteceu.
Todo isto nom tem nada que ver com soberania. Isto tem que ver com umha política colonial aplicada sobre um determinado território, neste caso a Galiza. Agora, quando deixa de interessar, os poderes económicos vam-se embora.
Infelizmente, nestes processos há umha parte de consentimento por parte do dominado, como conseqüência psicológica da mesma exploraçom, mas se vemos a história do mundo, comprovamos que os benefícios para os explorados som pontuais e quando deixa de interessar, acabou.
É claro que a Galiza nom conta na tomada de decisons, mas nem contava antes, nem conta agora e se nós retardamos a procura de umha alternativa energética e de emprego, continuaremos a deixar-nos levar por essas dinámicas alheias.
Diário Liberdade - De que maneira deveríamos chegar à extinçom da produçom energética a partir do carvom evitando os prejuízos em termos de emprego?
X. Doldán - Nom é fácil, porque nom pode ser feito de um dia para outro. Essas mudanças precisam de tempo, mas nom por isso deixam de ser urgentes e cada vez é mais urgente e temos menos tempo para andar esse caminho e construir a alternativa.
Poderíamos prescindir do carvom? Em termos estatísticos sim. Refiro-me à electricidade, claro, que nom é toda energia.
A electricidade gerada com recursos próprios, que som quase por completo renováveis, atendemos dous terços da procura energética galega. O terceiro terço poderia sair da melhor utilizaçom dos renováveis, porque a capacidade nom está esgotada no que hoje temos, pois o nosso potencial é maior. Por outra parte, deveríamos olhar para a procura e evitar o esbanjamento eléctrico, além da utilizaçom que se fai para outros usos diferentes do uso interno.
Um terço da electricidade gerada na Galiza é exportada, umha parte nas centrais e outra parte na própria Alúmina-Alumínio.
Devemos decidir se queremos isso ou continuarmos a fazer da Galiza um lugar de passagem da energia, para a mandarmos para fora. Hoje a Galiza é um transformador energético: importamos energia em bruto e exportamos energia transformada, nom só eléctrica, mas também gasística e petróleo.
Quanto ao emprego, a recomposiçom estrutural do sistema deveriam aparecer muitas outras actividades que precisariam de empregos, por exemplo na extensom das renováveis e no reordenamento do consumo, precisa de um trabalho técnico ao serviço da poupança para umha forma de consumo diferente. É umha mudança muito profunda, nom só na produçom energética, mas também tendo em conta o iminente desabastecimento de petróleo a nível mundial, por exemplo, que obrigará a transformar o sector do transporte, o aquecimento dos lares, o sistem a produtivo, etc. A mudança terá que ir muito mais longe das Pontes e Meirama, afectando todo o País.
Nesse processo, poderá criar-se emprego, mas quanto mais demorarmos a tomada de decisons, mas difícil será encontrar umha saída e mais dramáticas serám as consequências, com actividades que colapsam e que deixam as trabalhadoras e trabalhadores na rua sem alternativas.
Os passos concretos nom podem ser adiantados, até porque vam depender de para onde queremos ir como sociedade, ou de que sejam como até agora as grandes empresas as que marquem as dinámicas. Em todo o caso, a actual dinámica energética nom está a servir para aumentar o emprego, que nos últimos anos se tem reduzido inexoravelmente, apesar de haver cada vez mais negócio energético, mas pola dinámica empresarial, polo actual modelo centralizado.
Deveríamos procurar um modelo descentralizado em que, por exemplo, pudéssemos atender parte da nossa própria procura energética de maneira autónoma.
Diário Liberdade - No quadro que desenhas, a crise poderá chegar também ao sector do automóvel...
X. Doldán - Deverá chegar, e nom porque eu deseje que se perdam esses empregos, mas porque as empresas estám a procurar ajudas do Estado, por umha parte para a compra de automóveis (oxalá o Estado nos ajudasse a comprar outros bens como nos ajuda a comparar automóveis), e por outra parte mediante a construçom das infra-estruturas viárias necessárias para a circulaçom dos automóveis. Esse dinheiro poderia ter sido dirigido a construir um outro modelo de transporte. A indústria do automóvel nom poderia ter existido sem a ajuda do Estado na difusom do mesmo, mas em crises como a actual, que inclui a crise energética, a reacçom está a ser o alargamento de ajudas à compra de autmóveis e a um sistema de transporte que, em definitivo, está abocado à sua desapariçom.
Quando houver restriçons na utilizaçom de derivados do petróleo, nom vamos poder manter o nosso automóvel como até agora. A indústria do automóvel tem que se reconverter noutra cousa, ao serviço doutro modelo de transporte, porque o crescimento do parque automobilístico como até agora nom será viável no futuro.
Mesmo o aumento da procura na China e na Índica vai acelerar a crise do sistema. A China já é o primeiro país em procura de petróleo do mundo, e somada aos Estados Unidos absorve 50% da procura de petróleo a nível mundial. O sistema vai colapsar se nom houver umha reconversom e a electrificaçom dos automóveis particulares nom é umha saída, pois nom haverá electricidade para isso nem se pode substituir tam facilmente o parque automobilístico.
Diário Liberdade - Subsiste um tópico que afirma que a Galiza é energeticamente excedentária. Qual é a realidade da sector energético na Galiza?
X. Doldán - Se a considerarmos excedentária porque os nossos recursos nos permitem atender a procura energética interna e ainda exportar umha parte, isso é falso. É certo que a Galiza exporta energia, até um terço da energia obtida para o mercado, sendo igual a proporçom na energia eléctrica.
Porém, nom podemos fiar-nos só da exportaçom, porque os derivados do petróleo nom venhem do nosso petróleo que nós nom temos. Nós só transformamos na refinaria da Corunha o petróleo que importamos, nom porque sejamos excedentários em petróleo, que nom temos. O mesmo acontece com o gás natural, que tampouco temos mas também exportamos. Somos totalmente dependentes: mais de 80% da energia transformada na Galiza é importada.
No caso da electricidade, nós importamos também umha parte, utilizando também os nossos próprios recursos que atendem dous terços das nossa necessidades. No entanto, no total da energia, os recursos próprios só atendem umha quarta parte da nossa procura energética interna, apesar de que também exportamos.
Diário Liberdade - O futuro do petróleo é limitado e os projectos gasísticos também som contestados por sectores ambientalistas. Existem alternativas realistas que nos permitam prescindir dessas fontes de energia?
X. Doldán - Se pretendermos substituir o petróleo ou o gás por outras fontes, hoje é insubstituível, mas por isso insisto em que devemos fazer mudanças de fundo. Se em poucos anos tivermos desabastecimentos, depararemo-nos com umha impossibilidade de mantermos a actual estrutura de consumo.
Temos que pensar nas necessidades energéticas que devem ser atendidas e hoje existem outras necessidades que som discutíveis, por exemplo no ámbito do transporte.
É necessário depender tanto de importaçom de alimentos ou poderíamos contar com umha produçom interna que nos evitasse tanto transporte de mercadorias de pontos muito distantes como hoje acontece?
A recolocaçom da produçom e do consumo reduziria a procura energética, sem por isso deixarmos de atender necessidades, mas atendo-as doutro jeito. E isso cria emprego, por exemplo na alimentaçom, já que estamos a importar grandes quantidades de alimentos que poderíamos produzir internamente.
Também no transporte de pessoas, o funcionamento de redes de transporte público colectivo, inclusive sendo autocarros, deminuiria a procura de petróleo, tendo em conta que grande parte do consumo de petróleo vai para o transporte tal e como hoje é concebido. Isso é perfeitamente possível de realizar.
Mesmo no caso do gás, que vai em grande medida para a electricidade e para o calor. Nos dous casos, poderíamos recorrer a energias renováveis, mas todo isto, que é tecnicamente possível, romperia a dinámica da actual economia e com o controlo dos grandes lobbies empresariais.
Pensemos, por exemplo, no lobby do transporte, que nom tem interesse em mudar o actual esquema e, em casos como os EUA, chegárom a protagonizar a destruiçom das redes de transporte público colectivo, que hoje é praticamente inexistente nas macrocidades.
Isso explica que se fale de pseudoalternativas como os carros eléctricos em lugar do transporte colectivo ou, mesmo quando se chega a falar de transporte colectivo, propom-se o AVE e nom outras fórmulas mais sustentáveis.
No referente à electricidade, acontece algo parecido. Existe umha concepçom baseada em grandes centrais, mas há outras possibilidades, com redes de distribuiçom de electricidade a partir de placas nas nossas casas, que aproveitem os excedentes de maneira descentralizada, de abaixo para cima.
Isso também poderia ser umha alternativa para o emprego, pois requereria muito trabalho.
Diário Liberdade - Isso já foi ensaiado nalgum país?
X. Doldán - Nom a esses níveis, mas na alemanha, por exemplo, existe umha grande extensom do uso da energia solar e umha significativa indústria de exportaçom dessa tecnologia.
Diário Liberdade - E na Galiza?
X. Doldán - Tem muito pouca introduçom e, quando se tentou, foi de maneira perversa. Durante anos houvo ajudas estatais para a instalaçom de placas em prédios de habitaçom e pequenas instalaçons, mas houvo empresas e bancos que açambarcárom as ajudas fazer negócio e construírom parques centralizados de exploraçom fotovoltaica. Finalmente essas ajudas desaparecêrom sem terem cumprido o objectivo inicialmente formulado.
Diário Liberdade - Voltando ao carvom, há quem apresente a energia nuclear como alternativa...
X. Doldán - A defesa da energia nuclear deriva da afirmaçom de que nom produzem CO2 num tempo em que a mudança climática é um problema grave a nível mundial. Na verdade, isso nom é bem assim, pois desde o processo de extracçom de uránio, até a construçom da central, veremos que sim existe produçom de CO2.
Claro que exitem outros problemas graves associados à actividade nuclear. A mudança climática poderia ser enfrentada que houvesse vontade de reduzir as emissons. Sabemos como fazê-lo.
Porém, no caso dos problemas derivados do uso da energia nuclear, aí nom temos como eliminar os prejuízos dos resíduos, por exemplo, que estarám activos por milhares de anos, ou da radiactividade associada à actividade, através de fugas que som inevitáveis. Tampouco sabemos que fazer com a central umha vez que deixa de funcionar, constituindo toda ela um verdadeiro resíduo.
Esse problema está sem resolver a nível mundial. Todas as centrais estám acumulando resíduos na própria central por esse motivo e as centrais chamadas de nova geraçom nom resolvem esse problema, assim como um outro associado: a custódia dos resíduos, de grande importáncia porque nom sabemos o que poderá acontecer no futuro imediato com os governos que contam com esses resíduos no seu poder.
Além do anterior, a energia nuclear nom é renovável. Tem fim e a procura de uránio ou doutros minerais ou dos derivados aumentará se as centrais nucleares assumissem todas as necessidades do actual sistema e as que virám da sua substituiçom polas actuais centrais de carvom.
A energia nuclear tampouco é barata. As empresas dim-nos que sim, porque se desentendem de partes fundamentais do processo de obtençom, deixando que os custos sejam assumidos pola sociedade e nom pola empresa produtora. É o caso do desmantelamento e da custódia dos resíduos durante centenas de anos, sendo ambas actividades muito caras e ficando por esse motivo socializadas.
O uránio está concentrado em poucos países e haverá limitaçons ainda maiores que no caso do petróleo ou o gás para a sua utilizaçom. Tampouco esqueçamos o cinismo de reconhecer a alternativa nuclear para um reduzido clube de países desenvolvidos. Veja-se o que acontece com a candidatura do Irám ou mesmo da Venezuela, que também mostrou interesse. Porque esses países e outros muitos nom podem ter essas instalaçons e uns poucos sim?
O sector empresarial está estendendo a necessidade de energia nuclear, vendo-a como limpa e segura, e pondo o Estado e a sociedade ao serviço do seu negócio, que em todo o caso nom vai substituir toda a procura energética, pois nom substitui a relacionada com o petróleo.
Diário Liberdade - Achas que é possível que se instale umha central nuclear na Galiza nos próximos anos?
X. Doldán - Tenho a absoluta certeza de que vam tentá-lo, como já o tentárom no passado. Resta comprovarmos se o conseguem. Cada vez insistem mais em fazer-nos acreditar na sua necessidade, mas a verdade é que nom vam resolver a crise energética. Nom é umha necessidade real, porque há alternativas, mas onde nom houver suficiente resistência, serám instaladas.
Diário Liberdade - Qual deveria ser o desenho energético de umha Galiza soberana e sustentável?
X. Doldán - Para ser sustentável, necessariamente tem que ser um modelo baseado na energia renovável, a única viável para o futuro, para a obtençom energia geraçom após geraçom. Isso nom acontece com a energia de origem fóssil nem procedente do uránio.
Ainda assim, haverá que ver que renováveis, porque na biomassa e nos biocombustíveis nom seria perpétua. Agora mesmo foi anunciado polo governo autonómico a liberalizaçom do sector da biomassa, o que poderia originar umha queima incontrolada de montes e os montes nom som infinitos. O mesmo acontece com os biocombustíveis.
As energias renováveis poderiam responder energeticamente às necessidades do País. Na história da humanidade, as renováveis fôrom a fonte maioritária e mesmo única até a chegada do carvom e do petróleo, nos séculos XVIII e XIX respectivamente.
Nom se trata de voltar ao passado, mas o petróleo vai esgotar-se e o carvom também se esgotará numha ou duas décadas. Também o uránio vai acabar-se, portanto, a aposta renovável será inevitável, ainda que seja umha saída complicada, porque exige mudanças profundas na sociedade, a nível de produçom, consumo, transporte, habitacional, etc.
Essas mudanças devem permitir-nos atender às necessidades energéticas doutra maneira, mas mudando a nossa forma de vida.
Quanto à soberania, exige o controlo dos próprios recursos e o que se fai com eles. No caso dos recuros renováveis, som mais "democráticos", no sentido de estarem espalhados por todo o mundo, ainda que haja pontos com maior potencial, que nom devem estar em maos de empresas e sim da populaçom, para que podamos exercer a nossa soberania e tomar decisons por parte da maioria, ao contrário do que hoje sucede.