"(Lautaro) Se hizo velocidad, luz repentina. / Sólo entonces fue digno de su pueblo.”
Pablo Neruda
A cerimônia foi realizada no auditório do jesuíta Colégio San Ignacio, de Santiago do Chile. Entre muitas figuras do território dos interesses dos povos afetados, se encontrava o doutor em História Sergio Grez (https://es.wikipedia.org/wiki/Sergio_Grez) e a figura única do sacerdote jesuíta José Aldunate (https://es.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Aldunate).
Em um país que se caracteriza muito pouco por reconhecer a estatura política, épica e ética dos seus lutadores/as populares em vida, o jornalista que realizou a presente entrevista não pode deixar de testemunhar a evocação autêntica de significar em Héctor Llaitul a artéria rebelde, valor e lucidez de um dos filhos diretos do héroi mapuche, que combateu o invasor espanhol há quase meio milênio, Lautaro (https://es.wikipedia.org/wiki/Lautaro).
Qual é a situação da resistência mapuche frente à ofensiva cada vez mais sofisticada, política e militarmente, contra o Povo-Nação Mapuche por parte do Estado capitalista chileno, quando já começa julho de 2015?
"Neste tempo, nós estamos assumindo o We tripantu (https://es.wikipedia.org/wiki/We_Tripantu), que tem relação com um período específico, talvez o mais importante para os mapuche no âmbito cosmo-visionário e cultural. Ele nos oferece mais elementos para fortalecer as matrizes do nosso sistema de ideias. E a partir desse pensamento provém todo o nosso posicionamento como mapuches autônomos e revolucionários.”
E, pontualmente, qual é a potência significativa do We tripantu?
"Tem relação com a restituição do weichan (http://www.significado-diccionario.com/Weichan). O We tripantu é o ciclo em que a natureza orienta a nossa gente e, em consequência, nós devemos nos subordinar a esse mandato. Recebemos este ciclo com todo aquele que corresponde à nossa compreensão, nossa cultura, nossas práticas. Agora bem, os mapuche revolucionários lhes damos uma conotação dentro do atual contexto de luta.”
Que vínculo existe entre a celebração do We tripantu e o presente marco de luta, então?
"Se este é o tempo das chuvas, da umidade, dos frios, em que a terra recebe novamente o vigor, o newen, de maneira natural, nós caminhamos em relação direta com a mapu e vamos recebendo o newen. Nós o entendemos como o renascimento da força, como o restabelecimento do weichan. Ela é a convocatória que temos os mapuche para continuar lutando por nossos territórios e nossa autonomia.
Esta é a hora em que nos reenergizamos com a terra, com a mapu e seus elementos. E, hoje, postulamos, com muito mais força, a luta territorial e autonômica. Nesse plano, ressignificamos a cosmovisão nossa para alimentar nossas ideias próprias.”
Em que consiste o futuro autonomista?
"No processo de buscar nossa independência política e ideológica. Estamos construindo um pensamento nosso para a partir daí potencializar nossa libertação. Há tempos que estamos dizendo que não vamos seguir ligados a outros paradigmas, mas que vamos recuperar o que, ancestralmente, nossos antepassados nos legaram. Até agora essa herança permanece vigente para a batalha por nossos direitos. Nossos antigos líderes tinham essa concepção e lutaram en todos os âmbitos junto ao seu povo.”
A visão de mundo com que observam, fizeram antes e fazem hoje mesmo, são as armas para os combates atuais…
"Em efeito. E se vê, perfeitamente, na presente confrontação contra o extrativismo e contra o sistema capitalista, que tem atua em nossos territórios. Isto nos obriga a propor, com superior energia, o que a Coordenadoria Arauco-Malleco realiza (CAM, http://www.weftun.org/). Porque nós nos movemos de acordo com os ciclos da terra também. E por isso nós outorgamos um significado novo aos mapuche, aos lonko (http://www.significadode.org/lonko.htm), às machi (https://es.wikipedia.org/wiki/Machi), aos weichafe (http://fiestoforo.blogspot.com/2010/04/vocabulario-mapuche-weichafe.html), e que corresponde em persistir na formação das condições concretas para dar continuidade à luta que temos empreendido.”
O autonomismo revolucionário. O anticolonialismo, antiimperialismo e anticapitalismo. A unidade.
Em que momento está a CAM?
"Queremos constituir uma referência política e ideológica. Queremos ser contribuição e aporte no processo de libertação, como desenvolvimento natural da própria visão do nosso povo.”
E em que situação está a luta concreta do povo mapuche como conjunto, como relações de força, como movimento real, que age após sua libertação e direitos violados?
"O povo mapuche está em uma permanente dominação geral, própria do colonialismo. O Wallmapuche sofreu e sofre, a sangue e fogo, a transnacionalização produto da mundialização capitalista. Por isso nós enfrentamos a resistência a partir dessa condição concreta e destrutiva do capitalismo. Por isso também a CAM está, e consideramos que todo o povo mapuche deve estar em busca de um projeto político libertador.”
Em que direção política central prática deve encontrar-se o povo mapuche?
"O mais importante é que o nosso povo discuta, debata, que exista muito trawn em seu interior, para que os pilares político-estratégicos do movimento mapuche provenham genuinamente de si mesmos.
Se nós pleiteamos a restituição territorial autônoma, e a desejamos realmente, não podemos privilegiar lutas institucionais e funcionais contra o sistema que nos domina. Temos que impor modos de luta que confrontem diretamente o sistema e o Estado capitalista chileno. Em consequência, necessariamente, as forças são criadas sob o autonomismo revolucionário. Isto postulamos na CAM.”
Mas nem todos os mapuche em luta compreendem a autonomia dessa maneira…
"Sabemos disso. A respeito nós realizamos uma crítica a quem se resigna a uma autonomia relativa, a uma saída pactuada e negociada dentro dos marcos que estabelece a dominação. E também a CAM assume com a maior coerência possível essa concepção. Tem-se que legitimar e articular a autodefesa mapuche. Mas não é por uma eleição nojenta nem sobre-ideologizada, mas que se deve à contradição dos nossos direitos contra os interesses do Estado empresarial chileno e a forma como o poder impõe mediante a força a totalidade das condições da nossa luta.”
O que ocorre com a relação necessária entre as forças anticapitalistas mapuche e aqueles agrupamentos e pessoas não mapuche que pensam e atuam segundo essa mesma vontade, e pregam, aberta ou silenciosamente, por mudar a vida e a ordem do capital no Chile e no mundo?
"Nós somos anticolonialistas, antiimperialistas e anticapitalistas. Os e as que lutam organizadamente contra o sistema devem ser capazes de formar suas próprias vanguardas. Em um contexto de relações de força mais favoráveis, a CAM perspectiva maneiras de entendimento e alianças estratégicas com todos/as que assumem similares princípios e objetivos. Agora, sempre e quando se respeitem profundamente os projetos políticos específicos de cada uma das forças. Inclusive, essa relação pode ir sendo formulada no curto e médio plazo porque os povos temos um inimigo comum.”