Publicidade
Publicidade
first
  
last
 
 
start
stop
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (1 Votos)

pmdbBrasil - De Esquerda em Esquerda - [Rudá Ricci] Marcos Nobre, em recente livro, afirmou que o sistema político brasileiro se afunilou do que denominou "pemedebismo". Fez questão de diferenciar de peemedebização, termo que remeteria ao partido PMDB.


Para o autor de "Imobilismo em Movimento" (Editora Cia das Letras, 2013), filho de Freitas Nobre, o pemedebismo se conforma numa cultura política que blinda qualquer força de transformação, fundada na primeira metade dos anos 1980 a partir da unidade forçada com todas forças que desejavam derrotar o regime militar e que se articularam ao redor da eleição de Tancredo Neves. O lulismo teria sido o último formato do pemedebismo, a partir da adesão do PT à formação de supermaiorias parlamentares, um dos pilares desta cultura política que desconsidera qualquer clamor das ruas.

Para sintetizar, Nobre sugere cinco elementos centrais do pemedebismo:

a) Governismo: estar sempre no governo, seja o partido instalado na cadeira central;

b) Supermaiorias legislativas: formação de enorme bloco parlamentar ao governo, autodenominada de sustentação da governabilidade;

c) Sistema hierarquizado de vetos: evitar iniciativas prejudiciais às cotas como "sócio do condomínio". Os vetos permanecem na sombra dos gabinetes;

d) Bloqueio ao ingresso de novos membros: preservar ou aumentar o espaço conquistado e manter a correlação de forças inicial;

e) Bloqueio de oponentes nos bastidores: evitar enfrentamento público e aberto.

Embora Nobre procure distinguir peemedebismo de peemedebização, é evidente que o partido inspira suas hipóteses e análises.

O PMDB, de fato, é um fiel do sistema partidário nacional.

Um fiel que se faz nas sombras, cuja sabedoria expressa o ensinamento de São Paulo: construir a unidade na diversidade. A diversidade que o faz partido com alma brasileira. Não que os brasileiros tenham uma única alma, mas porque o partido é distinto, de Estado para Estado, de região para região, assim como os "donos de seus condomínios".

Um partido que se acomoda ao relevo cultural e ideológico do Brasil. Em cada esquina, um peemedebista de plantão que é reconhecido como par por seus iguais.

É por este motivo que não consegue eleger um presidente. Não tem unidade interna. Em 1989, Ulysses Guimarães, o maior líder nacional que o partido teve, obteve 4,4% dos votos na eleição presidencial. Em 1994, nova tentativa com Orestes Quércia. Resultado: quarto colocado com 4,38% dos votos válidos.

Ocorre que se em 1989 e 1994 a chapa peemedebista foi pura, nas demais, o PMDB esteve como vice com José Serra em 2002, e com os candidatos petistas em 2006 e 2010.

Se nacionalmente não emplaca, nas esferas menores da disputa política a história é outra. Possui quase 2,5 milhões de filiados. E vai continuar crescendo pelas beiradas.

A Arko Consultoria projetou que o PMDB será o partido que elegerá o maior número de governadores e senadores neste ano: ampliará, segundo esta consultoria, de sete para dez o número de governos estaduais que comanda.

André Singer, em seu livro "Os Sentidos do Lulismo", sustenta que a partir de 2006 o eleitorado petista começou a coincidir com o peemedebista: pobre e com baixo nível de instrução. Talvez isto explique porque o PMDB é o partido que tem sua base eleitoral justamente onde o lulismo tem seu eleitorado cativo: nordeste do país (além do norte, no caso do PMDB).

O Perfil do PMDB a partir de seus caciques

Se o perfil nacional do PMDB é construído a partir de caciques regionais, um exercício interessante é avaliar quais caciques regionais figuram entre os peemedebistas mais citados nacionalmente e/ou que apareceram nos últimos dois anos em reuniões ou pronunciamentos decisivos do partido.

O Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) divulgou, em julho deste ano, sua lista dos 100 "cabeças" do Congresso Nacional. Trata-se do destaque daqueles parlamentares que conseguem se diferenciar pela "capacidade de conduzir debates, negociações, votações, articulações e formulações, seja pelo saber, senso de oportunidade, eficiência na leitura da realidade, que é dinâmica, e, principalmente, facilidade para conceber ideias, constituir posições, elaborar propostas e projetá-las para o centro do debate, liderando sua repercussão e tomada de decisão"[1].

A tabela abaixo revela a posição de destaque do PMDB, principalmente na Câmara Federal. Logo após o PT (que, por ser governo federal, tem seus parlamentares no Congresso Nacional com maior influência que os demais partidos), PMDB aparece com 15 "cabeças", sendo 10 do Senado. Na Câmara, o partido omnimus (termo empregado por Fernando Henrique Cardoso para indicar o PMDB como aquele cujo propósito é reunir seguidores de diversas doutrinas e ideologias) carrega poucas lideranças de destaque. Significativamente, é no Senado, representação dos interesses de cada Estado (para alguns autores, interesses das oligarquias estaduais) que o partido comanda sua festa[2].

Tabela-Rudá-PMDB

Por qual motivo? Porque o PMDB tem raízes nos territórios, nos locais, impregnado pela topografia distinta do país.

Interessante que seus expoentes nacionais não incorporam a região sudeste – a mais rica e poderosa politicamente -, com exceção do vice-Presidente Michel Temer. Eduardo Cunha, deputado do Rio de Janeiro e líder do PMDB na Câmara, por ter liderado parlamentares revoltosos com o governo federal ,vem sendo alijado de algumas negociações políticas centrais.

Mas é do Nordeste e , secundariamente, do Norte do país que vem a força parlamentar do PMDB em termos nacionais. Na lista, figuram Renan Calheiros (PMDB-AL), Eunício Oliveira (PMDB-CE), Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), Sarney e Edson Lobão (PMDB-MA), Eduardo Braga (PMDB-AM), Valdir Raupp (PMDB-RO) e Romero Jucá (RR). Lideranças que estão presentes em quase todas negociações nacionais que envolvam o alto comando da gestão pública brasileira.

Justamente os Estados que incluem o menor número de "cabeças" no levantamento do Diap, como se percebe no gráfico a seguir:

Gráfico-Rudá-PMDB

Sintomaticamente, do sul aparecem dois "outsiders", às turras com os governos do PT, ainda que nada indique ruptura com o núcleo do poder central: Roberto Requião (PMDB-PR) e Pedro Simon (PMDB-RS).

Em ascensão, o levantamento do DIAP aponta os seguintes parlamentares peemedebistas: Danilo Forte (CE), Lelo Coimbra (ES), Ricardo Ferraço (ES), Waldemir Moka (MS), Manoel Junior (PB), Marcelo Castro (PI) e Luiz Henrique (SC). Três do nordeste, um do centro-oeste, um do sul e dois do Espírito Santo. O futuro do PMDB, a contar por esta listagem, não é muito distinto do presente no que tange à sua inserção territorial.

O PMDB representa os Estados economicamente periféricos no poder central

Trata-se de um partido que se estabeleceu a partir do poder territorial espraiado pelo país, em especial, a partir de regiões que são periféricas do núcleo econômico nacional. Justamente por isto, o poder dos caciques passa a ser quase uma necessidade vital de seus Estados de origem para fazerem valer seus interesses nos fóruns de decisão dos investimentos nacionais. Algo que se aproxima do papel conferido pelas oligarquias rurais com a formação de currais eleitorais no início do Século XX, quando o Estado Nacional se insinuou por todo país.

Agora, contudo, não se trata do poder oligárquico que se representa a partir de seus afilhados políticos. Trata-se de uma casta (ou elite) política, experiente e confortavelmente instalada no interior do Estado nacional. O vetor do antigo clientelismo se inverteu com o PMDB: são os expoentes locais (empresários, artistas, desportistas e todas corporações estaduais dos Estados economicamente periféricos do Brasil) que recorrem a estes expoentes, criando novos anéis burocráticos que se formam ao redor do governo federal.

O interessante é que alguns autores contemporâneos (tendo André Singer e Marcos Nobre, já citados, como referências) sugerem que o PT, repaginado a partir do lulismo, caminha eleitoralmente para coincidir seu eleitorado com o historicamente peemedebista. Com efeito, os programas de investimento federal e políticas de transferência de renda estão alocados em regiões que se justapõem às bases eleitorais – e bases de seus principais expoentes nacionais – peemedebistas (agora, também petistas).

Mapa-Rudá-PMDB

O que levanta a hipótese do Brasil ser um eterno leitor de Tomasi di Lampedusa, autor da frase clássica proferida por um de seus personagens, o Príncipe de Falconeri: "tudo deve mudar para que tudo fique como está".

Notas:

[1] DIAP DIVULGA LISTA DOS "CABEÇAS" DO CONGRESSO NACIONAL E DOS PARLAMENTARES EM "ASCENSÃO", Brasília: DIAP, julho de 2014, p.2.

[2] O levantamento do DIAP destaca os seguintes expoentes do PMDB: Senador Renan Calheiros PMDB (Alagoas, Produtor Rural, com perfil de articulador), Senador José Sarney (Amapá, Empresário Formador de Opinião), Senador Eduardo Braga (Amazonas, Empresário e com perfil de debater), Senador Eunício Oliveira (Ceará, Empresário e Articulador), Deputado Sandro Mabel (Goiás, Empresário e Formulador), Deputado Fábio Trad (Mato Grosso do Sul, Advogado e Formulador), Senador Vital do Rêgo (Paraíba, Advogado e Articulador), Senador Roberto Requião (Paraná, Advogado e Debatedor), Deputado Eduardo Cunha (Rio de Janeiro, Economista e Debatedor), Deputado Henrique Eduardo Alves (Rio Grande do Norte, Empresário e Articulador), Senador Valdir Raupp PMDB (Rondônia, Administrador de Empresas e Negociador), Senador Romero Jucá (Roraima, Economista e Formulador), Deputado Darcísio Perondi (Rio Grande do Sul, Médico e Debatedor), Senador Pedro Simon (Rio Grande do Sul, Advogado e Debatedor).

Rudá Ricci é cientista social.


Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Microdoaçom de 3 euro:

Doaçom de valor livre:

Última hora

first
  
last
 
 
start
stop

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: info [arroba] diarioliberdade.org | Telf: (+34) 717714759

Desenhado por Eledian Technology

Aviso

Bem-vind@ ao Diário Liberdade!

Para poder votar os comentários, é necessário ter registro próprio no Diário Liberdade ou logar-se.

Clique em uma das opções abaixo.