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b 450 0 16777215 00 archivos Colaboradores avanzados Eduardo Vasco 2015 11 21579098414 768ff6b5e9 zBrasil - EPSJV - [André Antunes] Num contexto de retirada de direitos e de crise de representatividade no movimento estudantil, jovens criam novas formas de organização e mobilização política.


Foto: Diário Liberdade. Manifestantes ocupam Marginal Pinheiros.

Não é preciso um grande esforço de imaginação para identificar semelhanças entre as mobilizações estudantis que vêm acontecendo desde o final do ano passado e as protagonizadas pelo movimento estudantil nos anos 1960. Num país que, mais de três décadas após o fim da ditadura empresarial-militar, ainda luta para consolidar suas estruturas democráticas, a imagem de jovens apanhando da polícia em protestos de rua reabre velhas feridas. “A forma violenta com que as polícias tratam os movimentos populares é uma coisa que não mudou desde a ditadura”, ressalta Luiz Antonio Groppo.

O aparato repressivo construído naquele período teve como um de seus alvos prioritários os movimentos estudantis, principalmente a UNE e a Ubes. Logo após o golpe, no dia 1º de abril de 1964, a sede da UNE no Rio de Janeiro foi incendiada. “Isso não foi por acaso”, afirma Angélica Muller, professora da Universidade Salgado de Oliveira (Universo) e autora do capítulo sobre a repressão da ditadura nas universidades do relatório da Comissão Nacional da Verdade. “A UNE foi importante na discussão das reformas de base. Ela contribuiu na proposta de reforma universitária, defendendo a ampliação do acesso e a democratização das instituições públicas”, explica. Já a Ubes vinha, desde a década de 1950, organizando manifestações contra o aumento do preço das passagens do transporte coletivo da época, os bondes. “Essa é uma bandeira histórica dos secundaristas”, diz Angélica. 

Combater o foco de “subversão” representado por essas entidades tornou-se prioridade do regime ditatorial que no final de 1964 tornou ilegais a UNE e a Ubes por meio da lei Suplicy. Mesmo na clandestinidade, os estudantes continuaram se articulando. “Os relatórios das polícias políticas da época falam da ‘UNE Ilegal’. ‘A UNE Ilegal fez tal coisa’. Ela não existia oficialmente, mas continuava articulada”, conta Angélica. A resistência estudantil atingiu seu ápice em 1968, principalmente a partir dos protestos que se seguiram à morte do secundarista Edson Luís, no restaurante estudantil Calabouço, no Rio. “O movimento estudantil fazia manifestações ali porque a qualidade da comida era péssima, o lugar era insalubre. Numa delas, em março de 1968, a polícia matou o Edson Luís. Os estudantes transformaram seu protesto num ato político que se desdobrou em uma série de manifestações, culminando com a famosa Passeata dos 100 mil”, contextualiza.

No mesmo ano, veio o contragolpe do regime militar, que inaugurou o período mais duro da ditadura. Com a instauração do Ato Institucional Número 5, o AI-5, o presidente da República recebeu autoridade para suspender a garantia do habeas-corpus e os direitos políticos de qualquer cidadão por até dez anos, entre outras prerrogativas. Tudo isso sem passar pelo Judiciário. No final de 1968, veio o golpe de misericórdia no movimento estudantil: a polícia invadiu o sítio onde se realizava o 30º Congresso da UNE em Ibiúna, interior de São Paulo, e prendeu os cerca de mil estudantes que haviam comparecido ao local para escolher a nova diretoria da entidade. “Aí o movimento estudantil passa completamente para a clandestinidade”, aponta Angélica.

 A partir daí, a historiografia oficial aponta dois caminhos: ou a luta armada, ou o exílio. “Eu não concordo com essa tese. A movimentação dos estudantes continuou nos anos 1970, sob novas formas. Como estavam muito cerceados, os estudantes não podiam mais fazer grandes atos públicos. Então se organizaram para fazer pequenas manifestações nas universidades”, explica. Ela cita o plebiscito realizado por estudantes da USP, em 1972, em que 95% deles se posicionaram contra o ensino pago, em resposta a propostas de privatização do ensino superior que vinham sendo defendidas pelo governo. Na Bahia, por sua vez, os estudantes fundaram, em 1970, o Circuito de Cultura e Arte, o Cuca, uma maneira de organizar o movimento estudantil através de atividades culturais. “Cada lugar foi se adequando de alguma maneira para continuar resistindo”, diz Angélica. Para ela, a maior prova de que o movimento estudantil continuou articulado mesmo após o AI-5 foi o fato de que os estudantes foram alguns dos primeiros a sair às ruas a partir de 1977, quando voltaram a eclodir manifestações em prol das liberdades democráticas.

Crise de representatividade no movimento estudantil

A redemocratização marcou uma virada na trajetória das entidades representativas nacionais dos estudantes, que vão gradualmente perdendo o status de vanguarda nas lutas sociais e assumindo um papel secundário no cenário político. “É um momento de muita polarização interna do movimento estudantil, sobretudo entre as correntes do PCdoB e do PT”, diz Angélica. A década de 1990 inaugurou o período de hegemonia da União da Juventude Socialista (UJS), corrente ligada ao PCdoB, que se mantém até hoje na presidência da UNE e da Ubes. “Atualmente essas entidades padecem de uma crise de representação, que afeta nosso sistema político como um todo. É incontestável a dependência que elas têm do governo, e essa é uma crítica de muitos estudantes”, afirma a professora. Além disso, completa, concorre para esse processo a abertura de novas frentes de militância para os jovens a partir de movimentos como o feminista, o movimento LGBT e o movimento negro. “Esse modelo tradicional de movimento estudantil não está conseguindo dar respostas para essas questões. Hoje a UNE e a Ubes não são protagonistas do que está acontecendo. Elas vêm meio que a reboque dos movimentos que estão se articulando de maneira autônoma, por jovens que não se sentem representados por nenhuma organização”, conclui.


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