Quer dizer, esteve atento à criação de estímulos da capacidade de consumo do mercado interno. Contudo, sem reformas fundamentais, inclusive sem uma reforma tributária progressiva. Mobilizou a combinação desigual dos interesses das oligarquias burguesas do país e do capital estrangeiro, com os das classes populares.
Tal fórmula durou alguns anos, em que a capacidade redistributiva esteve lastreada no "boom" das exportações, ampliando o consumo popular de certos bens e, parcialmente, serviços imprescindíveis, em especial, educacionais.
Agora, veja, com a recente diminuição da receita obtida no mercado internacional de "commodities", a presidente Dilma, o PT e demais aliados do ex-presidente, tinham que escolher um lado.
E escolheram: o grande capital, adotando drásticas medidas recessivas, que têm beneficiado demasiadamente ao sistema financeiro, para a desgraça do povo, mergulhado em um aumento do desemprego, na intensificação da precarização do trabalho e na perda do poder de compra.
E daí? Daí que essa ordem de coisas - mesmo altamente contraditória -, aquelas medidas que poderiam ser entendidas como socialmente tímidas, estão sendo o suficiente (!!) para a estrutura de poder no Brasil demonizar o ex-presidente Lula, agora vendo-se na bica de sofrer uma prisão arbitrária, destituída de qualquer sentido que não seja uma partidarização reacionária da justiça.
Notem que isso está longe de ser uma apologia ao PT, que está colhendo o que plantou, tendo adulado amplos setores do sistema de dominação no país, muitos retratando o que de pior a nossa sociedade pode apresentar.
Trata-se sim da expressão mais clara do que é a estrutura de poder brasileira, a face sem máscara do que são as oligarquias/burguesias no país. Não se use mais a categoria democracia para designar o sistema político nacional.
Democracia não é apenas voto, que aliás não está sendo respeitado. Democracia requer algum grau de mentalidade, de comportamento, de prática, de lastro material igualitário. Em terra sob o controle do grande capital internacional e caracterizada pela superexploração do trabalho, falar em democracia, a cada dia fica mais evidente que corresponde a uma piada de péssimo gosto.
Roberto Bitencourt da Silva - historiador e cientista político.