A irracionalidade do antipetismo decreta uma correspondência entre características gerais e históricas da política brasileira (a corrupção, a luta desmedida pela permanência no poder, a vulnerabilidade econômica etc.) e características hipotéticas de um suposto “caráter petista” (os petistas são corruptos, lutam desmedidamente pelo poder, fragilizaram a economia do país etc.), para chegar à ilógica conclusão de que o PT é a causa definitiva dessas características indesejadas e perturbadoras em nossa sociedade.
Obviamente, afirmar de um petista corrupto que ele é corrupto não faz de alguém um antipetista. O verdadeiro antipetista, em vez disso, diz que fulano de tal é corrupto “porque” é petista. Como a corrupção no Brasil não é, nem nunca foi característica exclusiva do PT, a ilógica lógica antipetista prega que há na essência do PT “alguma coisa que queremos depor imediatamente” que faz com que haja corrupção, manipulação e crises econômicas no Brasil.
O antipetismo, portanto, introduz uma pseudo causa misteriosa que faz do PT o local do surgimento e da permanência da corrupção. A partir desse despautério, o PT é identificado como fonte de todos os nossos problemas. O amargo preço disso, contudo, é que toda a corrupção que preexistiu ao PT, e que existe pujante a despeito dele, é colateralmente alienada das demais siglas partidárias. Só assim mesmo para um PSDB da vida convencer alguém de que luta contra a corrupção sistêmica. Essa realmente é muito boa!
A injustiça verdadeira, seja a dos antipetistas contra o PT, seja a dos alemães nazistas contra os judeus, é começar colocando os nomes “PT” e “judeu” entre fatos universais indesejados, tais como a corrupção e a crise econômica, e, em seguida, achar que esses mesmos fatos são produzidos exclusivamente pelo PT ou pelos judeus. Uma vez que se é vítima dessa irracionalidade, parece lógico bater histericamente panela para depor uma presidenta petista, e, no caso nazista, exterminar mais de seis milhões de judeus.
Para quê? Ora, em terras tupiniquins, para que um PSDB, por exemplo, possa seguir plenamente corrupto sem, no entanto, parecer vestir o estigma da corrupção injustamente gasto apenas contra o PT. E em terras nazistas, para que a monstruosidade de Hitler mentisse alguma espécie de esforço evolutivo; para que o mal absoluto reluzisse algum bem estratégico; para que o capital burguês parecesse mais limpo apenas porque estava “limpo” de determinada etnia histórica.
Agora, assim como a ignominia nazista se revela plenamente quando assumimos que o mal não reside no judaísmo, muito embora alguns judeus sejam pervertidos e corruptos, também o antipetismo não se sustenta pelo fato de alguns petistas serem corruptos. O antipetismo não só é absolutamente injusto com os muitos petistas honestos (a própria Dilma, contra quem nenhum crime foi provado), como também, e principalmente!, é permissivo em relação à corrupção histórica no Brasil, mal que nunca se deu ao luxo de se restringir a uma única sigla partidária. O antipetismo, embora nas manchetes midiáticas pareça revolucionário, é tão reacionário quanto o fascismo de Hitler, e, historicamente, pode ser tão vergonhoso quanto ele.
Rafael Silva - Laboratório Filosófico