Foto de Sustentabilidade e Democracia
Contudo, o político peemedebista sempre caminhou entre as sombras do Planalto e, depois de eleito Vice-presidente, na maior parte das vezes demonstrou uma conduta apática na condução da sua função, bem diferente, por exemplo, do vigoroso e corajoso José de Alencar, vice de Lula.
Quando designado para a articulação política do segundo mandato de Dilma, Temer fracassou. Não demonstrou coragem suficiente para enfrentar as loucuras e a postura estapafúrdia do seu correligionário Eduardo Cunha (PMDB-RJ). E aqui começam os elementos interessantes.
No momento em que o Governo assumiu uma postura correta e corajosa contra a tentativa de Golpe de Eduardo Cunha e da direita, Temer sumiu. Por quê? Qual a razão, novamente, o motivo da omissão do Vice-Presidente da República? A resposta veio no dia 7, com a divulgação de uma carta grotesca, de baixo nível político, onde o político paulista cobra mais espaço no Governo (sempre lembrando que o seu partido ocupa 6 Ministérios, muitos dos quais com elevado orçamento) e reclama da sua condição subalterna no alto comando do país.
A pergunta é: em que lugar do mundo o vice deve ser o protagonista e não deve assumir a sua condição de subordinado? Será que Michel Temer esqueceu de toda a teoria constitucional que ministrou quando professor? Será que deixamos de viver num país Presidencialista e mudamos para uma República Vice-presidencialista?
A resposta para todas as perguntas é um grande e clamoroso NÃO. Só existem três explicações que justificam a conduta de Michel Temer: 1) oportunismo político; 2) tentativa de golpismo; e 3) que uma eventual abertura da “caixa de Pandora de Eduardo Cunha” pode respingar no vice-presidente e seus seguidores.
Tenho a impressão que as três alternativas caminham juntas, pois os argumentos utilizados por Temer não possuem base real, são uma mera tentativa de pressionar o Planalto e forçar uma barganha. Espera-se sempre de um Vice-presidente da República uma conduta republicana, que cumpra o seu papel de auxiliar e defensor do projeto político para o qual foi eleito. Sinceramente, nunca confiei em figuras apáticas que de uma ora para a outra tentam ser protagonistas. De substitutos que tentam dividir o poder com titulares. Estes, em regra, estão esperando espaço para assumir o comando, e a história está cheia de exemplos de casos semelhantes.
Numa República Presidencialista, o centro do poder é o Presidente da República ou a Presidenta, no caso do Brasil. O Vice assume o cargo eventualmente e com tarefas pré-definidas. Ele não é Chefe de Estado nem Chefe de Governo. Só assume o exercício do cargo do titular em caso de férias ou de ausência do país e, mesmo assim, de forma mitigada. Seu papel é, indiscutivelmente, o de um subordinado.
Por mais vigoroso, forte e articulado que tenha sido José de Alencar, talvez o mais notável Vice-presidente desde João Goulart, o primeiro nunca tentou se sobrepor à autoridade do Presidente. Ao contrário, trabalhou como fiel escudeiro durante os dois mandatos e Lula e cumpriu a sua tarefa fundamental, que é o de auxiliar o Presidente. Foi exemplar e brilhante, por isso ganhou respeito da sociedade.
Temer, ao contrário, parece estar sempre à espreita do poder, esperando uma oportunidade para roubar o protagonismo, e nunca foi um auxiliar efetivo de Dilma Rousseff. Se a Presidenta desconfia do mesmo, como o político peemedebista alega em sua carta, Dilma tem toda a razão, pois ninguém assume o seu cargo por mera nomeação ou diplomação, mas com trabalho efetivo. Michel Temer nunca exerceu este papel, e na primeira oportunidade tenta desestabilizar o governo.
Lembro que em novembro de 2014 escrevi estas palavras:
“As sombras e a hiper-realidade da mídia são os únicos espaços onde os agentes da direita conseguem se expressar de forma mais clara. Fica mais fácil esconder informações, manipular dados, criar heróis e vilões num jogo maniqueísta de poder.
É exatamente por isso que devemos nos precaver contra “golpes brancos”, ou o uso farsesco de instrumentos formais para direcionar ataques contra a organização democrática institucional. O Golpe de Estado praticado pela direita Paraguaia contra o Governo Democrático de Fernando Lugo, condenando pela diplomacia do Mercosul e da Unasul, ainda está muito próximo, e não pode ser esquecido”. (grifei)
A postura de Michel Temer apenas confirma a minha preocupação, motivo pelo qual o mesmo passa a ocupar o espaço de figuras como Eduardo Cunha, Aécio Neves, Gilmar Mendes e outros protagonistas do Golpismo. Uma opção honrosa para a saída do buraco que o próprio Vice-presidente se enfiou seria a de vir a público e prestar contas à sociedade. Afinal de contas, o que ele espera mais além de ser o Vice-presidente e representar um partido que gerencia uma parte significativa do orçamento federal?
Se pretende ser Presidente da República, existe um caminho democrático e justo, chamado eleição. Seguir outra alternativa, quando a principal argumento daqueles que defendem o impeachment da atual Chefe do Executivo não tem a menor sustentação racional, não tem outro nome que não seja “Golpe de Estado”!
Na década de setenta foi produzido um filme que ganhou o Oscar, e que teve o seu nome traduzido mal traduzido para o Brasil como “Um estranho no ninho”. O nome correto é “Há um cuco no ninho”! Mas por que um cuco? O próprio filme explica: a referida ave não choca os próprios ovos, nem criar os seus filhotes. Os ovos são depositados no ninho de outras aves e com o tempo, os filhotes nascem, crescem e, por serem maiores, vão jogando os outros filhotes para fora do ninho. É por isto que nos Estados Unidos a expressão que deu o título original ao filme é sinônimo de oportunismo. E com todo o respeito à ave, que faz isso como estratégia de sobrevivência e reprodução no ambiente natural, tenho a impressão que “Michel Temer está tentando colocar um ovo de cuco no Palácio do Planalto”. Está esperando a oportunidade do ovo ser chocado com o tempo e o apoio dos oportunistas e golpistas de plantão, já que não tem a força e o tamanho do filhote da ave. Para tanto, foi buscar o apoio de outros golpistas para derrubar seus companheiros de ninho presidencial para alcançar o poder, e como sempre, a mensagem foi enviada aos grandes meios de comunicação que, na verdade, compõem o mais forte de todos os partidos da oposição!