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010315 stedileBrasil - Carta Capital - Em entrevista, membro da coordenação do MST afirma que cabe aos movimentos sociais cobrar do governo as mudanças sociais necessárias.


O senhor se perfila entre aqueles representantes dos movimentos sociais que se sentem traídos pelo governo Dilma Rousseff?


Não. Sou parte daqueles que fizeram a campanha pela reeleição, a fim de garantir mudanças para melhorar as condiçoes de vida do povo. Espero, e ainda há tempo, de a presidenta e seu governo entenderem o recado das urnas.


Como a presidenta poderia recuperar a confiança do eleitorado que optou por manter o PT no poder por mais quatro anos?


Infelizmente, o governo Dilma começou mal, pois deu sinais de aceitar as pressões da direita e a agenda neoliberal.


Errou ao compor um ministério com representações conservadoras e ao anunciar cortes de direitos dos trabalhadores.


Ao aceitar o projeto de lei que abre para o capital estrangeiro a área de saúde. Errou ao demorar em tomar uma atitude mais incisiva e demitir a diretoria da Petrobras, instalar uma comissão da sociedade para uma auditoria e salvar a empresa da sanha de quem quer privatizar o acesso ao pré-sal.


Tudo isso leva à perda da base social que a havia apoiado no segundo turno. Espero que o governo se recupere. Da nossa parte, nos mobilizaremos para reverter essas medidas equivocadas.


O Brasil parece prostrado, mergulhado em um impasse de difícil solução. Como chegamos a este ponto, depois de viver um período de esperança em relação ao futuro?


O Brasil vive uma crise econômica por falta de investimentos pesados na indústria e na infraestrutura social das cidades.


Uma crise social, por falta de iniciativas mais claras para enfrentar o problema da moradia, da Reforma Agrária, da universalização do acesso à universidade.


E uma crise politica, pois a democracia brasileira foi sequestrada pelas empresas. As dez maiores financiaram 70% do Parlamento. Os deputados representam seus financiadores, não programas ou partidos.


Qual a saída?


A única saída é política, ou seja, uma reforma que devolva ao povo a confiança na democracia. O ministro Gilmar Mendes, do STF, precisa criar vergonha e devolver o processo que proíbe o financiamento privado de campanha, e o Congresso precisa aprovar os dois projetos em tramitação por lá.


Um, proposto pela coalizão democrática de entidades brasileiras, pede mudanças no sistema e outro sugere um Plebiscito para decidir sobre a convocação de uma Assembleia Constituinte. Este recebeu o apoio de 8 milhões de brasileiros.


O senhor vê no horizonte um clima a favor de um processo de impeachment contra Dilma Rousseff?


O anúncio do impeachment é uma tática da direita para pressionar e acuar o governo. Para que ele tenha medo de fazer as mudanças que o povo votou e quer no segundo mandato.


A tática é sangrar o governo, desgastá-lo para colher os frutos em 2018. O processo de impeachment não tem base legal. Não há responsabilidades da presidenta em nenhum crime.


É uma tática burra, inclusive, pois daria motivos para a sociedade se mobilizar em defesa da democracia e da legalidade.


E daria aos movimentos o direito de pedir o impeachment de todos os governadores acusados de fraudes, de todos os prefeitos. Ninguém sabe no que daria.


Há disposição dos movimentos sociais de saírem às ruas em defesa do governo ou do projeto por ele representado?


Os movimentos populares estão dispostos a se mobilizar e lutar contra os ajustes neoliberais do governo, as tentativas de retrocesso, a privatização da Petrobras, da Caixa, do sistema de saúde.


Ao governo cabe ter juízo e honrar o programa que o elegeu. A sociedade, acredito, não aceitará nenhuma aventura golpista, via Congresso ou Poder Judiciário.


Existe uma liderança capaz de apaziguar a situação e conduzir o Brasil por um caminho que o tire desse impasse?


A gravidade do tema não se restringe a lideranças, que sempre são fruto de processos de mobilização de massa, e não o contrário.


O Brasil precisa de um amplo debate a respeito de um projeto capaz de mobilizar os cidadãos, os movimentos, a favor das reformas estruturais necessárias, a começar pela política, mas sem deixar de lado a dos meios de comunicação e a tributária, que pune os assalariados e premia as grandes fortunas e o capital financeiro.


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