Faltam poucas horas para as eleições brasileiras de 2014. Entre os cargos políticos, infelizmente ocupados como se fosse o Baú da Felicidade, a presidência é sem dúvidas o cargo de maior expetativa; e, porque não, de temor.
Como todo brasileiro que não estará neste momento no seu país para votar, vou ter que justificar meu voto e, uma vez mais, esperar desde longe o resultado. Não pude acompanhar os debates, também não assisti aos horários eleitorais, mistura de circo com pequenas doses de seriedade, muito menos escutar o que andam falando por aí os vezinhos, os amigos, o jornaleiro, as capas sínicas da Veja e as manipulações (já nada sutis) da rede Globo.
Entretanto, uma pergunta que não logro responder e que não sai da minha cabeça: por que nós, brasileiros, temos tão pouca memória? Após os anos negros de ditadura, em 1989 realizou-se, em fim, a eleição direta para presidente. E durante duas décadas caímos e com dificuldade escapamos das mãos dos que só veem no Palácio do Planalto a sua oportunidade de abrir uma conta suíça. Fomos enganados, e muito! Mas, por que nos deixamos enganar?
Votamos sempre nos mesmos. Se não são os mesmíssimos, são seus filhos, netos, sobrinhos, primos, que, a pesar do discurso prometedor, são, como diz o ditado, farinhas do mesmo saco. Como o conservador Collor de Mello, nossa primeira 'decepção', continuou no âmbito político? Como FHC esteve no poder oito anos? Como São Paulo elege, nos tempos atuais, um tucano de primeira para o seu governo? Como o Rio de Janeiro pôde reeleger Eduardo Paes? Quem são os que estão disputando o pódio mais alto de Brasília? Não os seus nomes, mas sim os seus interesses: são os NOSSOS interesses?
Ao menos que você tenha uma conta corrente no Santander Premium e, como dizia a carta enviada aos seus clientes, lhe preocupe mais o que acontece em volta do seu umbigo do que com todo um país. Bom, neste caso, este texto, obviamente, não é para você.
Madrid, 04 de outubro de 2014.