Em outubro de 2006, foi reeleita deputada federal pelo Rio Grande do Sul, dessa vez concorrendo pelo PSOL. Obteve 185 mil votos, sendo a deputada mais votada em Porto Alegre. Comprometida com a luta de familiares de ex-presos, mortos e desaparecidos políticos, apresentou o Projeto de Lei nº 7.430/2010, no qual propõe que a Lei da Anistia deixe de proteger agentes públicos civis e militares envolvidos na repressão e na prática de crimes de lesa-humanidade, como a tortura, durante a Ditadura Militar.
Nesta entrevista Luciana fala do desafio de enfrentar uma das eleições mais caras e dominadas pelo poder financeiro já vistas no País e defende um programa de esquerda e a importância de unificar todos os setores populares para combater as candidaturas da grande burguesia e construir uma alternativa verdadeiramente popular em nosso país.
Você tem um filho. Como é ser mãe e ter atuação política tão intensa, num país em que as mulheres são ainda muito discriminadas?
Foi muito difícil. Diversas vezes perdi reuniões e atividades pelo fato de ser mãe e não existirem creches noturnas. Meus pais tiveram condições de me ajudar e, mesmo assim, precisei começar a trabalhar aos 17 anos, quando meu filho nasceu. Trabalhar, estudar, cuidar de um filho e fazer política foi um desafio enorme.
Como pretende fazer sua campanha sabendo que três candidatos (PT, PSDB e PSB) vão gastar cerca de 700 milhões na campanha eleitoral enquanto o PSOL e os partidos que a apoiam não têm nem recebem nenhum centavo dos grandes capitalistas?
Nossa campanha é centrada na mobilização da militância do PSOL, do PCR, de correntes políticas, movimentos e o engajamento individual de milhares de pessoas que apoiam nossa candidatura. O poder econômico ainda tem a capacidade de desequilibrar o resultado do pleito, mas esta eleição, em especial, está marcada pelo aumento da voto crítico e consciente, em relação às maracutaias dos partidos do sistema e das grandes empresas. A aposta nas redes sociais é necessária para diminuir a diferença do tempo de TV e da cobertura desigual da mídia. Acessem nosso site www.lucianagenro.com.br.
O Brasil, segundo a Auditoria Cidadã da Dívida, gasta R$ 3,4 bilhões por dia com juros da dívida pública, e, no ano, 40% do orçamento do governo vai para pagar esses juros. Eleita presidente, o que faria com esse dinheiro público que hoje vai para os bancos e o capital financeiro internacional?
De imediato, valorização do salário-mínimo e das aposentadorias, bem como aplicaria o valor correspondente a 10% do PIB na saúde e mais 10% do PIB na educação. Destinaria boa parte dos recursos para a seguridade social, fortalecendo o Bolsa Família. Faria também investimentos nas políticas de moradia e na implementação de um sistema nacional de transporte público, com tarifa zero. Com o dinheiro que vai para o bolso dos banqueiros podemos tirar o Brasil da situação de calamidade social em que se encontra.
Os empresários brasileiros estão unidos para aprovar, no Congresso Nacional, o Projeto de Lei nº 4.330, que legaliza a prática das terceirizações em todas as atividades econômicas, de todos os setores, sejam públicos ou privados, seja na atividade-fim ou na atividade-meio. Qual a sua posição em relação a esse projeto?
Sou contra esse projeto. Todas as medidas que levam à precarização do trabalho e à flexibilização das leis trabalhistas terão sempre minha resistência. Foi justamente o fato de eu votar contra um projeto de precarização das aposentadorias, a Reforma da Previdência, que tirava direitos dos trabalhadores, que levou a direção do PT a me expulsar do partido, em 2003.
Os trabalhadores também lutam para reduzir a jornada de trabalho para 40 horas semanais. Essa medida, de acordo com o Dieese, criaria três milhões de empregos no País. O que pensa dessa reivindicação dos trabalhadores?
Concordo, e faz parte da minha plataforma de governo. Nossas medidas no campo da economia visam à melhoria das condições para o mundo do trabalho e, sem dúvida, a redução da jornada semanal, sem redução de salário, é uma medida fundamental.
O transporte público no Brasil é fonte de grande corrupção no País, e, além de prestar um péssimo serviço à população, é caro e permite enormes lucros aos empresários. Quais as suas propostas para o transporte?
A primeira medida é a mudança de mentalidade: para nós, o transporte público é um direito e não deve ser tratado como mercadoria, em busca do lucro. Vamos criar um sistema nacional de transporte público, com forte financiamento do governo federal, para resolver esse grande problema de nossas cidades, em parceria com sindicatos de trabalhadores, movimentos urbanos, governos estaduais e prefeituras. Esse sistema será baseado em sistemas sobre trilhos, ou o que for mais adequado a cada cidade, além de contar com integração entre modais. O problema do transporte público tem soluções óbvias e passa por duas frentes: investimento do governo federal e controle público, com participação da sociedade, para que a pressão pelo lucro promovida pelos empresários não seja o objetivo principal, abrindo caminho para que possamos instaurar a tarifa zero no transporte público.
Sete milhões de famílias vivem em áreas de risco ou não têm casa para morar. Qual é sua proposta para resolver o déficit habitacional brasileiro?
Nossa proposta é trabalhar em parceria com os movimentos de luta pela moradia, em especial o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, que dão uma demonstração de organização e competência em São Paulo. Vamos destinar 100% dos recursos do Minha Casa, Minha Vida para gestão das entidades populares de luta pela moradia. Dilma destina somente 2% para as entidades e 98% para as empreiteiras. O resultado é que as entidades constroem casas com o dobro do tamanho, pelo mesmo preço. Assim, basta uma mudança de gestão para dobrar a oferta de casas do Minha Casa, Minha Vida. É necessário também enfrentar a especulação imobiliária com uma nova Lei do Inquilinato e o controle do preço dos aluguéis.
O governo dos EUA e dos principais países imperialistas mantém há mais de cinquenta anos um desumano bloqueio econômico a Cuba. Qual a posição que o seu governo tomará sobre essa questão?
Repudio o bloqueio econômico dos EUA a Cuba. Nosso governo terá relações diplomáticas e comerciais com Cuba, à revelia da pressão de quem quer que seja.
Apesar de receber grande apoio dos movimento populares, os institutos de pesquisa registram 1% para sua candidatura. Não é algo novo, pois também esses institutos não previram as manifestações de junho. Mas o que pensa a esse respeito?
Os institutos de pesquisa não são neutros, não fazem apenas medição da opinião pública. Os institutos têm um histórico de erros nas pesquisas que entendemos como tentativa de influenciar o eleitorado. O mais grave é quando servem de parâmetro para a cobertura da mídia. Aí o pacto das elites para tornar invisíveis as candidaturas contra o sistema é mais notório. Defendemos que se adotem leis, como na Grécia, que impeçam a divulgação de pesquisas nos 15 dias anteriores à eleição, o que deixa o eleitor mais livre para votar em quem de fato representa suas ideias e não como hoje, quando se influencia o eleitor a votar em quem tem mais chances, segundo os próprios institutos e a grande mídia. Em 2012, na disputa pela prefeitura do Rio, Marcelo Freixo, do PSOL, teve no máximo cerca de 20% das intenções de voto e, nas urnas, obteve quase 30%. Certamente se as pesquisas não fossem manipuladas e Freixo aparecesse com 30% nas pesquisas, teria ido ao segundo turno.