Leia mais: Quem se beneficia com os atentados em Paris?
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Passam as horas e parecem confirmar-se as consequências que os atentados de Paris de passada sexta-feira, que deixam por enquanto 129 mortes, deixarám no meio e longo prazo e que cientistas sociais como Alejandro Acosta articulam em três eixos: fortalecimento da extrema-direita, mais repressão interna e fortalecimento do imperialismo no Oriente Medio.
Baptizado em alguns meios como o 11-S francês, a alcunha é a cada vez mais merecida. Nom apenas pola brutal execuçom de um elevado número de civis, mas também porque tal como o 11-S estadunidense permitiu a expansom a larga escala e sem complexos de guerras imperialistas, os atentados de Paris estám a criar um estado de (in)consciência na Europa toda tendente a justificar, precisamente, o desenvolvimento das três linhas indicadas.
Para já, notícias nos meios de comunicaçom social começárom por relacionar alguns dos terroristas com a entrada de pessoas fugidas do Oriente Médio para a Europa (fugindo, precisamente, do mesmo horror do ISIS). Segundo as ditas informaçons, um dos assaltantes de passada sexta-feira terá entrado entre as e os refugiados. Comentários como 'é por isso que temos que estar na guerra na Síria' som frequentes entre franceses, francesas e nos países vizinhos nas últimas horas, e som espalhados polos meios de comunicaçom imperalistas.
A França pediu um congresso urgente dos Ministros do Interior e da Justiça da Uniom Europeia, em que pedirá reforçar a 'segurança' na luita contra o terrorismo - previsivelmente, abandonar as guerras imperialistas nos países do Oriente Médio nom será umha das medidas propostas. Dessa cimeira, previsivelmente, sairá algumha decisom no sentido de deixar como permantentes as medidas aplicadas na França com a declaraçom do Estado de Urgência.
Por exemplo, a truculenta Guarda Civil espanhola já pediu a açom do exército de forma rotineira na 'luita contra o terrorismo', à vez que pediu que se considere suspender a livre circulaçom de pessoas na Uniom Europeia e "aumentar a segurança" mesmo "reduzindo determinados direitos".
No plano imperialista, a França reforça a sua postura de intromissom no conflito na Síria e em antigas colónias, tal como a OTAN no seu conjunto.
Para terminar, e o que talvez se acabe por convertir no problema mais preocupante, avança a fascistizaçom europeia. Comentários até agora minoritários, tais como aqueles que consideram que muçulmanos/as e/ou estrangeiras de determinadas nacionalidades nom podem viver na Europa, assaltárom nestes dias os meios de comunicaçom social. Dessa forma, o simples preconceito xenofóbico expressado nas vozes de rádio-ouvintes, letoras/es e espetadores/as de TV está a ser exposto nos meios como mais um ponto de vista válido do problema, esquecendo que os mesmos terroristas excluírom motivaçons religiosas no ataque: "Vamos fazer-vos o que vós nos fazedes na Síria", gritárom enquanto disparavam. Esquece-se, também, que, à falta de confirmar identeidades e autorias, polo menos alguns dos atacantes fôrom nascidos na Europa e tenhem a cidadania europeia, tal como tinham as vítimas.
Aliás, no mesmo dia dos ataques de Paris, 40 pessoas morriam assassinadas no Líbano. Pola mesma organizaçom. No mesmo dia. Os seus corpos eram parecidos e tardarám mais ou menos o mesmo em se confundir com a terra de onde nascérom. No entanto, as consequências mundiais de umhas e outras mortes serám radicalmente diferentes: No caso libanês, poucas ou nengumha. No caso francês: estado policial, controlo ideológico, restriçons de liberdades, fortalecimento do fascismo e imperialismo em elevadas doses.
[Atualizado às 09:00, 14/11]"Danos colaterais" da guerra na Síria voltam a Paris: 128 mortes em vários ataques
Vários ataques ao longo da tarde e noite parisiense figérom 128 vítimas mortais nesta sexta-feira e deixárom 80 pessoas à beira da morte.
Umha sucessom de tiroteios com armas automáticas e explosons de bombas em diferentes pontos da capital francesa provocárom um número de vítimas ainda indeterminado, que nom parou de crescer ao longo da tarde e da noite.
O maior número de vítimas terá acontecido na sala de festas Bataclan, onde umhas 100 pessoas retidas como reféns por dous membros de um comando fôrom executadas antes de os assassinos serem também mortos por disparos da polícia francesa. Segundo testemunhos dos ataques na Rádio Galega, um dos atacantes gritou: "Vós matastes nossos irmaos na Síria, agora nos vimos ao vosso país para matar-vos a vós".
Polo menos duas bombas, provavelmente ativadas por sucididas no centro de Paris, terám feito também um número indeterminado de mortes, bem como o tiroteio de locais públicos, nomeadamente restaurantes, enquanto a seleçom francesa de futebol jogava com a alemá no "Estádio de França", de onde o presidente Hollande tivo de ser evacuado num helicóptero militar.
Ao total, o número oficialmente reconhecido é de 128, mas as 80 pessoas que nestes momentos estám à beira da morte provavelmente virám aumentar esses números. 8 pessoas atacantes resultárom também mortas.
Umha situaçom de medo alastrou pola capital francesa à medida que se conheciam novos ataques e vítimas mortais, com o exército espalhado polas ruas e as fronteiras fechadas por ordem do presidente. Também foi declarado o estado de emergência, o que nom acontecia em França desde a guerra da Argélia. O país tem o acordo Schengen - que permite a (mais ou menos) livre circulaçom de pessoas no interior da Uniom Europeia - suspens, mas isso era já previsto precisamente entre 13 de novembro e 11 de dezembro, em relaçom à Cimeira do Clima que acontecerá em Paris no início de dezembro. O exército foi disposto por todo o território francês. O estado de emergência facilita à polícia realizar detençons, mesmo sem autorizaçons judiciais.
Independentemente do curto prazo, no médio e longo prazo o acontecido em Paris vai ser usado, provavelmente, polas autoridades burguesas francesas e europeias para dar um passo em frente face ao estado policial e pola direita extrema europeia para acelerar, mais ainda, o seu crescimento.
Um acampamento de pessoas refugiadas provenientes de vários países africanos - Sudám, principalmente - em Calais, a conhecida como 'Selva' de Calais, sofria um incêndio que, de partida, foi atribuído a umha vingança fascista. No entanto, segundo vários meios entre os quais TeleSur, o fogo no acampamento nom terá relação com os ataques em Paris e sim terá acontecido já na noite de quinta para sexta-feira passadas. No incêndio nom houvo vítimas mortais entre essas 6,000 pessoas que moram em condiçons subumanas no coraçom da Europa.
ISIS reivindica os ataques
O principal grupo terrorista que dirige a guerra contra o governo sírio, o chamado Estado Islámico, terá reivindicado os ataques de Paris, segundo a agência ANSA, anunciando próximos episódios similares noutras capitais da Europa.
Por seu turno, Nicolas Sarkozy apelou a umha resposta em chave bélica ao que considera "declaraçom de guerra contra França", com umha declaraçom "a quente" que lembra a do presidente norte-americano George W. Bush logo a seguir aos ataques às torres gémeas, que dérom passagem à invasom do Iraque.
Será que França e outras potências imperialistas procuram argumentos para a intervençom guerreirista aberta na Síria? Provavelmente essa e outras incógnitas colocadas polos mais recentes ataques de Paris irám ter resposta em breve prazo...