"O referendo da Crimeia transcorreu totalmente em coerência com o direito internacional e a Carta das Nações Unidas", pontualizou o mandatário russo. Um plebiscito nacional é uma prática comum para que a população possa decidir o status político dos seus territórios, acentua o jornal russo "Pravda" e cita como exemplo Porto Rico, um território não incorporado dos EUA com status de autogoverno. "Os residentes deste território e outros tiveram a possibilidade de expressar sua opinião. Por que o povo da Crimeia deve ser uma exceção?", insiste, por sua vez, o representante permanente da Rússia na ONU, Vitali Churkin, segundo relata o diário "Rossiyskaya Gazeta".
O último referendo em que os portorriquenhos expressaram sua opinião sobre como deve ser seu status enquanto aos EUA teve lugar em 6 de novembro de 2012, mas não teve uma repercussão midiática internacional sobre os resultados como no caso da Crimeia, acentua o analista político Juan José Gutiérrez. "No caso de Porto Rico não aconteceu nada, porque os governos de muitas partes do mundo preferiram ficar calados para não afetar suas relações econômicas e políticas com os Estados Unidos. Mas neste caso, com a Crimeia, todo mundo se junta pela violação do direito internacional porque talvez pensem que isto lhes outorgará favores por parte das autoridades estadunidenses. É uma situação sumamente perigosa", insiste.
Originalmente povoado pelos taínos, Porto Rico se converteu em uma colônia espanhola após a segunda viagem de Cristóvão Colombo às Américas, em 1493, e esteve sob seu domínio durante mais de quatro séculos. Em 1898, após ratificar-se o Tratado de Paris com o qual se pôs fim à Guerra Hispano-estadunidense, o território (assim como as Filipinas e Guam) ficou sob controle militar de Washington e seu governador era desigando diretamente pelos EUA.
Em 1914, a Câmara de Representantes do Congresso local, o único órgão legislativo eleito pelos nativos através de comícios populares (diferentemente do Senado local, nomeado desde Washington), votou unanimemente a favor de sua independência dos EUA, mas não funcionou. Só em 1917, os portorriquenhos receberam a cidadania estadunidense: cabe destacar que os legisladores locais se opunham drasticamente à regulação, argumentando que o único objetivo era convocar os portorriquenhos para o Exército por causa da participação dos EUA na Primeira Guerra Mundial.
Em 1948, Porto Rico obteve o direito de eleger o seu governador, seu mais alto cargo político, quem está sujeito ao presidente dos EUA. Em 30 de outubro de 1950, nacionalistas portorriquenhos dirigiram o Grito de Jayuya, uma insurreição contra Washington. Teve lugar em várias localidades, mas principalmente nos municípios de Jayuya e Utuado. Os EUA declararam a lei marcial em Porto Rico e enviaram a Jayuya a Guarda Nacional: a localidades foi bombardeada e atacada pela infantaria e artilharia, o que resultou em sua destruição parcial.
Em 1952, a Constituição de Porto Rico foi ratificada e deu ao território o status oficial de Estado Livre Associado, com o direito de exibir sua própria bandeira (um ato anteriormente criminalizado) e sem direito a voto durante as eleições presidenciais dos EUA. A partir de então, em Porto Rico foram realizados quatro plebiscitos sobre um status permanente do território, fosse a opção pela independência, o Estado Livre Associado com maior soberania ou a anexação total aos EUA: em 1967, 1993, 1998 e 2012. Nas primeiras três consultas a opção do Estado Livre Associado prevaleceu. Em 2012, 61% dos votantes portorriquenhos apoiou a ideia de adesão completa aos EUA, como um Estado a mais (33% votaram por ficar no estado atuale 5% optou por um Estado independente).
Segundo Washington reiterou em numerosas ocasiões, as consultas só serviram para medir a popularidade de cada opção sem um compromisso sério do Governo federal. Enquanto isso, a Constituição dos EUA dá ao Congresso o direito de aceitar novos estados. Nos quase dois anos que se passaram desde a última consulta, o Congresso ainda não debateu o caso portorriquenho: no entanto, o presidente Obama comentou que Washington respeitará a opinião da população local.