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claudianonato2 HBrasil - Diário Liberdade - Neste mês, a Rede Globo, maior monopólio das comunicações no Brasil, completa 50 anos de existência. A TV Globo foi criada em 1965, um ano após o Golpe Militar. “A Globo já começou mal, se aproveitando da situação política da época da Ditadura”, afirma Cláudia Nonato, na primeira da série de três entrevistas que o Diário Liberdade realiza com profissionais da área da Comunicação sobre os 50 anos da Rede Globo.


Para a professora, doutoranda e mestra em Ciências da Comunicação pela ECA-USP, a Globo nasceu e cresceu dentro de uma lógica de manipulação dos meios de comunicação, do coronelismo eletrônico.

Roberto Marinho, então dono do jornal O Globo, usou seu veículo para impulsionar a campanha pela perseguição ao governo de João Goulart e a intervenção das Forças Armadas, culminando no Golpe de 1º de abril de 1964. Um ano depois, no dia 26 de abril de 1965, era criada a TV Globo, a porta-voz do regime ditatorial que governou o país pelos 20 anos seguintes.

Segundo Cláudia, a implantação da TV Globo foi uma forma do governo militar investir na alienação ideológica do povo, no chamado “pão e circo”. “Foi uma forma de trocar a informação pelo entretenimento, que teve um pesado investimento nos anos 60, e a Globo é muito boa nisso até hoje. Por isso as novelas são tão bem feitas ”, afirma. “Começou-se uma política de manipulação que vem até os dias de hoje. Primeiro com a Ditadura, depois a emissora se aproveitou da abertura política.”

Ela lembra que existem várias manipulações da Globo ao longo do nosso período democrático. “Nas manifestações pelas Diretas Já, milhões de pessoas foram à Praça da Sé mas a Globo não mostrou, porque durante o regime militar ela cresceu muito, e queria que os militares continuassem no poder para que a situação continuasse a mesma”, afirma. “não seria interessante pra ela que tivéssemos um regime democrático”, completa.

Fora o famoso episódio de manipulação durante as eleições de 1989, em que a Globo atacou Lula, então candidato do PT, Cláudia lembra do episódio em que, desafiada pelo então prefeito de São Paulo Celso Pitta, a emissora vingou-se de forma cruel.

Em dezembro de 1999, a TV Globo – que manda até hoje no futebol brasileiro – colocou a final do campeonato brasileiro na quarta-feira à tarde, no estádio do Pacaembu, em São Paulo. Celso Pitta, afilhado político do ultraconservador Paulo Maluf, entrou com uma ação judicial e (conseguiu mudar o horário da partida para o final da noite) , mexendo com os interesses comerciais da emissora.

Pouco depois, a Globo resolveu se vingar. Em uma entrevista para a emissora, a (ex-mulher de Pitta expôs o lado podre do político) e o denunciou por diversos esquemas de corrupção. Segundo a professora, por causa desse desgaste, Pitta acabou adoecendo e, mais tarde, veio a falecer. “Ficou muito evidente, porque, do nada, apareceu aquela mulher dando aquela entrevista, e acabando com ele. E acabou mesmo. A Globo, quando quer, derruba seus inimigos.”

Ela lembra também de uma represália recente à cantora Ivete Sangalo, que avisou que iria à estreia do programa da apresentadora Xuxa – contratada pela Record – porque são muito amigas, mas a Globo não autorizou e, diante da insistência da cantora, a emissora a retirou do programa “SuperStar” e colocou outra cantora, Sandy, em seu lugar.

No esporte, um caso recente também é o do atual técnico da seleção brasileira, Dunga. Ele era o treinador do time na Copa do Mundo de 2010, e, por tentar tirar os privilégios que a Globo sempre teve – e continua tendo – com a CBF (uma das entidades mais corruptas do Brasil, junto com a Globo), ao não dar exclusividade a ela, mas um tratamento igual para todos os veículos, teve sua imagem desgastada pelos ataques que sofreu da emissora. “Acabaram com o Dunga, o colocaram num ostracismo que fez com que ele não trabalhasse mais em clube nenhum, só no Internacional dois anos depois, e voltou pra seleção como um 'Dunga Paz e Amor'”, recorda a jornalista, brincando com a reconciliação feita entre o treinador e a emissora para que ele voltasse a treinar a seleção de futebol.

A respeito do histórico de manipulações nas eleições para servir os seus próprios interesses, Cláudia Nonato afirma que, talvez por causa da imprensa alternativa, ultimamente está mais difícil para a Globo conseguir dar uma “virada” nos resultados no final da eleição, o que era comum antigamente. “Essa força que está surgindo – com a mídia alternativa – é importante, pelo menos para bloquear esse tipo de coisa.”

Sobre uma eventual democratização da mídia, ela acredita que só com a pressão popular se poderá conquistar alguma coisa nesse sentido. “Tem que ser um movimento social, que venha do povo, que pressione o Congresso. Se ficarmos dependendo só dos políticos, sabe-se lá quando conquistaremos esse direito”, diz.

“As pessoas não entendem que isso é muito importante, porque sai um pouco da mão da Globo”, completa.

Haverá, no dia do aniversário de 50 anos da Globo (domingo, 26 de abril), manifestações pelo Brasil contra a emissora. Em São Paulo, um protesto no MASP espera levar milhares de pessoas à Avenida Paulista.


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