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170412 repsolArgentina - Esquerda - [Marco Antonio Moreno] Apesar de ter reduzido a produção, a YPF-Repsol duplicou os seus lucros no último exercício, apesar da falta de eficiência que obrigou à importação de combustíveis para manter a produção. Por Marco Antonio Moreno, El Blog Salmón


Nos gráficos seguintes, apresentamos a produção de petróleo da Argentina e do Brasil. Os dados são do Escritório de Informação energética dos Estados Unidos, EIA. O tema é candente para todo o mundo, devido ao alto preço a que chegou o crude, e para a Espanha, devido à expropriação da YPF à Repsol, empresa que há muitos anos estava a desinvestir na petrolífera, para distribuir lucros entre os seus principais acionistas: La Caixa e BBVA.

producao-de-petroleo-na-argentina-1994-2011

Os planos de desinvestimento da Repsol foram anunciados por vários média, como Expansión, Herald Tribune ou a própria Repsol, que já em 2010 dava conta da sua intenção de livrar-se de ativos, como os que entregou à brasileira Petrobras. Foi esta a tónica que manteve a Repsol-YPF ao largo de toda a sua gestão, num processo de desinvestimento que a arrastou a uma produção cada vez menor desde a própria privatização da empresa, em 1999. Como mostra o gráfico, a YPF passou de uma produção de 920 mil barris diários em 1998 aos 760 mil barris de 2011, uma queda de 18%, longe do aumento de 300% da petrolífera brasileira, como mostra o gráfico seguinte:

producao-petroleira-do-brasil-1994-2011

A queda da produção de petróleo da Repsol-YPF foi esgrimida pelo governo argentino como a principal causa para a expropriação da petrolífera, que foi declarada uma empresa de utilidade pública. O governo argentino estabeleceu como objetivo prioritário conseguir o autoabastecimento de hidrocarbonetos, e a exploração, a industrialização, o transporte e a comercialização dos mesmos. Como assinalou Cristina Fernández:

"A prosseguir com a política de esvaziamento, de falta de produção e de exploração, tornar-nos-íamos um país inviável, devido a políticas empresariais e não por falta de recursos, já que somos o terceiro país do mundo, depois da China e dos EUA, em reservas de gás", e acrescentou que o ano passado foi "a primeira vez em 17 anos que a Argentina teve de importar gás e petróleo".

Nessa mesma declaração, Fernández denunciou que apesar de ter reduzido a produção, a YPF-Repsol tinha duplicado os seus lucros no último exercício, apesar da falta de eficiência que obrigava à importação de combustíveis para manter a produção agrícola, ganadeira e industrial. Daí que qualifique a medida contra a Repsol-YPF como "uma recuperação da soberania".

História de uma privatização

A empresa Yacimientos Petroliferos Fiscales (YPF) foi o primeiro ativo estratégico economicamente viável do Estado argentino entre 1922 e 1992. Nestes 70 anos, a YPF conseguiu expandir a oferta e a produção de energia em todas as suas formas (petróleo, gás natural, eletricidade) diversificando o abastecimento elétrico e permitindo uma configuração da estrutura económica do país baseada na industrialização para substituir importações de consumo maciço (o conhecido modelo ISI). Também permitiu o desenvolvimento de indústrias-chave como a do aço, a petroquímica, as indústrias automobilística, aeronáutica e naval, e o avanço científico-tecnológico do campo nuclear.

Com a YPF, o estado argentino formulou e implementou uma série de políticas de planificação estratégica que resultaram no desenvolvimento de um aparelho produtivo que possibilitou melhores vantagens competitivas para a economia e melhores condições de vida dos argentinos, confirmando a dependência que alcançou a nossa civilização a respeito do petróleo, tal como assinalei no post "Está a Humanidade preparada para o fim do petróleo?"

No entanto, o modelo económico da ditadura militar (1976-1983), baseado na desindustrialização, no estancamento científico e técnico, na desregulação dos mercados, no ajuste estrutural e no endividamento externo, assentou as bases para a completa alienação do setor petrolífero, que foi executada durante os governos de Carlos Menem: a primeira parte culminou em 1993 e a segunda em 1998. Como sempre, os argumentos dados pelo governo de Menem para a privatização foram os do costume: a YPF dava prejuízo; há uma corrupção institucionalizada; o Estado não está em condições de investir na exploração de hidrocarbonetos, etc. Foi assim que a espanhola Repsol se assenhoreou da YPF pela módica soma de 2 mil milhões de dólares para cobrir os números vermelhos do governo de Carlos Saúl Menem, um riojano que deixou a Argentina na bancarrota total, como ficou demonstrado dois anos depois.

Desinvestimento: afundamento e ruína

Como assinalou nesta entrevista de 2005 o investigador Marc Gavalda, da Universidade de Barcelona, os problemas da Repsol começaram cedo, e logo em 1999 a empresa ameaçou o governo de De La Rua com planos de desinvestimento se não fosse prorrogada a concessão de algumas jazidas de hidrocarbonetos. O desinvestimento da Repsol-YPF num setor que requer investimentos constantes para manter o nível de produção, com indicámos em "O que impulsiona a alta do preço do petróleo apesar da queda da procura?", significou uma descida constante da valorização da empresa, como apresenta este mapa da bolsa para os últimos 12 meses da Repsol-YPF.

repsol- ypf

O afundamento de Repsol-YPF foi imparável e o governo do presidente Mariano Rajoy não deveria amparar o auxílio desta empresa, dado que a maioria dos capitais da Repsol não só não pertencem a empresas espanholas, como também têm a prática habitual de operar em paraísos fiscais, como assinala este artigo de Eduardo Muriel "Onde está a Repsol dos espanhóis?", e este outro de Alberto Garzón. Daí que sejam desmedidas as represálias que está a tomar a Repsol, como indica este artigo do El País, quando a empresa esteve em queda contínua, tanto no nível de produção quanto no de valorização bolsista.

Além disso, tecnicamente a Repsol não é uma empresa espanhola, dado que a maioria do seu capital não é espanhol, e tampouco beneficia o governo ou os trabalhadores espanhóis, dado que evade os impostos para os paraísos fiscais. O seu pedido de socorro implica um sério golpe ao governo de Mariano Rajoy, justamente em momentos em que o governo empreende uma cruzada contra a fraude e os paraísos fiscais, e em instâncias onde pretende recuperar a confiança e a credibilidade dos mercados internacionais. Este golpe pode aumentar ainda mais a tensão que vive a Espanha, e submetê-la a um caminho de pseudopatriotismo e de perdição.


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