O imperialismo e a burguesia colombiana vinculada aos seus interesses não estão interessados na paz em Colômbia. Obrigaram o povo colombiano a uma heróica resistência armada de mais de três décadas. Julgam poder vencer essa guerra. Este testemunho mostra algumas das razões porque não o conseguirão. A luta das FARC-EP é a luta dos camponeses pela terra, a luta dos trabalhadores contra a exploração, a luta do povo colombiano pela liberdade, pela emancipação social e pela independência nacional.
Despediu-se de mim com um sorriso.
O revólver colocado entre a cintura e as calças, saliente, onde formas brancas embelezavam o cabo. Deve ser pesada, pensei. O aperto de mão afetuoso, a vontade de ambos de abraçar o outro, as mãos um pouco desajeitadas, acabámos ambos sorrindo abertamente ao desejo de um adeus sentido, e um desajeitado abraço acabou por surgir, as mãos apertando os dedos, na face um beijo de despedida, ao meu ouvido as palavras sussurradas, Cuídate.
Um jovem guerrilheiro das FARC-EP. Não teria mais de 20 anos. Fora ele que me havia ido buscar ao pueblo X e tivera a tarefa de me conduzir até ao Comandante M. Fora ele também que havia tido a tarefa inversa, a de me trazer de volta até ao pueblo X, Ustedes hablaran mucho.
A organização do encontro com o Comandante M exigira seguidas e cansativas etapas até ao final destino onde o conhecimento se haveria de travar. Onde esse extraordinário, caloroso e expectante conhecimento se haveria de encontrar ao sabor de umas Águila light.
A chegada ao primeiro ponto havia sido uns dias antes. Chegara à cidade de V onde companheiros me haveriam de receber numa espera que quase desespera. Normal, diziam-me. Assim é, assim tem de ser. Tudo é clandestino. Tudo se combina entre meias palavras. Deveria partir no dia seguinte ao da minha chegada, mas assim não foi. Deveria partir nos dois dias seguintes ao da minha chegada, mas também assim não foi. Deveria partir nos três dias, quatro dias, cinco dias seguintes ao da minha chegada. E quando achei que já não seria possível, que as condições para o encontro não estavam satisfeitas pelas próprias circunstâncias tão particulares daquela exigente e heroica luta, onde o cuidado exige ser extremo, parti.
Durante o desenrolar da conversa com o Comandante M, ele dissera-me, La primera vez que uno viene aquí, viene acompañado; pues a ti te toco venir sola. Não vi, mas senti, o terno sorriso, Pues aquí estas, y eso es lo importante.
Dia 1
A partida da cidade de V. A apreensão do que seria aquele tão esperado encontro criava uma sensação onde expectativa e intranquilidade impunham um miudinho nervoso. Comi o pequeno-almoço que me haveria de manter durante uma dezena de horas.
Às 5h15 estava no táxi que, 10 minutos depois, me deixaria no terminal. Às 5h30 parti para a cidade de QR. Aqui, uma passagem já se encontrava reservada em meu nome para a cidade de Y. A viagem seria num jipe, e talvez pela reserva, talvez por mera simpatia, viajaria no lugar ao lado do condutor, enquanto atrás os restantes passageiros se comprimiam entre suores. A estrada era de macadame. E a minha atenção focava-se na paisagem. E no que não poderia esquecer de dizer caso o Exército ou a Polícia Militar me mandassem parar.
Num ponto do caminho, o jipe é obrigado a estancar. À janela, brutais, frios e desconfiados olhos, acompanham as violentas palavras, De que país eres tu? A minha tranquilidade e olhar fixo devem tê-lo desordenado. Tranquilamente respondi, De Canadá, Pasaporte! Dei-lho. Revirou-o, olhou-o, olhou-me, Qué haces aqui? Soy profesora y investigadora y trabajo sobre el tema de la agro-minería; vengo aquí a colaborar con una asociación campesina. Devolveu-me o passaporte, Qué le vaya bien. E o jipe seguiu viagem.
Chegada a Y.
Teria de efetuar uma ligação telefónica de forma a informar da minha chegada. Aí deixaria a maioria dos meus (sempre excessivos e inúteis) pertences pessoais numa casa. Recuperá-los-ia na volta, quando, dois dias antes da partida definitiva, ainda haveria de ter tempo para visitar um amigo com quem havia compartido o pânico e o medo durante o Paro Agrario de 2013, quando, no refúgio humanitário de C, a ESMAD investira contra o acampamento onde se encontrava um milhar de campesinos e mineiros. Tiros a bala real, um companheiro que quase morrera dos golpes e facadas sofridos, jazendo, em estado grave, numa enfermaria improvisada, coberta de lona, onde a luz eléctrica se mantinha graças a um gerador, o helicóptero ameaçante, tiros, lasers percorrendo os arbustos à nossa volta, tiros, uma poderosa luz enviada constantemente para o centro do acampamento por dezenas de militares que nos rodeavam, tiros, o medo. A percepção minha, pela primeira vez, da violência militar extrema utilizada por um Estado terrorista. Ainda tive tempo de com aquele amigo uma conversa compartir e de rememorar aquele Paro de 2013.
Em Y, o calor e o suor escorriam-me pelo corpo. Depois de mais de 6 horas de viagem desde a cidade de V, teria de prosseguir. Os meus pertences aí ficariam e seguir-se-ia uma viagem de moto de mais umas horas tantas.
Antes, diziam-me, Había que hacer ese mismo viaje en mula. Então, a viagem poderia exigir praticamente um dia até à vereda K. A estrada que conecta Y à vereda da minha chegada havia sido construída pelos próprios habitantes das veredas próximas, onde as comunidades campesinas e mineiras se encontram votadas à sua própria sorte. Sem meios de comunicação, sem sinal telefónico, sem acesso a serviços de saúde e de educação. De forma a encurtar as distâncias, a poder, ainda que com extrema dificuldade, chegar à cidade mais próxima, constroem com o seu próprio suor as vias de comunicação que o Estado lhes nega.
Com efeito, a saída da cidade de Y logo nos anuncia que estamos em outro território. Num território abandonado pelo Estado, do qual este apenas se lembra quando com fortes e violentas investidas militares aí ataca campesinos, mineiros e insurgência. Onde paramilitares semearam barbárie e medo.
Portagens construídas com cordas no meio da estrada: o dinheiro serve para a manutenção das vias. As comunidades organizam-se. Com a ajuda e proteção do Exército do Povo.
A pequena mochila, com o mínimo indispensável, pesar-me-ia nas costas. A estrada é de terra, de pedras, rodeando montanhas que ora sobem, ora descem. A mota tem dificuldades nas subidas. Sentimos o corpo triturado e o que nos mantém respeitosamente sentados na moto é, apenas, a esperança de chegar. Horas depois, naquela longa e tortuosa estrada fruto do labor campesino, chego à vereda K.
A vereda K
O motorista deixa-me na casa indicada. Aqui, apreendo, pela primeira vez, esta vereda que, hoje, caminha memória (a)dentro.
A comunidade auto-organiza-se, a insurgência atenta, sempre presente, motor da história de resistência, defendendo pequenos campesinos, pequenos mineiros e operários mineiros. A eletricidade não chega até aqui. Quando necessário, alguns geradores vão fornecendo a energia indispensável, a água busca-se através de canos de plástico que se prolongam entre poços, algumas casas não têm água corrente.
O casario de madeira abarca mais de uma centena de famílias, a maioria trabalhadora das artesanais minas de ouro. O trabalho, aqui, extenua até quem apenas mire estes homens carregando alqueires de terra, mesclada com ouro, às costas, enquanto sobem íngremes escadas, construídas até 600 metros abaixo da superfície.
É aterrador descer numa destas minas. No te preocupes, si algo pasa yo estoy aquí, te pego y te llevo para fuera, cierto? Agárrate a mí, a mis manos, no te preocupes, yo estoy aquí, Cuántas veces por día subes y bajas estas escaleras?, No sé, por veces siete u ocho, Tengo miedo, No tengas, aquí estoy. Estanco a meio. Não consigo descer mais. A mina, torta, é um buraco escavado terra abaixo, na vertical, sustentada por blocos de madeira, as escadas presas por cordas, com a água, a partir de um determinado momento, encharcando-nos, fazendo-nos escorregar, assustando-nos, Vengase, estás conmigo, no tengas miedo, estoy aquí, contigo. Desci. Até ao fim. É aterrador.
Mi trabajo es bombear el agua, varias veces al día, Y si no la bombeas?, La mina se inunda.
Aqui, no entanto, dezenas de trabalhadores, diariamente, sacam o sustento para as suas famílias. Nunca hay accidentes? Algunos, No tienes miedo?, Uno sabe que todos los días arriesga su vida aquí. Senti um aperto. E uma admiração e respeito imensos.
Terra de resistência. Resistência não armada e resistência armada. Pelas montanhas, o Exército do Povo resiste heroicamente, numa luta que, se desde sempre fez parte da construção de um país cujos homens e mulheres não cedem, não querem ceder, às investidas do grande capital, remonta a 1964 a sua oficial formação.
Foi aqui que, emocionada, veria, tocaria, cumprimentaria, trocaria palavras, ouviria o Comandante M.
Nesta vereda, Te toca esperar, dizem-me várias vezes, No te preocupes, aquí vendrán a recogerte, pero te toca esperar, Uno nunca sabe si hay condiciones o non para que te puedas ir.
Dia 3
F aproxima-se da casa que me albergava. Chama-me à parte. Hoy vendrán a recogerte. Não pude evitar um largo sorriso. F, séria, solene, sussurrando quase, tampouco pôde evitar responder ao meu sorriso com um sorriso seu.
Prepárate para quedarte allá, uno no sabe se tiene o no que quedarse con ellos. Preparei, apressada, a mochila com o quase nada de que eventualmente necessitaria. No te apreses, en general vuelven como en una media hora o más.
Não sei quanto tempo decorreu entre a informação de F e a primeira moto que me levaria até PR. Uma moto surge. Vengo de la parte de F. Don H, ex-guerrilheiro, campesino, com uma cultura histórica e política que me prendia ao banco, ouvindo, aprendendo, com cicatrizes da guerra onde combatera durante 8 anos, sorriu, pela primeira vez, tão aberta e afavelmente, que senti um tremor de emoção, Ahora vas a conocerlos, suerte camarada!, e, emocionado, despede-se. Porra, pensei, é um privilégio trocar vidas e histórias com aqueles que nunca desistiram de combater pela vida.
Tranquilamente, montei na moto. E aí fomos. Chegara o momento. Esperado, imaginado, agora em vias de concretização. O longo caminho, uma vez mais, entre pedras, riachos e pontes improvisadas. Apenas num momento tive de sair da moto e passar a pé sobre um tronco. Que servia de ponte. Que ali estava permitindo conectar duas margens.
No caminho, outros casarios. E grandes telas, em diferentes casas, homenageavam a insurgência. Nalguns casos, ambas as insurgências: FARC-EP e ELN. Em letras chorudas, sem medo, ali entraria num terceiro território. Abandonado pelo Estado, sim, apenas lembrado para assassinatos e perseguições pelo aparelho (para)militar estatal, mas onde a Palavra-maior de liberdade, resistência, luta e compromisso se balançava nas ruas. Emoção. Emoção seria, aliás, a partir daqui, o sentimento que melhor descreveria os momentos que a partir de então se desenhariam. Emoção.
Chegámos a PR, um pequeno casario com umas poucas dezenas de construções, num pátio de uma casa de madeira onde homens comiam. Es con él con quien tiene que hablar, dissera-me o motorista. Sentados, os homens não me prestaram atenção. Cumprimentei-os, cumprimentei Don G. Usted ya desayunó?, No, Come. Comi. Troquei palavras com as mulheres. Pouco tempo depois, os homens dispersaram-se. Don G oferece-me uma cama, num pequeno quarto despido, para descansar, Ya te vendrán a recoger. Sorrimos ambos.
Tiro as botas de borracha, impermeáveis, e estiro-me na cama. Sem dar por isso, adormeci. Um sono tranquilo.
Todos estes homens, todas estas mulheres, imprimiam-me uma sensação de segurança e de tranquilidade. Sem nunca antes os ter visto, em terra estranha, encontrava-me estranhamente tranquila.
Encontro
Acordo com um lindo jovem, botas de couro negras usadas, calças caqui de tipo tropa, t-shirt vermelha, o rosto quieto, à porta, Usted como se llama?, M, Listo, vámonos?
Voltei a calçar as pesadas botas, peguei na mochila, acompanhei-o até à moto e instalei-me. Fomos até um outro casario, as mesmas telas anunciando que, naquele território, é o Exército do Povo o Estado. Comprámos cigarros, seguiram-se sorriso e empatia mútuas, Vejo que a usted no le incomodan los cigarrillos, diz-me, Quiere uno? Um sorriso quase infantil, grande, brilhante, incutia-me uma segurança crescente.
Seguimos pela mesma via tortuosa até um ponto onde um outro guerrilheiro nos esperava. À borda da estrada, ali estava, olhando-nos. Enquanto aqueloutro seguia em mula, continuei na moto, selva dentro, até uma pequena finca. A moto desligada, enquanto uma família, sem nunca dirigir palavra, sem tampouco dar uma atenção particular à nossa chegada, descansava. Qué tal eres en las subidas? Depende, respondi. E, aqui, maldisse os cigarros todos que ao longo de mais de 20 anos têm consumido os meus pulmões. Adiante, ele subia, passo ligeiro e rápido, e eu sofria, Discúlpame, pero tengo que parar, no logro subir, Déjame llevar tu mochila, yo la llevo, Pero así te dificulto a ti la subida, No te preocupes, sorriu-me, Estoy acostumbrado a tener mucho más peso y a subir mucho más. Claro, pensei. Que parva que sou, pensei.
No cimo do monte, um grupo de guerrilheiros fazia guarda. Estava com o Exército do Povo. O imaginado, finalmente, tornado numa realidade.
Indescritível foi o turbilhão de pensares e sentires que me assaltaram. Ali estava. Com o Exército do povo.
Comandante M
Quando o sonho se transforma em projeto e o projeto em realidade, é difícil manusear as sensações. E ainda mais descrevê-las. O primeiro contato foi com um aperto de mão. Estava desajeitada, ofegante, a língua de Castela entaramelada, emocionada, contente, feliz, Tranquila, no entanto.
A despedida, ao contrário, foi com um abraço. Forte. Sentido. Guardo-o. Comigo. Aquele abraço. Aquela emoção. Guardo-o. Na memória. Aquele feliz abraço. Pouco tempo antes, o Comandante comentara, La luna hoy está bella.
A guerra de guerrilhas móbil que caracterizara os primeiros anos das FARC-EP transformara-se, num determinado momento, em guerra de posições. Dois Exércitos afrontavam-se, com centenas, ou milhares, de homens combatendo, frente a frente. As perdas de vidas de guerrilheiros, no entanto, eram muitas. O avanço tecnológico e apoio exponencial do império estadunidense apetrechavam o Exército do Estado terrorista de meios inalcançáveis para a guerrilha. Hoje, a insurgência voltou à guerra de guerrilhas. Hoje aqui, amanhã não.
Em constante movimento, montanhas calcorreadas, a guerrilha tem, hoje, um novo inimigo. A aviação. Siempre hubo ataques aéreos en esta guerra, pero antes uno se reía. Por ejemplo, donde estamos ahora, lo que pasaba es que el avión pasaba y no sabía dónde estábamos; entonces, la bomba caía aquí al lado, pero raras veces sobre nosotros. Ahora non. Tienen aviones que detectan el humo, que detectan el campo magnético de baterías, que detectan el calor humano, que son precisos. Ahora es mucho más difícil.
Era difícil imaginar ali, naquela Floresta, um clima quente e húmido, mas calmo, ao som das aves nativas e com um magnífico entardecer, aviões bombardeando. Así es. Uno está aquí, tranquilo, pero de un momento al otro todo puede cambiar.
Um dos aspectos já acordados em Havana diz respeito à não incorporação de menores de 15 anos em combate. Quando falamos da incorporação de menores, a resposta surge rápido. Usted está vendo ese guerrillero allá? Tiene 14 años. Está con nosotros desde los 4 años. Nosotros somos su única familia. Lo que pasa es que con los asesinatos y desplazamientos constantes, muchos niños se quedaban solos, sin familia, o huérfanos. Nosotros non podíamos abandonarlos y así los traíamos con nosotros.
Assim a guerra obrigou. Assim o obrigou a repressão, violência e barbárie do Estado colombiano.
As comunidades campesinas onde atuam as FARC-EP têm um nível organizativo e participativo inigualável. Os preços são estabelecidos coletivamente, a organização da vida quotidiana é discutida coletivamente, as estradas são construídas coletivamente, os conflitos são discutidos coletivamente. Somos un Estado dentro del Estado. Por veces tenemos até que resolver conflictos entre parejas. E sorri.
Há mais de 30 anos na luta armada, o Comandante M não tem dúvidas sobre a Colômbia que quer ver renascer. Se o objetivo último, estratégico, das FARC-EP, organização política armada, é a construção de uma sociedade socialista, hoje, por demanda das bases campesinas e mineiras, de trabalhadores de Norte a Sul do país, dos povos indígenas, das comunidades de origem africana, da população urbana, também pela certeza de que, hoje, a resolução do conflito armado tem de ser político, a Paz é o objetivo imediato. Mas não uma paz qualquer. Uma paz que assegure uma base democrática mínima que permita assegurar conquistas alcançadas pelos trabalhadores e pela guerrilha nas zonas por si controladas. Uma paz que reconheça as Zonas de Reserva Campesina, consagradas em lei, mas cuja implementação o Estado colombiano constantemente repele. Uma paz que assegure condições de trabalho e de vida digna, não apenas para as populações campesinas e indígenas, desde sempre abandonadas pelo Estado, mas para todos os colombianos. Uma paz que permita desenrolar a luta, no plano político-institucional, daqueles que desde sempre pugnaram, desde as montanhas, por uma Colômbia livre da exploração do Homem pelo Homem. Uma paz que permita que as comunidades campesinas e indígenas possam continuar a organizar-se e a organizar, sob a égide de organizações representativas da sua classe, o espaço onde vivem e trabalham. Uma paz que não entregue o solo, subsolo e recursos naturais à agroindústria e à agromineria. Uma paz que não criminalize quem sempre trabalhou o solo e subsolo colombianos e de cuja exploração depende, que permita o desenvolvimento destas áreas, com um enfoque territorial. Uma paz que permita aos campesinos que são obrigados a recorrer ao plantio de cultivos ilícitos, as condições para que possam gradualmente diversificar os seus cultivos. Uma paz que permita ao povo colombiano aceder à saúde, educação, trabalho e casa. Uma paz sem paramilitares, sem assassinatos, sem perseguições políticas. Uma paz que reconheça o direito à rebelião. Uma paz que não entregue a Colômbia nas mãos do capital financeiro.
No Acordo Geral que hoje se negoceia em Havana, está incluído um preâmbulo no qual se expuseram os critérios principais que deram origem às atuais negociações de paz. Nele, explicita-se a necessidade de participação de toda a sociedade na construção de uma paz duradoura e estável, assim como o necessário desenvolvimento económico com justiça social e em harmonia com o meio ambiente. Donde estamos ahora, el suelo que estamos pisando, el subsuelo, este sitio mismo donde estamos hablando, fue comprado por una multinacional, para extracción del oro. Y cuando lo compraron sabían que este es un área controlada por nosotros. A paz terá, assim, de assegurar as condições mínimas para que não apenas povos campesinos e originários possam organizar-se e organizar as suas comunidades, mas igualmente para que possam resistir sem medo ao avanço do capital estrangeiro. E exigir as terras que desde sempre lhes permitiram sobreviver.
As FARC-EP sabem que a mudança de um modo de organização socioeconómico para outro não passa por uma assinatura. A Colômbia pós-acordo não será uma Colômbia pós-conflito. O conflito armado poderá terminar, mas o conflito social, a luta de classes que lhe subjaz, prossegue. E os guerrilheiros que, hoje, nas montanhas heroicamente lutam e resistem, prosseguirão a luta e resistência política numa Colômbia pós-acordo.
A burguesia colombiana, historicamente, sempre traiu os compromissos que havia assumido com o povo colombiano e com as insurgências, Por eso, nosotros, las FARC-EP, hablamos de dejación de armas, y no de entrega de armas.
Uma paz que, certo, interessa a uma parte da burguesia colombiana e estrangeira, ávida de explorar solo, subsolo e mão-de-obra colombiana, mas que terá de enfrentar um povo com uma experiência organizativa e de resistência de mais de 50 anos.
Dile a los compañeros que aquí estamos, aquí seguimos, resistiendo y luchando por un mundo mejor.
Aqui o digo, Comandante, aqui o escrevo, As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-Exército do Povo aí estão, resistindo e lutando por um mundo melhor, por uma paz com justiça social!