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mapucheMapuche - ADITAL - [Andrés Figueroa Cornejo] Em seus 30 anos, Ignacio Astete Nahuelcoy preside o partido político chamado junto a outras forças a conquistar o estatuto autonômico de todos os habitantes do território mapuche no país chileno.


Foto: militantes mapuches.

Nasceu na comunidade de Saavedra, da região de Araucanía, território Lafquenche e é licenciado em Contabilidade e Finanças pela Universidade de Havana, Cuba. Ele relata sua dirigência estudantil na Universidade de La Frontera do Chile e explica que "Wallmapuwen ('cidadão do país mapuche', de todos os que habitam nele) é um movimento autonomista que está situado no território de Wallmapu ('país mapuche'), que se encontra sob a dominação do Estado do Chile desde pelo menos 1885, durante a chamada "Pacificação de Araucanía". Ela não foi mais do que a ocupação e usurpação de um território que até esse momento pertencia à soberania do povo Mapuche", e acrescenta que "o Wallmapuwen nasceu há uma década (2005) e tem como missão exercer o direito à autodeterminação e ao direito à autonomia que nos assistem como povo. O objetivo é conquistar a administração mapuche seu lugar no mundo, com todas as características que o território tem hoje. Seu funcionamento interno é simples, efetivo e democrático. Conta com uma mesa diretiva horizontal, eleita na Assembleia Geral dos seus membros, assim como também são resolvidas dessa maneira suas políticas principais e públicas. A assembleia manda. Existem comitês comunitários descentralizados, com plena capacidade de decisão".

Vocês partem de uma análise concreta da situação real do território?

"Certamente. Por isso também nosso movimento dá conta de que o território está ocupado não só por mapuches, mas também por outros povos, como o chileno. De tal manera, consideramos que os direitos coletivos de ambos os povos devem estar em igualdade de condições".

"Somos uma força anticapitalista"

Qual é a diferença do instrumento Wallmapuwen com relação a outras iniciativas políticas existentes no território mapuche em resistência?

"Não existe outro movimento que participe das eleições e que se assenta no território mapuche. Somos a única organização política que reclama a partir do campo eleitoral um território autonômico de administração própria. Outra diferença é que nós reivindicamos um território para todos aqueles que o habitam, tanto para mapuches como para chilenos. Para o restante dos partidos do sistema político, os mapuche só são o fator indígena. O Wallmapuwen é um instrumento que se distancia dos guetos políticos e que persegue que ambos os povos, mapuche e chileno, que têm vivido separados pela confrontação, possam enxergar-se como habitantes de um mesmo lugar e capazes de conviverem respeitosamente".

O que ocorre com as versões políticas provenientes apenas do nacionalismo que, por razões históricas, oriundas da opressão de um Estado em qualquer parte do planeta, aparece como fundamento exclusivo para a libertação?

"A identidade de nação existe, por certo. No entanto, nossa visão da nação é democrática. Nosso horizonte de sentido é o aprofundamento e radicalização da democracia. Não podemos nem queremos negar o outro. Pelo contrário. Não falamos do não-mapuche, falamos do chileno. Não partimos da exclusão. Em nosso território, há mapuche e chilenos em todos os âmbitos da vida, e compartilhamos a vida. A partir dessa realidade instransponível, nós expressamos o princípio da autonomia. Evidentemente, há conflitos com determinadas pessoas e sujeitos chilenos, mas a imensa maioria da população não tem esse conflito. Constatamos em nossa dia a dia que existe um Wallmapu que tem mudado."

Mas o acento está posto no povo Mapuche, obviamente...

"Temos sido objeto de racismo, criminalização e empobrecimento pelo Estado chileno. Somos os mais castigados entre os castigados em nosso próprio território. Estamos submetidos econômica, cultural, política e militarmente. É nesse marco básico que reconhecemos a coabitação e inclusão de dois povos, mas sob os mesmos direitos. E somos respeitosos dos direitos humanos e dos direitos cidadãos de todos. Por isso, não podemos elevar uma proposta que afaste o chileno que vive conosco. Seria um contrassenso. Sobretudo, porque a maioria dos chilenos que habita o território sofre nossos mesmos problemas: pobreza, insalubridade e discriminação".

Ou seja, vocês sustentam uma perspectiva analítica que revela as formas de dominação global e não só do povo Mapuche...

"Não estamos alheios ao movimento do capitalismo mundial e aos seus efeitos nefastos no Chile. Não estamos alheios aos golpes sistemáticos recebidos pelo povo trabalhador em geral. O Wallmapu é vítima do capitalismo promotor da miséria, da dispersão do nosso povo e da morte. Estamos contra a invasão da indústria florestal e do conjunto de projetos hidrelétricos e termelétricos que só deterioram ainda mais nossas péssimas condições de vida de mapuche e chilenos. Somos parte das relações sociais impostas pela totalidade do capitalismo. Por isso, também somos uma força anticapitalista."

O combate cultural

Qual é o programa do Wallmapuwen?

"Transformar a paisagem do Wallmapu a partir das bases. Atualmente, estamos empenhados em enfrentar as eleições municipais do fim de 2016, como partido político legalizado, sem necessidade de armar alianças que nos obriguem a abrir mão de aspectos fundamentais do nosso projeto. A ideia de ganhar comunidades tem a ver com a promoção de direitos a partir de todos os espaços possíveis. Já obtivemos experiências, por exemplo, na comuna de Galvarino, da Província de Cautín, 9ª região, que a consagramos como o primeiro município bilíngue do Wallmapu e do Chile (comunicação formativa da língua mapudungun, 'o falar da terra'). Temos realizado campanhas com a finalidade de que o intendente declare toda a região de Araucanía como bilíngue. O anterior tem como contexto geral de nossas lutas que o Estado chileno entenda de uma vez por todas que não somos um peça econômica a mais da sua estratégia e hegemonia. É irrisório que o núcleo central do Wallmapu seja um dos territórios mais empobrecidos do Chile e, ao mesmo tempo, ali esteja encravada a indústria florestal, uma das formas de saque que mais dividendos reporta ao Produto Interno Bruto do país, logo após o extrativismo minerador. Isso debe terminar."

E politicamente?

"O Wallmapu deve converter-se em um território de decisão. Através de um processo constituinte, lutamos para que a Constituição dê conta de um país que, na realidade, é plurinacional e plurilinguístico. Em nosso instrumento político, não temos receitas nem modelos, mas sim sabemos que o conjunto da população do Wallmapu tem que definir qual será sua Carta Fundamental, que rija democrática e participativamente o território. Também estimamos que no Wallmapu deve ser realizada uma reforma agrária geral, que retorne para nós todos os territórios usurpados, tanto os arrebatados durante a invasão espanhola, como a terra das comunidades campesinas que, atualmente, sofrem uma situação de marginalização. Apontamos para a soberania alimentar, para que também os pequenos produtores chilenos sejam beneficiados."

Por que institucionalizar a luta autonômica política mediante a constituição de um partido legal?

"Porque através de uma ferramenta política pretendemos potencializar as demandas sociais e autonômicas. O partido nunca pode ser um fim em si mesmo. Seu objetivo está ligado à colaboração com a libertação das forças sociais para as reivindicações pleiteadas, não para cooptá-las. O Wallmapuwen propõe ser como um dinamizador a mais do movimento popular territorial. De fato, o Wallmapuwen se coloca a serviço do movimento popular. Dessa matriz saem as possíveis alianças com todos e todas que creem em um Wallmapu livre, autônomo e soberano. Assim tem sido até ahora e assim será no futuro."

Em que avanços concretos para o território tem colaborado, substancialmente, o Wallmapuwen?

"Temos colaborado com as conquistas associadas à determinação da comissão de descentralização presidencial do Chile, para que qual o Wallmapu se transforme, como possibilidade, em um território autonômico distinto do restante do território chileno. Nós fizemos parte dessa discussão e dessa conquista, inclusive, mais além de que se converta em uma realidade ou não amanhã. Também temos feito parte de um movimento amplo que busca a oficialização da língua mapuche, da oficialização do mapudungun. Devemos destruir o apartheid e a exclusão da cultura e identidade próprias mediante o ensino e difusão da nossa língua. Isso é o que está ocorrendo na comunidade de Galvarino, precisamente. Por outro lado, em 20 de fevereiro de 2015, no marco do Dia Internacional da Língua Materna, realizamos uma marcha de 2 mil pessoas para reivindicar ao intendente regional a oficialização do mapudungun. Nossa mensagem é dirigida ao Executivo para que prime por seu entendimento."

A solidariedade internacional

E o internacionalismo do Wallmapuwen?

"Sempre enxergamos e nos alimentamos das lutas de outros povos do mundo, que são referências obrigatórias das resistências autonômicas, como o País Vasco, a Catalunha, a Palestina, Kurdistão, o povo do Saara Ocidental. Seus lutadores nos inspiram porque sabemos que nós não estamos inventando a roda. Desses povos trazemos para nós o melhor de suas resistências. Em particular, em matéria do combate pela oficialização da nossa língua, com o País Vasco sempre tivemos uma proximidade fraterna e solidária."


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